Relatório cita “total descontrole” após avanço de Covid-19 entre yanomami
Dados apontaram aumento de 250% em três meses na Terra Yanomami. Pesquisadores estimam que 10 mil indígenas podem ter sido expostos ao vírus
atualizado
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Um relatório produzido por uma rede de pesquisadores e líderes Yanomami e Ye’kwana aponta que a pandemia de Covid-19 avançou 250% em três meses dentro da Terra Indígena Yanomami, e um em cada três moradores da região pode ter sido contaminado. A situação é descrita como “total descontrole”.
A Terra Yanomami fica entre Roraima e Amazonas, e em parte da fronteira com a Venezuela. É a maior reserva indígena do Brasil, e mais de 26 mil índios habitam a região em cerca de 360 aldeias.
De acordo com o documento “Xawara: rastros da Covid-19 na Terra Indígena Yanomami e a omissão do Estado”, lançado nesta quinta-feira (19/11), o número de casos saltou de 335 para 1.202 entre agosto e outubro, um aumento de mais de 250% dos casos ao mês.
Os primeiros casos foram registrados em abril na Terra Yanomami. O adolescente Alvanei Xirixana, de 15 anos, foi a primeira vítima fatal.
De acordo com monitoramento realizado pela Rede Pró-YY, no final de outubro havia 23 mortes suspeitas e confirmadas pela Covid-19 entre os Yanomami.
O relatório mostra que 10 mil pessoas, ou mais de um terço da população total, podem ter sido expostas ao vírus. Desde junho, o Fórum de Liderança Yanomami e Ye’kwana defende a retirada dos milhares de garimpeiros ilegais que trabalham no território e são vetores da doença.
Esse novo relatório indica que os temores iniciais eram válidos, já que pediam a parada das operações ilegais de mineração, pois seriam uma fonte de infecções do coronavírus na região.
A campanha #MinersOutCovidOut iniciada pelos Yanomami e Ye’kwana, que conta com o apoio de aliados brasileiros e internacionais, já reuniu mais de 410 mil assinaturas em apoio à luta indígena.
Número pode ser ainda maior
O levantamento aponta que a falta de testes em alguma regiões pode estar ocultando o verdadeiro número de infectados pela doença.
“Dados do Ministério da Saúde indicam que há 11 regiões do TIY onde foram realizados menos de 10 exames pelo DSEI-Y (Distrito Sanitário Yanomami) e outras três onde não foram realizados exames, ou seja, em mais de um terço dos nas regiões há muito pouca informação sobre a chegada da COVID-19, reforçando as afirmações dos indígenas de que na realidade o número de infectados poderia ser muito maior.”
Esses dados também indicam que até setembro, 70,5% dos exames realizados pelo Distrito Sanitário Yanomami eram positivos. E, na região do Demini, uma das mais testadas do território, mais de 90% da população estava infectada pela Covid-19.
“O número de exames realizados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) até 23 de outubro durante todo o TIY é insignificante: 1.270 exames foram positivos, negativos ou descartados. Ou seja, menos de 4,7% da população total foi testada ”, diz o relatório.