Refugiada que diz ter sido presa injustamente tem HC concedido
Ambulante em São Paulo, ela tira o seu sustento vendendo roupas na região do Brás, das 10h às 19h
atualizado
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Após o Metrópoles ter divulgado a história de Falilatou Estelle Sarouna, imigrante africana que diz ter sido presa injustamente por “estelionato sentimental”, o advogado, Vitor Bastos, afirmou ao jornal que, nesta sexta-feira (11/6), foi concebido o Habeas Corpus e a saída da prisão está marcada para a semana que vem.
Falilatou chegou ao Brasil em 2014, nascida no Togo, país africano, trabalhou como vendedora ambulante e em São Paulo, cidade em que vive, ela tira o seu sustento vendendo roupas na região do Brás, das 10h às 19h.
Uma rotina pontual que foi interrompida em dezembro de 2020, quando a Polícia Civil invadiu a quitinete de Falilatou. A imigrante não estava em casa nem sabia que estava sendo procurada no âmbito da Operação Anteros, deflagrada pela Polícia Civil a fim de prender uma quadrilha que, segundo o Ministério Público, “praticava verdadeiro estelionato sentimental”.
Conhecida como uma das maiores operações policiais do país, a Anteros desbaratou um esquema de fraudes on-line, em que criminosos utilizavam perfis falsos em sites de relacionamento e nas redes sociais para aplicar golpes. De acordo com o MP, aproximadamente 2 mil pessoas foram prejudicadas pela organização, que lucrou cerca de R$ 100 milhões com as investidas. Entre os 115 investigados presos, estava Falilatou.
Para a polícia, no esquema de estelionato, extorsão e lavagem de dinheiro, a refugiada atuava como “correntista”. Segundo a acusação, ela movimentou em cinco contas bancárias, de três bancos diferentes, R$ 1.035.000 – montante que pertenceria à organização criminosa. A prova apresentada foi uma assinatura com o nome da africana em letra cursiva, no formulário da abertura de conta. Acontece que Falilatou é analfabeta.
Aos seus advogados, a vendedora ambulante alega que tem uma única conta bancária desde que chegou ao Brasil. A assinatura para abertura dessa conta é um rabisco, e, portanto, diverge das provas apresentadas pelo Ministério Público.
“Fico muito confortável em dizer que a Falilatou é inocente, por causa da movimentação financeira. O MP aponta que os correntistas ganhavam de 3% a 7% do valor que girava na conta. Se ela lucrava com aquele dinheiro, já teria trazido o filho para o Brasil há muito tempo, e teria uma condição de vida melhor do que a minha”, afirma Gabriel Silva, um dos advogados que está defendendo a refugiada gratuitamente.
Ao Metrópoles, o missionário e padre Mossi Kuami Anoumou, irmão da imigrante, contou que Falilatou tinha muita dificuldade em entender o português. “Eu fazia tudo para a minha irmã. Inclusive, eu que a ajudei com suas documentações na Polícia Federal. Muitas vezes nós brigávamos, porque ela, quando precisava de ajuda, entregava os documentos nas mãos de outras pessoas. Acredito que minha irmã é inocente. Enganaram ela!”, disse o religioso, que vive em Salvador.
A surpresa da prisão
Quando Falilatou retornou para casa, a polícia já havia ido embora. Sem saber o que estava acontecendo, ligou para o seu irmão. Mossi a orientou a procurar a delegacia e fazer um boletim de ocorrência. Ao chegar à unidade policial, acompanhada da amiga Chantal Dagan, já havia uma ordem de prisão expedida contra ela. A vendedora ambulante foi levada para a Penitenciária Feminina da Capital – Carandiru, em SP.
De acordo com Chantal, a amiga saiu de uma sala da delegacia dizendo várias vezes: “Eu tô presa”. Até hoje, quatro meses depois do ocorrido, ela ainda tenta entender o que aconteceu.
“A Falilatou era minha companheira de trabalho. A gente ficava todo dia com o sol quente nas costas tentando vender nossa mercadoria. Nós estávamos lá mesmo quando chovia. Me diz: quem com esse tanto de dinheiro se colocaria numa situação dessa, tendo que correr do rapa [fiscais da prefeitura] quase sempre?”, assinala Chantal Dagan.
Desde a prisão da vendedora, o filho de Falilatou não tem recebido os recursos enviados mensalmente pela mãe. Chantal conta que o menino parou de estudar e, além disso, o aluguel do quitinete em que a refugiada mora se acumula desde de janeiro, a dívida ultrapassa R$ 3 mil.