Relembre decisões no STF de Lewandowski, o novo ministro da Justiça
Lewandowski se aposentou do STF em abril, após 17 anos na Corte. Ministro tem histórico de decisões favoráveis ao PT
atualizado
Compartilhar notícia
Futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski atuou em processos históricos e tomou decisões favoráveis ao PT durante o período em que ocupou vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
O ex-presidente do Supremo foi anunciado nesta quinta-feira (10/1) pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como sucessor de Flávio Dino na pasta.
Ao longo dos 17 anos na Corte, o futuro titular da Justiça desempenhou papel importante em processos históricos, como no julgamento do mensalão e na Lava Jato. Também foi presidente da Corte durante o julgamento de impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).
Lewandowski foi nomeado no primeiro mandato de Lula como presidente da República, em 2006. Ele ocupou a cadeira deixada por Carlos Velloso, que fora nomeado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
O ministro exerceu interinamente o cargo de presidente da República de 22 a 24 de setembro de 2014, com as ausências no país da então presidente Dilma e de seu vice, Michel Temer (MDB).
Fato que o inclui na curta lista de pessoas que exerceram os três principais cargos da alta cúpula dos Três Poderes: presidente do Brasil (interino), presidente do Congresso Nacional (durante o impeachment) e presidente do Judiciário (de 2014 a 2016).
Veja alguns dos principais processos em que o ministro atuou:
Julgamento do impeachment
Lewandowski era presidente do STF em 2016 e, portanto, foi responsável por conduzir o julgamento do impeachment de Dilma Rousseff no Senado, entre maio e agosto daquele ano.
Durante o procedimento, ele aceitou um pedido da bancada do PT para “fatiar” o julgamento e permitir que os senadores votassem separadamente sobre a perda de mandato de Dilma e o impedimento de exercer funções públicas por oito anos. Com isso, a ex-presidente foi afastada do cargo, mas poderia concorrer a novas eleições.
Mensalão
O futuro ministro da Justiça foi o revisor da Ação Penal (AP) 470 – o processo do Mensalão, sob relatoria de Joaquim Barbosa. Um dos posicionamentos mais relevantes de Lewandowski no processo foi o voto dele pela absolvição do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, acusado de corrupção ativa e formação de quadrilha.
No voto, o revisor divergiu do relator – que defendeu a condenação em regime inicial fechado –, sob argumento de que a acusação contra Dirceu era “deduzida a partir de meras ilações e conjecturas”, e que a defesa havia produzido provas “torrenciais e avassaladoras” que demonstravam a inocência do acusado.
Lewandowski frisou ainda que o Ministério Público não tinha sido capaz de provar o contrário, e teria apresentado provas “vagas”. Ele também votou pela absolvição do ex-presidente do PT José Genoíno, mas foi vencido nos dois casos.
“Vaza-Jato”
No STF, Lewandowski era o relator de ações como a da Operação Spoofing — que apura a invasão aos celulares do ex-juiz e senador Sergio Moro e de autoridades da Lava Jato em Curitiba (PR) e as conversas sobre suposto favorecimento político de integrantes da investigação.
Além disso, das acusações de suposta tentativa de extorsão do advogado Tacla Duran, pelo ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol, ambos processos remanescentes da operação.
Na época, Lewandowski concedeu à defesa de Lula, que havia sido condenado por Moro, acesso às conversas vazadas por hackers e integrantes do processo; à íntegra do acordo de leniência firmado entre o MPF e a Odebrecht, bem como às delações premiadas que citavam o nome do petista.
No mesmo processo, Lula pediu também o acesso às mensagens trocadas entre Moro e Deltan Dallagnol, e Lewandowski também lhe concedeu. O ministro levou o caso à 2ª Turma do STF, e a maioria concordou com as decisões monocráticas.
Pandemia
O ministro foi relator de 14 ações durante a pandemia da Covid-19, entre elas a que admite a vacinação obrigatória, mediante imposição de restrições civis.
A ação determina que o governo pode estipular medidas para que a população se vacine, com adoção de políticas restritivas, desde que sejam constitucionais. Continua vedada, no entanto, a vacinação obrigatória.
Lewandowski também foi relator do processo que determinou que o governo federal elaborasse e atualizasse, a cada 30 dias, um plano nacional de vacinação. O ministro também teve papel importante no processo que proibiu o despejo pelo não pagamento de aluguel durante a pandemia.
Gestantes
O magistrado foi relator da ação que concedeu habeas corpus a todas as mulheres presas gestantes, puérperas e mães de crianças de até 12 anos ou responsáveis pelos cuidados de pessoas com deficiência. Também foi garantido o direito de crianças não nascerem na prisão e de serem acompanhadas por suas mães durante a infância.
Em seu voto, o ministro apontou que, na época, 68% das mulheres presas estavam no sistema carcerário por crimes relacionados ao tráfico de drogas, na maioria dos casos delitos cometidos sem violência.
Ele destacou que as mulheres mães e gestantes presas viviam uma realidade “duríssima e fragorosamente inconstitucional”, com partos em solitárias sem nenhuma assistência médica ou com a parturiente algemada ou sem a comunicação ou presença de familiares.
Cotas para universidades
Lewandowski foi relator dos processos ADPF 186 e RE 597.285, que julgaram a constitucionalidade das cotas étnico-raciais para ingresso em universidades públicas, bem como para estudantes egressos do ensino público.
Em seu voto, o ministro afirmou que, como é considerado inafiançável o crime de racismo, “com o escopo de impedir a discriminação negativa de determinados grupos de pessoas, partindo do conceito de raça, não como fato biológico, mas enquanto categoria histórico-social, assim também é possível empregar essa mesma lógica para autorizar a utilização, pelo Estado, da discriminação positiva com vistas a estimular a inclusão social de grupos tradicionalmente excluídos”.
“Uma criança negra que vê um negro ocupar um lugar de evidência na sociedade projeta-se naquela liderança e alarga o âmbito de possibilidades de seus planos de vida”, afirmou.