1 de 1 Milton Ribeiro, ministro da Educação durante evento no palacio do planalto
- Foto: Igo Estrela/Metrópoles
O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro afirmou que “pode ter conhecido” Ailson Souto da Trindade, empresário do setor da construção civil que alega ter recebido aval de Ribeiro para que contratos de obras federais de escolas fossem negociados em troca de propina para os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
Sobre o caso, o ex-ministro declarou: “A uma semana (da eleição) apareceu um empresário que eu posso ter conhecido. Tirei foto com muita gente. Inclusive, posso ter recebido ele lá no MEC. Mas imagina se eu, na presença de outras pessoas, eu ia fazer proposta para vir dinheiro dentro de roda de carro. É uma calúnia. Nunca pedi uma coisa dessas”. A afirmação foi feita em entrevista ao site Antagonista, nesta sexta-feira (23/9).
O ex-ministro é investigado por supostamente participar de um esquema de corrupção envolvendo pastores e distribuição de verbas no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) do MEC. Os líderes religiosos negociavam com prefeitos a liberação de recursos federais – mesmo sem ter cargos no governo.
Segundo Trindade, os pastores eram os responsáveis por propor os valores das transações, e chegaram até a escolher o pneu como esconderijo para o dinheiro.
Na entrevista, Ribeiro voltou a dizer que não tinha proximidade com os líderes religiosos investigados no inquérito.
“Sempre respeitei tanto o Arilton quanto o Gilmar pelo fato de eles serem pastores. Mas eu não tinha proximidade nenhuma, não os conhecia”, afirmou Ribeiro. “Esses pastores tinham alguns, que eu me lembre, ao menos dois ou três prefeitos que pertenciam à denominação deles (Assembleia de Deus – Ministério Cristo para Todos), lá no interior de cidades do Norte e Nordeste. E aí eles julgavam ou achavam que poderiam fazer essa intermediação.”
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Milton Ribeiro, nascido em 1958, é advogado, pastor, professor e teólogo brasileiro. Natural de São Vicente, em São Paulo, é ex-ministro da Educação do governo Bolsonaro
Isac Nóbrega/PR
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Antes de virar ministro, Milton Ribeiro já colecionava uma série de polêmicas. Em uma delas, postou no canal que tinha no YouTube palestra em uma Igreja Presbiteriana, em 2016. À época, afirmou apoiar o castigo físico em crianças
Rafaela Felicciano/Metrópoles
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“Essa ideia que muitos têm de que a criança é inocente é relativa. Um bom resultado não vai ser obtido por meios justos e métodos suaves”, disse. Segundo ele, as crianças “devem sentir dor”. Um dia após tomar posse no Ministério da Educação, no entanto, retirou o vídeo da plataforma e, mais tarde, afirmou nunca ter falado sobre o assunto
Reprodução/YouTube
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Em 2018, o ex-ministro afirmou que universidades incentivavam alunos a fazerem “sexo sem limites”. “Para contribuir ainda mais, em termos negativos, para o sexo veio a questão do existencialismo. Não importa se é com homem ou mulher”, disse. “É isso que eles estão ensinando para os nossos filhos na universidade”, completou
Reprodução/Redes Sociais
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Além disso, Ribeiro afirmou que universidades devem ser para poucos e que reitores de federais não podem ser “esquerdistas” ou “lulistas”. “Eu acho que reitor tem que cuidar da educação e ponto final, e respeitar quem pensa diferente. As universidades federais não podem se tornar comitê político de um partido A, de direita, e muito menos de esquerda”, relatou
Rafaela Felicciano/Metrópoles
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Durante a pandemia, Milton também criticou professores que defendiam a vacinação de crianças para o retorno das aulas. “Infelizmente, alguns maus professores fomentam a vacinação deles, que foi conseguida. Agora, querem a imunização das crianças. Depois, com todo o respeito, para o cachorro, para o gato. Querem vacinação de todo jeito. O assunto é: querem manter escola fechada”, disse
Isac Nóbrega/PR
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No fim de 2020, Ribeiro alegou que a nota do Enem de 2021 não poderia ser utilizada para o Sisu, Prouni ou Fies. Segundo ele, para ter acesso aos programas, era necessário utilizar notas de exames anteriores. Após manifestações contrárias, o Ministério da Educação negou as falas do chefe
Fábio Rodrigues/Agência Brasil
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Durante uma entrevista, Milton Ribeiro relacionou a homossexualidade a “famílias desajeitadas”. “Acho que o adolescente, que muitas vezes opta por andar no caminho do 'homossexualismo' (SIC), tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe”, afirmou
Isac Nóbrega/PR
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Em 2021, quando ainda era ministro, declarou que a inclusão de alunos com deficiências na mesma turma que alunos sem deficiências “atrapalhava o aprendizado dos outros, porque a professora não tem equipe e não tem conhecimento para dar atenção especial”. Segundo ele, “existem crianças com um grau de deficiência que é impossível a convivência”
Reprodução/Tv Brasil
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No início de 2022, um áudio onde Milton Ribeiro afirma priorizar repasses da Educação a determinadas prefeituras e a pedidos do presidente Bolsonaro ganhou o noticiário. Apesar de, logo em seguida, negar a existência de irregularidades, bem como o envolvimento de Bolsonaro, Ribeiro passou a ser objeto de pedidos de investigação
Vinícius Schmidt/Metrópoles
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“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”, afirma Ribeiro em conversa gravada. “A minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, declarou o então ministro
Arthur Menescal/Especial Metrópoles
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Na manhã de 22 de junho, a Polícia Federal prendeu preventivamente o ex-ministro da Educação durante a Operação Acesso Pago, que investiga esquema de corrupção durante a gestão dele à frente do MEC. No mandado de prisão, o juiz elencou ao menos quatro crimes que teriam sido cometidos por Ribeiro: corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência
Vinicius Schmidt/Metrópoles
Suposta interferência de Bolsonaro
À coluna no Metrópoles do jornalista Rodrigo Rangel, o delegado Bruno Calandrini, responsável pela operação que investiga o caso, apontou indícios de que o presidente Jair Bolsonaro alertou Milton Ribeiro sobre o inquérito. A denúncia se baseou em uma ligação em que o ex-ministro afirmou a uma de suas filhas que recebeu um telefone de Bolsonaro.
Questionado sobre uma possível interferência do presidente, Ribeiro afirmou: “Eu queria preparar [as filhas] para uma possível entrada ou pedido de intervenção policial em casa, como de fato aconteceu. Se eu cometi um erro nesse episódio, esse foi meu erro. Não recebi ligação nenhuma do presidente. Falei isso para prepará-las.”
Após a denúncia do delegado, o Ministério Público Federal pediu que o caso fosse remetido da primeira instância da Justiça Federal em Brasília para o Supremo Tribunal Federal (STF) e que o presidente fosse também investigado. Desde então, a decisão de incluir Bolsonaro ou não entre os alvos da apuração está nas mãos da ministra Cármen Lúcia.
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