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Rivaldo manda recado para a família de Marielle em depoimento ao STF

O delegado de Polícia Civil disse ratificar tudo o que disse à mãe de Marielle no dia em que a abraçou: “Disse que a polícia ia trabalhar”

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Imagem colorida do delegado Rivaldo Barbosa em depoimento no caso Marielle
1 de 1 Imagem colorida do delegado Rivaldo Barbosa em depoimento no caso Marielle - Foto: Reprodução

Após dois dias de interrogatório ao Supremo Tribunal Federal (STF) em um total de oito horas de fala, o ex-chefe da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa de Araújo mandou recados para a família da então vereadora Marielle Franco. No fim de seu depoimento, ele disse ratificar tudo o que disse à família da vereadora quando os abraçou na sala de chefe de polícia: “Eu disse que a polícia ia trabalhar e trabalhou. Tenho certeza que ainda vamos nos encontrar. A verdade vai aparecer”, enfatizou emocionado.

Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, foi preso em março deste ano sob a suspeita de travar as investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes. Quando encontrou com os pais de Marielle, ele prometeu que solucionaria o caso.

No dia 16 de abril de 2018, cerca de um mês após os assassinatos, Rivaldo recebeu a família de Marielle para uma reunião. Estavam presentes os pais de Marielle, Marinete e Antônio; a viúva de Marielle, Monica Benicio; e Luyara, filha de Marielle. Em fotos da reunião, Barbosa aparece ao lado dos pais de Marielle, em um sofá.

Rivaldo Barbosa assumiu a chefia da Polícia Civil apenas um dia antes do assassinato de Marielle. Ele foi nomeado ao cargo pelo então interventor na segurança do Rio de Janeiro durante o governo Temer, general Braga Netto. No governo Bolsonaro, Braga Netto seria ministro da Defesa, da Casa Civil e vice na chapa de Bolsonaro à reeleição em 2022.

O delegado dava diversas entrevistas prometendo investigar o caso a fundo. “Nós estamos no caminho certo. A complexidade está na forma de atuação dos assassinos. Mas a gente está fazendo de tudo para esclarecer essa atividade criminosa”, disse em abril de 2018, conforme mostrou a Coluna de Guilherme Amado, do Metrópoles.

Em dezembro daquele ano, afirmou: “Toda a investigação é cercada de sigilo e estratégia. O que a gente tem feito hoje é uma ação estratégica ligada ao crime da morte do Anderson e da Marielle. O sigilo é importante. Se eu falar alguma coisa, eu estrago a estratégia. O que a gente pode dizer para a sociedade é que nós estamos trabalhando muito”.

Interrogatório

Durante sua longa participação na oitiva do STF, Rivaldo manteve suas versões de ser inocente e de não ter participado de qualquer etapa do crime que levou à morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, em 2018. O delegado se manteve firme nos posicionamentos de que não conhecia os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, nem sequer Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle.

O delegado voltou a criticar as investigações que levaram à sua prisão, em março deste ano, assim como as alegações de ter obstruído ou dado suporte para que o assassinato da vereadora ocorresse. Fez críticas ainda à postura dos policiais federais que fizeram a operação de busca e apreensão em sua casa, no Rio de Janeiro.

Emocionado, Rivaldo disse que sempre foi respeitoso nas operações que realizou ao longo dos seus mais de 30 anos de carreira policial, mas que a Polícia Federal, nas palavras dele, não agiu assim: “A Polícia Federal, no momento de busca e apreensão, não respeitou nem a minha mulher. Mandou ela sair do quarto de baby-doll, ficar assim na frente do porteiro e dos moradores. Vou chamar a atitude deles de falta de sensibilidade, para não ir além”, reclamou Rivaldo ao longo do depoimento.

Ainda segundo ele relatou no interrogatório, o policial o chamou em um canto e teria dito: “O ministro Alexandre de Moraes mandou te prender”.

“Injustiçado”

Em delação premiada, Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle, afirmou que Rivaldo teria usado seu poder de então chefe da Polícia Civil do Rio para proteger os mandantes do assassinato e garantir que o crime não fosse solucionado. O deputado federal Chiquinho Brazão e o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro Domingos Brazão são apontados como mandantes.

No depoimento de Rivaldo, que começou nesta quinta-feira (24/10), o delegado chorou, se emocionou, se disse injustiçado e colocou Marielle como uma amiga. Ele narrou que a vereadora era sua amiga, que o ajudou a subir na carreira, que “sorria com dentes brancos que contrastavam com sua pele morena” quando conversava. Ele negou veementemente conhecer Lessa ou os irmãos Brazão, apontados pelo executor como mandantes do crime.

“Eu não mato nem uma formiga, vou matar uma pessoa? Marielle me ajudou na vida. Só cheguei aqui porque ela me ajudou. Jamais faria nada contra ela”, disse o delegado no depoimento.

Rivaldo é o terceiro réu a ser interrogado pelo gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do STF, na ação penal em que Chiquinho, Domingos, Rivaldo e Ronald Paulo são acusados dos crimes de homicídio qualificado, no caso de Marielle e Anderson, e por tentativa de homicídio no caso de Fernanda Chaves, assessora da vereadora que estava no carro no momento do ataque.

Além disso, Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe, responde, junto com os outros, por organização criminosa. Todos foram tornados réus pela Primeira Turma do STF sob a suspeita de planejar o assassinato da vereadora Marielle Franco em 2018.

Transferência

Rivaldo Barbosa também reclamou de sua transferência do presídio de Brasília para a penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Disse que todo esse trâmite o atrapalhou e que não era necessário.

As investigações da Polícia Federal apontam que o delegado Rivaldo usou de sua autoridade como então chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro “para oferecer a garantia necessária aos autores intelectuais do crime de que todos permaneceriam impunes”.

Rivaldo Barbosa foi acusado após a delação premiada de Ronnie Lessa, no ano passado, em que o autor do crime afirma que o delegado teria garantido aos irmãos Brazão que eles ficariam impunes.

Segundo relatou Lessa, os irmãos incluíam Rivaldo Barbosa “claramente como parte integrante do plano”. Lessa narra situação em que Macalé, interlocutor dos mandantes do crime, faz o seguinte comentário:

– Pô, padrinho. Se eu soubesse que o sr. tinha esse contato, eu não tinha nem sido preso. Foi a equipe do Rivaldo que me prendeu…
– Pô, negão. Tu não se comunica, cara. O Rivaldo é nosso. Ele segura tudo lá, sem aval dele ninguém faz nada.

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