RJ: bebê de 1 ano morre em hospital à espera de transferência
Menino Gael Aguiar tinha leucemia, hepatite e Covid-19 e estava internado no Albert Schweitzer. Hospital não cumpriu decisão da Justiça
atualizado
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Rio de Janeiro – Gael Aguiar da Silva Souza, um bebê de 1 ano e 3 meses, morreu no Hospital municipal Albert Schweitzer, em Realengo, na zona norte do Rio Janeiro, na segunda-feira (24/1). A criança aguardava uma transferência para outra unidade de saúde, que havia sido determinada pela Justiça.
O menino foi levado pela família ao hospital três vezes e acabou sendo liberado em todas. Na quarta aparição pela emergência da unidade de saúde, no dia 17/1, a criança foi internada com suspeita de leucemia, hepatite e testou positivo para Covid-19.
Mãe de Gael, a autônoma Jéssica Aguiar dos Santos, ficou preocupada quando o menino começou a apresentar febre repentinamente. Na primeira visita ao Albert Schweitzer, o diagnóstico foi de infecção intestinal. No entanto, mesmo medicado, Gael não apresentou melhoras, o que levou a mãe a retornar ao hospital com a criança.
Na segunda vez, o parecer dos médicos foi de uma virose e o menino foi liberado novamente. Já na terceira ida à unidade, foi constatado uma anemia após exames de sangue e urina, e Gael foi liberado.
Menos de dez dias depois, a criança começou a apresentar inchaço na barriga e uma quarta tentativa de atendimento foi feita na segunda-feira (17/1), quando ele foi internado. Gael já apresentava alterações no fígado.
Justiça determinou transferência
Ao Globo, a família afirmou que, apesar de tudo, o menino estava bem e sorridente quando foi direcionado para o quarto de enfermaria. No dia seguinte, no entanto, foi diagnosticado com Covid-19 e precisou ser transferido para o Centro de Tratamento Intensivo (CTI).
Na quarta-feira (19/1), médicos informaram que Gael precisaria ser transferido para um local que tivesse leito de emergência pediátrica com especialidade em hematologia.
“A essa altura, ele tinha, pelo que nos falaram, suspeita de leucemia e de hepatite, além da questão da Covid-19. Mas, apesar da necessidade que os próprios profissionais anunciaram, não se mexeram para fazer a transferência. É um absurdo”, reclama a autônoma Tainara da Silva Araújo, de 22 anos, tia de Gael.
Tainara procurou a Defensoria Pública para tentar que o sobrinho fosse transferido por determinação judicial. Na sexta-feira (21), a juíza Luciana de Oliveira Leal Halbritter determinou a transferência imediata de Gael, sob a pena de multa de R$ 2 mil por hora no caso de descumprimento.
“Quando voltei lá, no sábado, ele não tinha sequer sido incluído na fila para transferência. Só fizeram isso depois que eu acionei a polícia. Só que no dia seguinte um médico falou que já não era possível transferir meu sobrinho, porque o quadro era muito delicado e havia risco de morte. Mas só foi assim porque não resolveram o problema antes. Esperaram agravar. Não fosse por isso, o Gael poderia estar vivo agora, recebendo o tratamento adequado”, declarou Tainara ao Globo.
Três paradas cardíacas
Gael sofreu três paradas cardíacas na manhã dessa segunda-feira (24/1) e não resistiu. Na certidão de óbito do menino, constam como causas “choque não especificado, síndrome inflamatória multisistêmica e pneumonia devido à Covid-19”. A família, entretanto, segue sem entender ao certo como tudo aconteceu.
Em nota ao Metrópoles, a direção do Hospital Municipal Albert Schweitzer confirma que Gael foi atendido nos dia 9, 12 e 15 de janeiro e que recebeu diagnóstico de gastroenterite e infecção urinária. A unidade também afirma lamentar o falecimento do bebê e se diz à disposição dos familiares para quaisquer esclarecimentos.
O corpo do menino será sepultado na manhã desta terça-feira, no Cemitério Jardim da Saudade, em Paciência. Uma vaquinha online busca arrecadar dinheiro para ajudar a família a custear o enterro.