Região mais rica do país, Sudeste tem UTIs em apenas 18,2% das cidades
Rio de Janeiro é o estado que tem mais municípios com a estrutura hospitalar. Apesar disso, carrega a maior taxa de mortalidade
atualizado
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A pandemia do novo coronavírus atualmente deixa, no Brasil, um rastro de 21.048 mortes. Na região Sudeste, encontra-se dois dos estados que acumulam mais óbitos no Brasil: São Paulo e Rio de Janeiro. O estado fluminense, apesar de ser o que carrega a maior taxa de mortalidade pela Covid-19 no país, é o que tem maior “cobertura”, digamos assim, de municípios equipados com leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Durante a pandemia, a estrutura hospitalar de UTIs tem cumprido papel fundamental no tratamento dos paciente com Covid-19. Na região Sudeste, o Rio de Janeiro tem cerca de 47,8% dos municípios do estado equipados com leitos, de acordo com dados levantados através do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNESNet), do Ministério da Saúde. Logo atrás, vem São Paulo, com 23,5%, Espírito Santo, com 20,5%, e Minas Gerais, estado brasileiro com mais municípios (853), com apenas 9,6% das cidades equipadas com as unidades.
A especialista em saúde pública e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ligia Bahia desvenda o que está por trás da quantidade de mortes entre os cariocas. “As condições demográficas, tais como a densidade de moradores por área e domicílio, dificuldades de acesso, alimentação e provimento de serviços básicos, inclusive internet, são obstáculos ao isolamento social, além das idas e vindas das autoridades estaduais e municipais”, analisa.
“Os anúncios ambíguos em relação à necessidade de distanciamento social têm sido constantes. O maior número relativo de mortes pode ser atribuído à conjugação de problemas estruturais das desigualdades e insuficiência da rede de cuidados à saúde”, completa a especialista.
Na opinião dela, é preciso estreitar as orientações de saúde. “A recomendação devia ser o fechamento radical da circulação de pessoas por 2 ou 3 semanas. Devia haver testagem ampla para todas as pessoas que apresentassem sintomas e o isolamento dos que testarem positivo deve ser, de preferência, em outros locais para impedir a transmissão intradomiciliar. Além disso, teria de ter ampliação da rede pública de serviços de saúde”, indicou Ligia Bahia.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) do Rio de Janeiro informou que a taxa de ocupação de leitos no estado é de 79% em enfermarias e 86% em leitos de UTI.
“Ao todo, 2.334 pacientes estão internados na rede estadual. No total, em toda a rede pública, são 335 casos suspeitos ou confirmados de coronavírus aguardando transferência para UTIs, e 333 para enfermaria, que podem ser regulados para as diferentes redes, seja ela municipal, estadual ou federal”, de acordo com dados apurados pelo órgão na última segunda-feira (18/05).
“Com exceção do Hospital Regional Zilda Arns (cujas taxas de ocupação são de 89% na enfermaria e 86% na UTI) e dos hospitais de campanha Lagoa-Barra, Maracanã e Parque dos Atletas, a secretaria esclarece que todos os outros leitos destinados à Covid-19 estão ocupados, e que há vagas rotativas ocasionadas por altas, óbitos, além de reservas técnicas de leitos para pacientes já internados que possam agravar o quadro clínico, necessitando de UTIs”, ressaltou a SES.
São Paulo
O estado de São Paulo, que é líder nacional nos quesitos de casos confirmados da Covid-19 (76.871) e mortes pela doença (5.773), multiplicou os óbitos em quase cinco vezes no período de um mês. A Secretaria de Estado da Saúde (SES) do estado paulista apurou que, em 18 de abril, eram 991 vítimas e na última segunda-feira (18/05) somava-se 4.823.
“O número de cidades com registros da Covid-19 mais que dobrou nesse intervalo de tempo. Em 18 de abril, havia um ou mais casos em 225 cidades e 90 com pelo menos uma vítima fatal. Hoje, são 467 e 214, respectivamente”, detalhou Ligia.
Na última segunda-feira (18/05), a Secretaria registrou “9,8 mil pacientes internados em São Paulo, sendo 3.900 em UTI e 5.974 em enfermaria. A taxa de ocupação dos leitos de UTI reservados para atendimento de infectados pela Covid-19 é de 69,8% no estado e 89,3% na Grande São Paulo.
A pasta informou, ainda, que entre as mortes confirmadas, estão 2.851 homens e 1.972 mulheres. “Os óbitos continuam concentrados em pacientes com 60 anos ou mais, totalizando 72,9% das mortes. (…) Fora o grupo de idosos, há também mortalidade entre pessoas de 50 a 59 anos (685 no total), seguida pelas faixas de 40 a 49 (357), 30 a 39 (201), 20 a 29 (42) e 10 a 19 (14), e seis com menos de dez anos.”
Espírito Santo
O estado capixaba tem menos de 1/4 (um quarto) dos casos confirmados do Rio de Janeiro, 9.520, mas soma 397 mortes — quase o dobro que Minas Gerais —, tendo batido recorde nesta sexta-feira (22/05) de 34 mortes em 24 horas, e conta com leitos de UTI em apenas 20,5% de seus municípios. A Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (SESA) diz que o órgão está “trabalhando para a ampliação na oferta de leitos na rede pública, privada e filantrópica de todo o estado.”
“Novas contratualizações estão previstas e a projeção para esta semana é de abertura de aproximadamente 300 novos leitos, destes, cerca de 100 serão leitos de UTI. A Sesa prevê chegar no mês de julho com mais de 1.300 leitos específicos para a Covid-19”, informou nessa quarta-feira (20/05). Quanto à ocupação dos 473 leitos destinados para pacientes do novo coronavírus, 353 estão ocupados, 74,63%. Os dados foram atualizados nesta sexta-feria (18/05).
Minas Gerais
O território mineiro é o mais otimistas da região, pois possui menor número de casos (5.995), de mortes (201) e a menor taxa de mortalidade a cada 100 mil habitantes: 0,9%. A taxa mineira só não é menor que a do Mato Grosso do Sul (0,6). No entanto, também preocupa a presença de leitos de UTI nos numerosos 853 municípios do estado. Apenas 9,6% deles contam com a estrutura de Unidade de Terapia Intensiva.
“Atualmente, estão cadastrados no SUS fácil 12.272 leitos clínicos e 2.555 leitos de UTI. No momento, são 184 pacientes internados em leitos de UTI, em decorrência da Covid-19, ou por suspeita da doença, e a taxa de ocupação está em 7,20%”, informou a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG) com os dados apurados nessa quarta-feira (20/05).
“Além dos leitos que estão disponíveis na rede SUS, também já está pronto o hospital de campanha que atuará quando os leitos já não forem mais suficientes. Além disso, as medidas de distanciamento social aplicadas em Minas Gerais têm conseguido atrasar a propagação do novo coronavírus e evitar a sobrecarga da rede de saúde no estado, conforme é possível inferir nova projeção para a curva epidemiológica de casos da Covid-19”, se posicionou a Secretaria.