metropoles.com

Risco de apagão: especialistas criticam falta de comunicação do governo

Transparência também é criticada. “Quem sabe que o governo paga para quem reduzir o consumo?”, reclama especialista

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
iStock
apagão3
1 de 1 apagão3 - Foto: iStock

Vinte anos depois da crise do racionamento no setor elétrico, o país enfrenta a mais grave crise hídrica em 91 anos, com temores de imposição de novas cotas de consumo de energia ou apagões. Para minimizar as chances de faltar luz, o governo Bolsonaro adotou medidas semelhantes às realizadas contra a instabilidade em 2001: economia de energia em órgãos públicos federais e recompensas pela redução voluntária de consumo.

O ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, tem negado chance de racionamento. Mas especialistas entrevistados pelo Metrópoles criticam a falta de transparência nas decisões do governo e a comunicação falha sobre os riscos enfrentados pela população.

“O governo federal está comunicando mal o problema. Se quer conseguir o apoio do consumidor residencial para economizar, ele tem que ser mais bem informado do que está acontecendo. Quem sabe que o governo paga para quem reduzir o consumo? Ninguém sabe. Não tem campanha sobre isso”, afirmou Luiz Augusto Barroso, presidente da PSR consultoria.

Ex-diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata Ferreira avalia que o risco de apagões só será minimizado se ocorrer uma redução de consumo nos próximos meses. Por isso, diz ele, era necessário que o governo federal adotasse maior transparência sobre os riscos de falta de luz.

“É difícil sensibilizar a população para fazer redução voluntária sem explicações detalhadas”, avalia Barata Ferreira, que era assistente da diretoria de Planejamento e Programação do ONS na crise do racionamento de 2001.

De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o país enfrenta a maior falta de chuvas dos últimos 91 anos, o que tem encolhido o nível dos reservatórios de hidrelétricas, diminuindo o poder de geração de energia dessas fontes que respondem por 63,2% da capacidade instalada do país. A usina de Ilha Solteira, por exemplo, maior hidrelétrica de São Paulo, já está no volume morto, gerando menos do que teria capacidade em condições ideais.

Apagões iminentes

Como mostrou o Metrópoles, o ONS informou nesta quinta-feira (16/09) a representantes do setor elétrico que, no pior cenário da crise hídrica, podem faltar 1,4 Gigawatts (GW) de potência em novembro, dificultando que seja suprida a demanda energética do país. Isso significa que, caso esse pior cenário se concretize, podem ocorrer apagões, embora o risco tenha diminuído desde maio, quando era projetado o déficit de 12,7 GW para novembro em momentos de pico.

O governo é criticado por não ter enfrentado a crise hídrica mais cedo, compensando o esvaziamento de hidrelétricas. Só em maio foram acionadas todas as termelétricas possíveis, com o objetivo de preservar os reservatórios das hidrelétricas.

Entre as medidas apontadas pelos especialistas como exemplos de comunicação falha, está o anúncio pelo governo federal de uma recompensa na conta de luz para consumidores residenciais e pequenos negócios. Trata-se de um desconto de R$ 0,50 por kWh para quem reduzir o consumo entre 10% e 20% durante o período de setembro a dezembro deste ano, em relação ao mesmo intervalo do ano passado. Se o consumo cair nesse período acumulado, dentro da meta de 10% a 20%, o governo diz que creditará o desconto proporcional na conta de janeiro de 2022.

Indústrias e transparência

Para indústrias, o governo também anunciou no fim de agosto um programa de estímulo à economia voluntária de energia, em troca de uma bonificação. No mês de setembro, o ONS obteve uma economia de 1,15% no consumo de energia da indústria nos horários de pico, uma redução de 237 MW médios por hora.

“Desde o princípio da crise, falamos que a indústria podia contribuir. Tem que ter três princípios para isso: participação voluntária, processo simples e atrativo. A oferta de 237 MW médios por hora pela indústria, em setembro, mostra que conseguiram achar uma fórmula. É como se o governo estivesse comprando aquela energia”, pondera Fillipe Soares, diretor-técnico da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace).

No entanto, para além da falta de engajamento da população no programa de economia voluntária, Maurício Tolmasquim, professor da Coppe/UFRJ e ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), analisa que a pouca transparência também impediu que a população decidisse qual era a opção mais econômica: recorrer a termelétricas que encarecem a conta de luz ou, ele propõe, ter feito uma economia compulsória em escala menor, algo equivalente a 5% do consumo mensal. Na crise de 2001, o racionamento impôs uma economia compulsória de 20% aos consumidores, para que não houvesse falta de luz.

“Menos de 5% de redução de consumo já daria para afastar os riscos atuais. Como é pouco, talvez as pessoas absorvessem isso. Não estou falando que isso seria o ideal, nem melhor. Mas deveria ter sido estudado”, afirma Tolmasquim.

Ele também avalia que medidas de redução do consumo deveriam ter sido lançadas há cinco meses. “Não é só a hidrologia que explica o problema. Houve um problema de gestão também: tanto do lado da oferta quandoda demanda. Agora estão tentando segurar água nos reservatórios, botando termelétricas para operar. Fizeram isso com vários meses de atraso”, afirma o ex-presidente da EPE.

Sem considerar todas as medidas adotadas pelo governo, Barroso, presidente da PSR consultoria, tinha calculado que, no fim de agosto, existia um risco de 20% de racionamento, entre outubro e dezembro deste ano. Para o mesmo período, havia estimado que a chance de apagões era de 30%.

No entanto, depois de medidas como o início da operação da termelétrica de Açu, no norte fluminense, e das termelétricas de Uruguaiana e Cuiabá, programadas para os próximos meses, ele estima que o risco de racionamento caiu para 1% e que o risco de apagão diminuiu para 4%.

“Se o governo executar bem a antecipação dessa oferta de termelétricas e fizer uma operação para transferir mais energia do Nordeste para o Sudeste e o Centro-Oeste, a gente passa de ano e tudo isso vira um grande susto”, avalia o consultor.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?