Relembre como foram os desfiles de 7 de Setembro na gestão Bolsonaro
Comemorações dos últimos anos ganharam conotação política e ideológica, após data ser adotada por Bolsonaro. Lembre episódios emblemáticos
atualizado
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Ao longo dos últimos quatro anos, as festividades de 7 de Setembro ganharam um forte tom político e ideológico, além dos limites do caráter nacional civil da solenidade. Sob a gestão do então presidente Jair Bolsonaro (PL), a data foi “adotada” por apoiadores e marcada por discursos antidemocráticos e com ataques às instituições.
Neste primeiro Dia da Independência do atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o chefe do Executivo federal prometeu fazer um contraponto às celebrações anteriores. O governo federal espera que 30 mil pessoas compareçam à Esplanada para as festividades, com o tema: “Democracia, soberania e união”.
Especialmente nos últimos dois anos, Bolsonaro se apropriou de retóricas antidemocráticas ao criticar a atuação dos demais Poderes, em especial, o Judiciário. Além de, em 2022, aproveitar-se da data para propagar ideais de campanha, atacar ministros e lançar dúvidas sobre o sistema eletrônico de votação.
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Em ano eleitoral, o então titular do Planalto conduzia uma campanha à reeleição. Ele adotou um tom eleitoreiro durante o discurso ao acariciar apoiadores e repetir falas de ataque aos considerados adversários e instituições. As falas se sobrepuseram às comemorações de 200 anos da Independência.
O ex-mandatário afirmou que a “vontade do povo” se faria presente no primeiro turno das eleições, marcado para o mês seguinte, e voltou a falar de suposta “luta do bem contra o mal”.
Bolsonaro também fez comparações entre a ex-primeira-dama Michelle e a esposa do presidente Lula, Rosângela Silva, a Janja. Na ocasião, ainda deu um beijão na esposa e puxou um coro de “imbrochável”, termo que já havia usado com apoiadores em outra oportunidade.
Ao falar de Janja, em ataque velado à esposa do petista, Bolsonaro disse que “não há o que discutir”. “Podemos fazer várias comparações, até entre as primeiras-damas. Não há o que discutir”, declarou.
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Na manhã do 199º aniversário de Independência do Brasil, Bolsonaro fez três discursos: dois em Brasília, na Esplanada, e um à tarde, em evento com apoiadores na Avenida Paulista, em São Paulo.
No primeiro discurso, Bolsonaro deu o tom do que seriam os pronunciamentos do dia, ao afirmar que não admitiria que “outras pessoas joguem fora das quatro linhas” da Constituição.
Mais tarde, ainda na Esplanada, o então mandatário adotou a retórica de ameaça e afirmou que o Poder Judiciário “pode sofrer aquilo que não queremos”. Ele também incitou a desobediência aos governos estaduais e municipais, ao afirmar que o Executivo não aceitaria mais as medidas impostas por governadores e prefeitos no combate à pandemia da Covid, autorizadas pelo Poder Judiciário.
Na fala a apoiadores na Paulista, o então presidente subiu ainda mais o tom. Ele atacou o ministro Alexandre de Moraes, e disse que “nunca seria preso” por “canalhas”.
Bolsonaro ainda questionou a independência do Supremo Tribunal Federal (STF). “Respeitamos todas as instituições. Quando alguém do Poder Executivo começa a falhar, eu converso com ele. Se não se enquadra, eu demito. Quando um deputado ou senador começa a fazer algo que está fora das quatro linhas, ele é submetido ao conselho de ética e pode perder seu mandato. Mas no STF isso não acontece.”
Assim como em Brasília, o então mandatário do país voltou a falar sobre a possibilidade de não seguir a Constituição.
“A indignação de vocês foi crescendo. O nosso povo sempre primou pela liberdade, sempre respeitamos as leis e a nossa Constituição. Esse presidente que vos fala sempre esteve dentro das quatro linhas da Constituição. Agora, chegou o momento de dizermos às pessoas que abusam da força e do poder que agora tudo vai ser diferente”.
Dois dias depois, vendo o estrago causado por suas declarações, Bolsonaro recuou e, com a ajuda do ex-presidente Michel Temer (MDB), divulgou uma nota (leia aqui a íntegra) na qual dizia que às vezes fala “no calor do momento” e que nunca teve “nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes”.
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Neste ano, os tradicionais desfiles realizados na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e em outras cidades foram cancelados para evitar aglomerações em meio à pandemia de Covid-19.
Contudo, Bolsonaro deu início à cerimônia às 10h com um desfile no Rolls-Royce presidencial. Ele estava acompanhado de um grupo de crianças e não usava máscara de proteção contra o novo coronavírus, além de gerar uma aglomeração ao reunir apoiadores.
Após descer do carro, o então chefe do Executivo cumprimentou apoiadores na parte externa do Alvorada. Em seguida, juntou-se às autoridades presentes do lado de fora do palácio para a execução dos Hinos Nacional e da Independência e o hasteamento da bandeira.
Também na ocasião, a Esplanada foi tomada por manifestações contra e a favor do então governo federal. De um lado, bolsonaristas se reuniram entre o Museu da República e a Biblioteca Nacional, em apoio ao presidente da época.
No gramado entre o Teatro Nacional e o Museu, integrantes das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo se juntaram ao Grito dos Excluídos para a realização de um ato cênico performático.
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Naquele ano, o primeiro sob a gestão Bolsonaro, o tema escolhido para as comemorações foi “Vamos valorizar o que é nosso”. O conceito foi o mesmo adotado pela Semana do Brasil, iniciativa do governo federal para “estimular o patriotismo” e “ações promocionais no comércio varejista”.
Antes de sair do Palácio da Alvorada, rumo ao desfile, o então presidente gravou vídeo convidando os brasileiros para saírem às ruas na data.
“Hoje é uma data magna em nosso país. A data em que nós nos tornamos independentes. Precisamos de cada um de vocês para reconstruir o Brasil, e a liberdade estará em primeiro lugar. Neste momento, quem puder comparecer no seu município para a ocasião do 7 de Setembro, compareça. O Brasil é nosso. É verde e amarelo.”
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