Rivaldo premiou delegado para impedir solução do caso Marielle, diz PF
Ex-chefe da PCRJ e suspeito de mandar matar Marielle, Rivaldo Barbosa teria promovido delegado Giniton Lages para não investigar o crime
atualizado
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Ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa (na foto à esquerda) teria “premiado” o delegado Giniton Lages (à direita) por não avançar na investigação do caso Marielle. Segundo relatório da Polícia Federal (PF), Lages ganhou uma promoção incomum, faltando quatro dias para o fim da intervenção federal no Rio de Janeiro.
Barbosa atuou como chefe durante a intervenção, mesma época em que a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram executados a tiros. Ele é apontado como um dos mandantes do crime.
De acordo com a PF, Rivaldo ajudou a atrapalhar as investigações a ponto de premiar o delegado Giniton Lages, que cuidava do inquérito, por ter impedido a conclusão do caso.
“Giniton Lages cumpriu à risca a missão que lhe fora outorgada, sobretudo por suas condutas terem sufocado diversos meios eficazes de obtenção de prova, que, agora, não mais podem ser alcançados pela persecução penal”, escreveu a PF em trecho do relatório.
Promoção atípica feita por Rivaldo
Segundo o relatório da PF, o delegado Giniton Lages foi promovido para a 1ª classe em dezembro de 2018, quatro dias antes do término da intervenção federal na Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro.
Para a PF, essa promoção foi atípica, pois Lages teria pouco tempo de polícia, um caso de grande repercussão sem resolução e incompatibilidade de histórico funcional. Segundo a delação do ex-PM Ronnie Lessa, o incentivo teria sido um prêmio de Rivaldo para Lages.
Além disso, durante depoimento para a PF em outubro, o ex-secretário de segurança da intervenção, general Richard Nunes, informou que, ao receber a lista com os nomes dos delegados que seriam promovidos para a 1ª classe, o então chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa, comentou que não era comum a promoção de um delegado “no meio da resolução de um caso”.
Mesmo assim, Rivaldo não vetou o nome de Lages em reunião do Conselho Superior de Polícia, e o general “bancou a promoção”. Ambos tinham esse poder de veto, na ocasião. Para a polícia, Rivaldo tentou ludibriar o próprio general quatro estrelas.
Sabotagem da investigação
De acordo com a PF, em vez de buscar uma linha de investigação que partisse de provas técnicas e concretas, a Delegacia de Homicídios do Rio “enveredou pela construção de uma linha calcada em premissas absolutamente movediças”.
A Polícia Civil do Rio teria movido todo o aparato estatal para atribuir o crime a pessoas que não o cometeram, promover o desaparecimento de evidências e negligenciar a colheita de provas objetivas, segundo a PF. Foi Lages quem tentou emplacar a culpa do crime em Marcelo Siciliano e Orlando Curicica, mas eles não eram os verdadeiros culpados.
Além do delegado, foram presos no domingo (24/3), por suspeita de serem os mandantes da morte de Marielle, o deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ) e o irmão dele, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio.
Segundo as investigações, os três foram os mandantes do crime. Já os executores foram o ex-PM Ronnie Lessa, que atirou contra o carro da vereadora, e o também ex-PM Élcio de Queiroz, que dirigia o carro com o atirador no momento do crime.
A reportagem tenta contato com as defesas de Rivaldo Barbosa e Giniton Lages. O espaço segue aberto.