Resgatada de trabalho escravo não recebia por ser tida como “uma irmã”
Mulher que explorou trabalho de Madalena Santiago da Silva por 50 anos sem pagar salário diz que a considerava da família
atualizado
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Sônia Seixas Leal, moradora da Região Metropolitana de Salvador (BA) que manteve uma mulher trabalhando em sua casa por 50 anos sem lhe pagar salário, justificou seu comportamento, em depoimento ao Ministério do Trabalho, dizendo que considerava a vítima como parte da família, como “uma irmã”.
Madalena Santiago da Silva (imagem em destaque), de 62 anos, começou a trabalhar na casa da família quando ainda era uma criança e não pôde estudar. Além de não receber salários, lhes eram tomados pela “família” direitos como a aposentadoria paga pelo INSS.
A informação sobre o depoimento da ex-patroa, dado em março deste ano na Bahia, foi revelada à TV Globo baiana pela auditora fiscal do trabalho Liane Durão.
Madalena foi resgatada em março de 2021 da casa onde era mantida cativa na cidade baiana de Lauro de Freitas. Na época, ela contou aos auditores-fiscais do trabalho do Ministério do Trabalho e Previdência que a filha da patroa ainda pegava empréstimos em seu nome e não lhe repassava nada.
Ela atualmente recebe benefícios especiais da Previdência Social para pessoas resgatadas de trabalhos análogos à escravidão.
A ex-patroa também é processada pelo Ministério Público do Trabalho na Bahia (MPT-BA), que conseguiu na Justiça o bloqueio de R$ 1 milhão em bens de Sônia Leal e de Cristiane Seixas Leal, que também vivia na casa e explorava o trabalho de Madalena.
Receio de pegar em uma mão branca
Essa mulher negra que foi explorada e maltratada durante quase a vida toda protagonizou um evento que sensibilizou o país no final de abril deste ano.
Entrevistada para uma reportagem sobre o trabalho escravo na Bahia, feita pela TV Globo, a mulher confessou à repórter Adriana Oliveira que temia pegar em sua mão por ela ser uma mulher branca.
“Fico com receio de pegar na sua mão branca”, afirmou Madalena. “Mas por quê? Tem medo de quê?”, indagou a repórter, estendendo as mãos. “Por que ver a sua mão branca… eu pego e boto a minha em cima da sua e acho feio isso”, explicou ela.
Emocionada, a repórter disse: “Sua mão é linda, sua cor é linda. Olhe para mim, aqui não tem diferença. O tom é diferente, mas você é mulher, eu sou mulher. Os mesmos direitos e o mesmo respeito que todo mundo tem comigo, tem que ter com você”, destacou a jornalista, que deu um abraço em Madalena.
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