Relatório atribuído por Bolsonaro ao TCU foi alterado, diz auditor
Material foi usado pelo presidente para dizer que mortes por Covid em 2020 foram superdimensionadas. Tribunal negou veracidade do documento
atualizado
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Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) que responde a um processo administrativo disciplinar por ter elaborado o “relatório” divulgado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como “prova” de que houve um superdimensionamento no número de mortes por Covid-19, afirmou em depoimento que o documento passou por uma edição e foi alterado. As informações são de O Globo.
Marques é filho do coronel da reserva Ricardo Silva Marques, colega de turma de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e que foi indicado a uma diretoria na Petrobras. O auditor revelou que enviou o arquivo do relatório, via WhatsApp, ao pai, que teria repassado o mesmo arquivo ao presidente.
“Quando eu vi o pronunciamento do presidente Bolsonaro, eu fiquei totalmente indignado, porque achei totalmente irresponsabilidade o mandatário da nação sair falando que o tribunal tinha um relatório publicado, que mais da metade das mortes por Covid não era por Covid. Eu achei uma afronta a tudo que a gente sabe que acontece, a todas as informações públicas, à ciência”, disse Marques.
No depoimento, prestado à corregedoria do TCU no dia 28 de julho, o auditor disse acreditar que o documento foi editado, possivelmente quando chegou à Presidência da República. Segundo ele, trtava-se de um arquivo em Word, sem identidade visual, logomarcas, datas ou assinatura do tribunal.
“Um arrazoado”
“Nesse arquivo em PDF que viralizou, não tinha nenhuma identidade visual, data, assinatura, nada. Era somente um arrazoado. Esse arquivo foi alterado depois que eu passei pro meu pai. No meu arquivo não tinha qualquer menção ao TCU, não tinha destaques e grifados, nada disso. Depois que saiu da esfera privada, particular, como era um arquivo em Word ele poderia ser editado por qualquer pessoa”, ressaltou.
“Mostrei para o meu pai e em nenhum momento eu imaginei que ele fosse encaminhar isso para outra pessoa. Na segunda-feira foi quando eu tomei conhecimento da fala do presidente Bolsonaro e fiquei atônito. E então meu pai me explicou que encaminhou o arquivo em Word para o presidente Bolsonaro”, contou.
Metade das mortes
Em conversa com apoiadores no dia 7 de junho, Bolsonaro disse que “um relatório do TCU” apontava que o número de mortes por Covid-19 em 2020 foi cerca de metade do valor registrado.
“Olha, em primeira mão aqui para vocês: não é meu, é do tal do Tribunal de Contas da União, questionando o número de óbitos o ano passado por Covid. E ali, o relatório final não é conclusivo, mas em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid, segundo o Tribunal de Contas da União. Não é meu, não”, disse o mandatário.
No mesmo dia, o tribunal desmentiu a declaração do presidente Bolsonaro: “O TCU esclarece que não há informações em relatórios do tribunal que apontem que ‘em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid’, conforme afirmação do Presidente Jair Bolsonaro divulgada hoje”, registrou a Corte de Contas, em nota.
Além disso, o tribunal desmentiu a veracidade de um documento que circulou na internet sobre o assunto. “O TCU reforça que não é o autor de documento que circula na imprensa e nas redes sociais intitulado ‘Da possível supernotificação de óbitos causados por Covid-19 no Brasil”, ressaltou. Depois do desmentido, Bolsonaro reconheceu que errou ao divulgar o “relatório”. Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques foi afastado de suas funções no TCU.