Representante da ONU chama gestão de Bolsonaro na pandemia de “devastadora”
Michelle Bachelet também condenou a politização da pandemia e classificou atitude de minimizar a doença como “irresponsável”
atualizado
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A alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, concedeu uma entrevista nesta quarta-feira (9/12). Para ela, grande parte da América Latina não apresentou cenários positivos para combater a Covid-19 e não economizou palavras para fazer um alerta sobre a situação no Brasil.
“A Covid-19 teve um impacto devastador no Brasil”, afirmou Bachelet. “No Brasil, em especial, vimos um impacto desproporcional em grupos em situação vulnerável, como pessoas vivendo na pobreza, afrodescendentes, indígenas, LGBTI, pessoas privadas de sua liberdade e pessoas vivendo em locais informais”, destacou.
Michelle também criticou a politização da pandemia e classificou a atitude de minimizar a doença como “irresponsável”. Essa falta de comprometimento no combate agravou a crise gerada pela Covid-19.
Bachelet foi questionada por uma jornalista brasileira sobre o comportamento do presidente Jair Bolsonaro. Ela contou que prefere não fazer citações nominais em suas falas. “Mas vou ter de dizer que, em qualquer país do mundo onde líderes negaram a existência da Covid-19 e evidências científicas, eles tiveram um efeito devastador. Isso ocorreu em muitos países. Não apenas no Brasil, mas também no Brasil”.
Recomendações da OMS
A alta comissária voltou a chamar atenção para que as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) sejam seguidas, para frear o contágio, e ressaltou que líderes devem ser as referências em seus países.
“Se líderes não fazem isso, não darão o melhor exemplo. Primeiro, vão se infectar, como de fato ocorreu para alguns. Mas, em segundo lugar, não ajudam a resposta do país a uma pandemia como a Covid-19. Portanto, eu acho que qualquer líder que negue a pandemia e a ciência não é o melhor (caminho). Não vai funcionar”, disse.
Bachelet comparou a situação na África com o cenário sul-americano. Apesar de ambas as regiões não possuírem tantos recursos estruturais e financeiros, a orientação correta consegue frear os impactos negativos gerados pela doença.
“Na África, há uma falta de recursos. Mas com a experiência do ebola, a comunidade se organizou e soube responder”, destacou.
Para Bachelet, as pessoas precisam entender a situação e as decisões dos líderes e que envolvem o povo. “Elas precisam de confiança nas instituições. Espero que líderes no Brasil possam ser mais abertos ao que a ciência nos diz”, conclui.