Risco de morte: como foi a 1ª década do serial killer de GO na prisão
“Se misturar com outros presos, ele morre. Tem que ter muito cuidado”, diz representante dos servidores do Sistema de Execução Penal de GO
atualizado
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O vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, de 36 anos, conhecido como o serial killer de Goiânia (GO), completa nesta segunda-feira (14/10) os primeiros 10 anos de prisão. Ele foi condenado a quase 700 anos, em regime fechado, por mais de 30 assassinatos e outros crimes, como assaltos a estabelecimentos comerciais.
Apesar da condenação expressiva, ele pode ser solto quando atingir os 30 anos preso, o que ocorrerá em 2044, pois esse é o limite de pena máximo expresso pela lei brasileira, referente ao período em que os crimes ocorreram. Nessa primeira década na prisão, o matador foi colocado em cela isolada, sem contato com nenhum detento. Caso contrário, ele poderia morrer, já que ameaças não faltaram.
Tiago está preso no Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, considerado a unidade de segurança máxima do Sistema de Execução Penal do Estado de Goiás. Nesse período, ele foi submetido a uma rotina diária de 22 horas de isolamento na cela e duas horas de banho de sol, sem presença de outros presos.
“Ele tem que ficar isolado, porque se misturá-lo com outros presos, ele morre. Tem que ter muito cuidado, pois é um caso muito melindroso. É uma responsabilidade muito grande. Apesar de ser um criminoso contumaz e repugnante, nós somos o Estado, e o Estado tem que preservar a integridade e vida dele”, diz Maxsuell Miranda das Neves, presidente do Sindicato dos Servidores do Sistema de Execução Penal do Estado de Goiás.
Ameaças de morte desde o princípio
Desde o dia em que pisou no presídio, pela primeira vez, em 2014, o serial killer recebe ameaças de morte. Maxsuell conta que quando ele foi transferido para o Núcleo e adentrou o corredor da ala, os presos começaram a bater nas grades, falando que iriam matá-lo. Nessa hora, Tiago chegou a revidar e reagiu às provocações, dizendo que não tinha medo de ninguém e que também iria matar.
Ao ser submetido à análise psiquiátrica da Junta Médica do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), meses após a prisão, o serial killer chegou a mencionar que poderia matar o vizinho de cela:
“Vou pegar aquele cara”. Questionado sobre a quem se referia, respondeu: “Da cela lá”. “Ele fala demais”. Questionado se não está sozinho na cela, respondeu: “Tá do lado”, diz o texto do laudo final.
Em dezembro de 2020, durante a pandemia da Covid-19, a administração do sistema prisional tentou transferi-lo para o interior do estado. O serial killer chegou a ser levado para Nova Crixás (GO), a 383 quilômetros de Goiânia, mas o transporte foi cancelado no mesmo dia, após denúncia feita pelo sindicato liderado por Maxsuell.
Ele conta que os policiais penais o procuraram para relatar o caso, temendo o que poderia acontecer. Tiago seria levado para uma unidade que não oferecia a mesma segurança que o Núcleo de Custódia e, por isso, poderia ser morto e até fugir. “Se acontece alguma coisa com ele, o policial penal que está no plantão é quem terá de responder por isso. É notícia internacional”, afirma Maxsuell.
Cartas, visitas e intenção de escrever um livro
Após a descoberta da identidade do homem que vinha matando mulheres em Goiânia, em 2014, o caso ganhou repercussão fora do país e atraiu a atenção do público estrangeiro. Isso ficou evidente, por exemplo, na quantidade de cartas que Tiago passou a receber na prisão. Até hoje, ele recebe, mas em quantidade bem menor.
Nos primeiros anos, pessoas de várias partes do mundo tentaram entrar em contato com o serial killer. Isso, quem conta são os servidores da unidade prisional e pessoas que o visitam com mais frequência, como padres e pastores que fazem trabalhos de evangelização na penitenciária. A mãe e o irmão de Tiago, que continuam morando em Goiânia, também o visitam, às vezes.
Em 2017, três anos após a prisão, o matador chegou a se preparar para lançar um livro contando a própria história, com a ajuda do padre Luiz Augusto Ferreira da Silva, que lidera hoje a paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, no Setor Expansul, em Aparecida de Goiânia. O título seria: “Tiago Rocha – Um pouco da história por trás de um serial killer”.
O livrou já estava com a capa pronta, mas, diante da repercussão negativa, após descoberta da imprensa e total indignação dos familiares das vítimas assassinadas por Tiago, o padre recuou e o projeto foi cancelado.
Cada vez mais silencioso
Hoje, 10 anos após a prisão, Tiago é considerado um preso silencioso, que conversa e interage cada vez menos, inclusive com os policiais penais. As ameaças contra ele, segundo Maxsuell continuam e, com o tempo, o serial killer parou de revidá-las. “O sonho dos presos é botar a mão nele. Se isso acontecer, não dura 30 segundos”, relata.
Um outro cuidado tido pela vigilância é quanto à possibilidade de que Tiago faça algo contra a própria vida. Numa das primeiras sessões judiciais, presidida pelo juiz Jesseir Coelho de Alcântara, foi encontrada dentro da cueca do matador uma escova de dente pontiaguda, afiada por ele dentro da cela. “Com boa intenção, ele não estava”, diz o magistrado.
O laudo psiquiátrico concluiu que Tiago tem Transtorno de Personalidade Antissocial, tem consciência do que fez, é de altíssima periculosidade e com tendência natural em reincidir nos crimes já cometidos, ou seja, ele tende a matar mais.