Reuni Digital: criticado, MEC quer ampliar ensino superior a distância
Reuni Digital pretende criar 1,6 milhão de vagas até 2024. MEC chegou a marcar lançamento para esta segunda-feira, mas cancelou o evento
atualizado
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O Ministério da Educação (MEC) se prepara para apresentar a versão final do programa Reuni Digital, que pretende criar 1,6 milhão de vagas no ensino superior a distância até 2024.
O lançamento chegou a ser anunciado para a tarde desta segunda-feira (30/5), mas o MEC cancelou. A pasta não explicou a motivação e não marcou nova data.
O Reuni Digital contou com a participação de especialistas e de entidades dedicadas à educação. Contudo, o governo, segundo quem participou do grupo de trabalho, não acatou as sugestões.
Duas críticas centralizam o projeto: a falta de clareza quanto ao recurso financeiro, uma vez que as verbas do MEC estão sendo contingenciadas, e a não inclusão de universidades estaduais e institutos federais.
O diretor de Relações com o Setor Público da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), Welinton Baxto da Silva, em entrevista ao Metrópoles, classificou o projeto como “conturbado”.
“Esse é um programa que foi apresentado em outubro. Falar sobre o Reuni é bom, mas precisamos ponderar que houve vários cortes de verba na educação e pesquisa [desde então]”, argumenta.
A operacionalização do projeto também não ficou clara para os docentes convidados para participar das discussões. “O MEC não levou a cabo todas as demandas do grupo de trabalho”, aponta.
Outro questionamento é sobre o que será feito com a Universidade Aberta do Brasil (UAB)? O sistema, que oferece cursos de nível superior e de pós-graduação a distância, tem visto o número de inscrições cair ano após ano. O Reuni propõe a criação da Universidade Federal Nacional de Educação a Distância.
Além disso, a coexistência dos programas não foi explicada. “Não nos disseram o que acontecerá. Até então, não sabemos como o projeto será feito. A UAB deu certo e está encaminhada”, afirma Baxto, ao explicar que o sistema funciona com polos físicos apoiados por prefeituras municipais e compartilha recursos instrucionais diversos.
“Contradição”
Walter de Marques, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), vê o projeto com preocupação.
Para ele, o governo quer lançar o programa em um momento que ocorre corte de verbas para a ciência e a pesquisa. “É uma contradição”, salienta.
O docente pondera que a estruturação do Reuni Digital precisa levar em consideração as condições das pessoas mais pobres, como a falta de acesso a computadores.
Walter reconhece que a formação digital é um campo que já tem reconhecimento na área científica e amplia o conhecimento, mas faz considerações.
“Reduzir a formação para um ambiente somente digital sem um campo real de atuação é arriscado. Algumas áreas exigem uma experiência prática, como a medicina”, conclui.