Refugiada que diz ter sido acusada injustamente sai da prisão
A história de Falilatou, presa por “estelionato sentimental”, foi revelada pelo Metrópoles em março deste ano
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – Na porta da Penitenciária Feminina da Capital – Carandiru, Chantal Dangan aguardava ansiosa a saída da amiga Falilatou Estelle Sarouna, presa em dezembro de 2020. “Eu estou muito feliz”, afirmou, enquanto olhava para portão contando os minutos para às 15h desta quarta (16/6), horário previsto da soltura.
Aos poucos, outros amigos da refugiada togolesa se uniram a Chantal aguardando o momento que Falilatou daria o primeiro passo para fora do presídio, a fim de responder o seu processo em liberdade, conforme determinação da Justiça na última sexta (11/6).
Quando Fali, forma como seus amigos a chamam, apareceu, o grupo a recebeu com aplausos. Gritavam por liberdade, choravam e a abraçavam. Sobre a refugiada, colocaram uma bandeira do Togo. A palavra de ordem naquele momento era “recomeço”.
Fali não conteve as lágrimas. Mesmo diante do desejo de ir embora dali, falou ao Metrópoles. “Tudo o que eu tenho a dizer é obrigado. Muito obrigado a todos que lutaram por mim”.
Hortense Mbuyi Mwanza, do Conselho Municipal dos Imigrantes de São Paulo, era uma das que estavam em frente ao presídio. “Eu a chamo de irmã por ser africana, como eu. Por ser mulher negra, como eu. E por ser imigrante negra, como eu”, afirmou.
Para ela, o caso de Falilatou diz respeito a todos os imigrantes. “Este fato tocou nós todos como imigrantes. Hoje, foi o dia da liberação da Falilatou para responder o processo em liberdade. Isso é um grande passo de vitória. Ela ter ficado presa durante tanto tempo é dolorido. O caso é um que foi levantado diante tantos outros imigrantes que estão presos injustamente, sem respeito do procedimento jurídico”, desabafou.
Relembre o caso
A história de Falilatou, Togolesa refugiada em São Paulo, foi revelada pelo Metrópoles em março deste ano. Ela passou seis meses presa na Penitenciária Feminina da Capital – Carandiru após ser acusada de ser correntista de uma organização criminosa que praticava estelionato, extorsão e lavagem de dinheiro. As provas contra ela são documentos de abertura de contas bancárias com sua assinatura em letra cursiva, apesar de ela ser analfabeta.
A refugiada foi presa durante a Operação Anteros, deflagrada pela Polícia Civil a fim de prender uma quadrilha que, segundo o Ministério Público, “praticava verdadeiro estelionato sentimental”. De acordo com a denúncia, ela teria recebido em cinco contas diferente mais de R$ 1 milhão de reais.
Segundo o MP, os criminosos atuavam através de relacionamentos amorosos à distância, que eram efetivados por meio de sites ou redes sociais. Os documentos apontam que uma organização nigeriana chamada Yahoo Boys, conhecida mundialmente por praticar crimes por intermédio da rede mundial de computadores, tem forte atuação no Brasil.
A prática ficou conhecida como “fake lover”. Eles criam perfis falsos em sites de relacionamento ou redes sociais e iniciam o contato com a vítima. Quando o caso amoroso se fortalece, uma história é inventada a fim de começar a extorsão.
A investigação aponta que no início do relacionamento, “o criminoso se identifica como um militar americano em missão fora do país ou como pessoa estrangeira bem sucedida, que almeja vir morar no Brasil”. A partir disso, após um tempo de relacionamento com troca de fotos e dados falsos, o fake lover diz que deseja enviar algo muito valioso para o Brasil, “como, por exemplo, uma mala de dinheiro que recebeu como recompensa da ONU”. Como troca, promete casamento e estabilidade financeira.
Quando a vítima decide receber a mala, os criminosos passam a extorqui-la. Após um tempo, a pessoa recebe uma ligação dizendo que a encomenda chegou e que será necessário efetuar um pagamento para a retirada na alfândega. Com o primeiro pagamento, começam outras cobranças, como transporte, diferença no valor em dólar, escolta por ser muito dinheiro, entre outras mentiras.
Em caso de recusa, as ameaças viram rotina, tudo para manter vantagem patrimonial sobre à vítima. Os valores adquiridos são exorbitantes. Segundo o MP, somente no Brasil, os criminosos faturaram R$ 17 milhões nos últimos 3 anos.