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Responsáveis pelo Museu Nacional acusam governo de reter verba

A partir de 2015 foi desenvolvido um projeto de recuperação estrutural do museu, mas a liberação do dinheiro só saiu neste ano

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Tânia Rêgo/Agência Brasil
Museu Nacional do Rio de Janeiro, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na zona norte da capital fluminense
1 de 1 Museu Nacional do Rio de Janeiro, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na zona norte da capital fluminense - Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, e o diretor do Museu Nacional, Alex Kellner, responsabilizaram nesta segunda-feira (3/9) o governo federal pela falta de recursos para a instituição.

Ambos disseram, durante acompanhamento do trabalho de rescaldo dos bombeiros no prédio, que a partir de 2015 foi desenvolvido um projeto de recuperação estrutural do edifício histórico, mas a liberação do dinheiro – cerca de R$ 21 milhões, do BNDES – só saiu neste ano. O museu foi destruído por um incêndio no domingo (2).

“Todos sabíamos que o prédio estava em condições vulneráveis. Eram necessárias intervenções sistêmicas”, disse Leher. “O Brasil precisa avaliar para onde estamos caminhando. Não existe nenhuma linha de financiamento dos ministérios da Educação e Cultura para prédios históricos tombados pelo patrimônio histórico. Sofremos queda brutal de orçamento, de R$ 140 milhões no custeio nos últimos quatro anos. É necessário que o governo federal olhe para o Brasil. Precisaremos de recursos importantes para recuperar o museu. No orçamento de 2019 a sociedade brasileira vai aferir se vamos ter ações objetivas ou se vamos sofrer até a próxima tragédia. Queremos compartilhar nossas lágrimas e nossa indignação.”

O reitor disse que em 2015 foi colocada a necessidade de um novo sistema de prevenção de incêndios. Ao comentar se o acidente foi uma tragédia anunciada, afirmou: “Era um cenário muito provável. Prédios tombados precisam de recursos significativos, que nossos museus não têm. Sem dinheiro, todo o patrimônio público museal corre riscos”. Do projeto de 2015 constava a necessidade de recomposição do telhado e de “patologias estruturais”. O sistema elétrico, no entanto, não estava em más condições, disseram o reitor e o diretor. Alex Kellner afirmou que seria leviano apontar o que se perdeu e o que se salvou, uma vez que sua entrada no prédio não foi liberada.

À entrada do museu, é possível ver apenas o meteorito de Bendegó. Outros meteoritos já foram retirados. O diretor também não quis estimar qual a percentagem do museu que foi queimada. Um levantamento ainda será feito. Ele preferiu não conjecturar sobre a causa do incêndio. Kellner afirmou que não há registro de ocorrência de balões na história do museu.

“A responsabilidade é do governo federal, não adianta dizer que não. Tem que se falar diretamente. Se tivéssemos conseguido o terreno que pedimos aqui do lado, para o acervo, algo a mais teria sido salvo. Bastava bom senso. Só chorar não adianta. Nem manchete de jornais. O museu precisa de ajuda, já foi falado em diversas ocasiões. Isso é resultado de como tratamos nossa história”, definiu.

Kellner, há mais de 20 anos no museu, falou com emoção e indignação à imprensa. “Perdemos parte do acervo, que não façam com que o Brasil perca sua história. O Bendegó resistiu, e, da mesma forma, vamos resistir. O País está de luto. Seria uma irresponsabilidade querer que a UFRJ abarcasse tudo. Eu não estou mais pedindo o terreno da União. Mudou, estou exigindo. É barato, com R $ 200 mil se consegue. Já há uma década não existe investimento na manutenção. A ironia do destino é que o dinheiro (do BNDES) chegou. Só não deu tempo”.

O incêndio de grandes proporções destruiu o acervo do Museu Nacional, na zona norte do Rio, na noite deste domingo, 2. O fogo começou por volta das 19h30 de domingo e durou até por volta de 2 da manhã desta segunda-feira, 3. Após o exaustivo combate às chamas, prejudicado pela falta de água nos hidrantes da instituição, iniciou-se ainda de madrugada o trabalho de rescaldo.

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