Reitor que furou lista tríplice no RN é acusado de plágio em doutorado
Josué Moreira foi nomeado pelo então ministro Abraham Weintraub em abril deste ano. Denúncia aponta 36 trechos supostamente copiados em tese
atualizado
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A nomeação pelo governo federal de um reitor que não participou da eleição interna desencadeou uma série de crises no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) desde abril. Houve reação de estudantes e repressão policial a protestos, tentativa de compra de 20 Macbooks a R$ 12 mil cada e batalha judicial contra a nomeação. Agora, o reitor Josué Moreira está sendo acusado de ter copiado longos trechos de sua tese de doutorado de outros trabalhos acadêmicos e de notícias na internet.
O MEC não se pronunciou sobre a denúncia.
O médico veterinário Josué Moreira não participou do processo de eleição interna para reitor do IFRN, mas o resultado do pleito foi ignorado integralmente pelo então ministro da Educação Abraham Weintraub, que desprezou a lista tríplice e o nomeou em 17 de abril.
No mês seguinte, a 4ª Vara Federal do RN mandou afastar Moreira e foi nomeado o vencedor da eleição interna, José Arnóbio de Araújo Filho. Dias depois, porém, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5) derrubou a primeira decisão judicial – e Moreira voltou ao cargo. Desde então, a gestão tem sido marcada por protestos de estudantes insatisfeitos com uma nomeação que consideram autoritária.
Veja imagens de um confronto entre manifestantes e policiais chamados pela reitoria no último dia 11 de agosto, na sede do IFRN:
Também em agosto, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou a interrupção da compra, pelo IFRN, de 20 computadores Macbook por R$ 12,7 mil. O negócio de R$ 254 mil era para comprar os computadores para o reitor e sua equipe.
Segundo os promotores, há no mercado equipamentos mais baratos para as funcionalidades exigidas pela equipe de gestão do Instituto Federal. Após a pressão, a instituição desistiu da compra.
A acusação de plágio no doutorado
Um arquivo anônimo que começou a circular essa semana entre a comunidade escolar potiguar acusa Moreira de plágio na tese de doutorado que ele defendeu em novembro de 2018, na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa).
Segundo o documento, a tese “Resíduos de antiparasitários e agrotóxicos em leite bovino no Rio Grande do Norte” tem trechos copiados em 23 das 41 páginas de conteúdo, sem as devidas citações. São 36 trechos supostamente plagiados.
O Metrópoles conferiu as denúncias feitas pelo dossiê anônimo e realmente encontrou trechos no texto do reitor que são praticamente idênticos a trabalhos publicados anteriormente. Veja exemplos:
O que diz Josué Moreira
O Metrópoles procurou o reitor Josué Moreira para questioná-lo sobre a acusação de plágio, mas ele não respondeu. Para a Agência Saiba Mais, que revelou as acusações, ele se disse vítima de ataques. “Minha cabeça não está funcionando para os ataques pessoais que venho sofrendo, porque estou focado nessa luta para garantir aulas virtuais para os alunos do IFRN. Nada tira a minha atenção para alcançar esse objetivo, nem os ataques pessoais para me difamar e caluniar. Isso, depois eu resolvo na Justiça”, disse.
A Universidade Federal Rural do Semi-Árido informou que não recebeu denúncia formal que justifique uma investigação sobre plágio na tese de Moreira.
O Ministério da Educação, responsável pela nomeação do reitor, também foi procurado pela reportagem e não se manifestou até a publicação deste texto – o espaço segue aberto.
Segundo a imprensa norte-riograndense, a lista tríplice foi ignorada para que Moreira fosse nomeado reitor a pedido de um parlamentar do estado que apoia o governo, o General Girão (PSL-RN). Ele também foi procurado e chegou a atender o telefone, mas não quis falar com a reportagem sobre o assunto.