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Riqueza do Norte, cupuaçu finalmente é considerado “fruta domesticada”

Segundo pesquisa, cupuaçu sofreu domesticação há pelo menos 8 mil anos por povos originários que habitavam a região da Amazônia

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1 de 1 Imagem colorida de cupuaçu em uma árvore - Metrópoles - Foto: Reprodução/Andres Vargas Gomez

O cupuaçu, iguaria predominante na Amazônia, entrou para o rol de frutas domesticadas — plantas que foram modificadas pela ação humana —, de acordo com recente descoberta de pesquisador da Universidade de São Paulo (USP).

Anteriormente, era consenso que o cupuaçu era um fruto “nativo”, sem traços de influência humana. No entanto, a pesquisa inédita mostra que, na verdade, ele foi domesticado há cerca de 8 mil anos, possivelmente por povos originários que habitavam a região do médio-alto Rio Negro, no Amazonas.

Por meio da genômica, ramo da genética que estuda o genoma completo de um organismo, o pós-doutorando Matheus Colli-Silva sequenciou o “DNA” do cupuaçu e conseguiu determinar que a domesticação do fruto amazônico começou há cerca de 8 mil anos. O pesquisador também contou com a colaboração de pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da USP, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena-USP) e do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE-USP).

Desta forma, foi possível cruzar dados da genética com evidências arqueológicas e históricas da região amazônica. Os pesquisadores acreditam que o processo de domesticação do cupuaçu se intensificou nos últimos dois séculos por influência da exploração da borracha na Região Norte e a desbravação (ocupação de terras e construção de estradas) do “inferno verde”, durante a ditadura militar no início dos anos 60.

Banana com sementes?

Você sabia que a banana que conhecemos hoje não é a “original”? Antes de ser alterada por seres humanos, a fruta tinha sementes. Outras conhecidas são: uva, batata, milho, melancia e cenoura.

Veja o “antes e depois” de algumas plantas:

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Melancia
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Banana

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Melancia

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Cupuaçu tem “pegada” indígena

“O cupuaçu é nosso”, afirma Colli-Silva. O pesquisador defende que o trabalho mostra evidências claras de que a fruta é brasileira e, ainda, foi criada por ancestrais que ocupavam o território, que ainda não era conhecido como Brasil.

“Hoje, ela não só é brasileira, como foi criada e tem história no território do Brasil. O cupuaçu é nosso”, explicou.

Ele reforça que essa descoberta pode dar um gás na economia do cupuaçu dentro e fora do país, contudo, de forma sustentável: “Ele é um exemplo de planta que tem potencial para economia local e internacional, alimentado, é claro, de modo sustentável”.

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Cupuaçu aberto
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O pesquisador Matheus Colli-Silva usou a genômica para descobrir as origens do cupuaçu

Arquivo pessoal
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Cupuaçu aberto

Reprodução/CiXel
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Reprodução/Getty Images

Ainda segundo Colli-Silva, um dos destaques da pesquisa é o fato de que os indígenas foram capazes de “criar elementos vegetais de uma maneira tão refinada” a ponto de o cupuaçu ser considerado uma espécie “nativa”.

“O projeto vai além de estudar uma espécie que está dentro de um contexto maior. Também estamos estudando a Amazônia Brasileira”, afirma.

Para ele, pesquisas desse tipo podem mostrar, por exemplo, que a mandioca e açaí compartilham de uma história parecida com a do cupuaçu. Isso dentro dos seus respectivos contextos.

Cupuaçu japonês?

Fruto de grande importância na economia do Brasil, o cupuaçu já foi palco de disputa com o Japão. No início dos anos 2000, a multinacional japonesa Asahi Foods tentou registrar o nome do fruto amazônico como patente de um de seus produtos.

Caso o registro de marca fosse aprovado, a comercialização, em território japonês, de qualquer produto com o nome cupuaçu, como bombons, geléias, seria impedida por lei. Porém, esse assunto não andou para frente. Após ação movida por ONGs da Amazônia, o registro, concedido em 1998 à Asahi Foods, foi cancelado pelo Escritório de Marcas e Patentes do Japão.

As autoridades japonesas usaram como base a legislação prevista na Convenção da União de Paris, de 1883, e outros acordos multilaterais posteriores, que proíbe o uso de nomes de matérias-primas, animais ou vegetais, em produtos comercializados.

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