Rede particular de saúde já enfrenta limite de oxigênio em Goiás
Associação dos Hospitais Privados diz que foi avisada por fornecedores sobre o limite da quantidade de cilindros. Demanda aumenta a cada dia
atualizado
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Goiânia – O acirramento da pandemia da Covid-19 em Goiás, que satura tanto a rede privada quanto a rede pública de saúde, já coloca hospitais particulares diante de um problema: o limite do fornecimento de oxigênio, no estado. De acordo com o presidente da Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade de Goiás (Ahpaceg), Haikal Elou, a perspectiva é de que comece a faltar nos próximos dias, se a demanda continuar em alta.
Alguns fornecedores, segundo ele, já avisaram os hospitais que conseguem manter o fornecimento do que já é estipulado nos contratos em vigência. Se a necessidade aumentar ou precisarem de um adicional repentino, possivelmente, faltará oxigênio na capital, pois o consumo já está acima da média.
“Eles avisaram que não têm mais cilindros e vamos ter de nos ater ao que está no contrato”, conta Elou, que diz nunca ter visto cenário semelhante ao que os hospitais vêm enfrentando nas últimas semanas, no estado. Já chegou a ocorrer, por exemplo, de ter tanto paciente em um mesmo local que, mesmo com cilindro de oxigênio disponível, não tinha onde conectá-lo, pois todas as conexões estavam sendo utilizadas.
Depois do colapso do sistema de saúde de Manaus (AM), em janeiro deste ano, a preocupação de que algo semelhante se repita em outros locais passou a fazer parte do dia a dia de profissionais e gestores de saúde.
A situação liga um sinal de alerta para o sistema de saúde goiano, que já lida, desde o início de fevereiro, com um aumento sucessivo e diário dos índices de ocupação dos leitos de hospitais públicos e privados. Entre as unidades de alta complexidade da rede particular, 100% das UTIs estão ocupadas. A maioria absoluta, por pacientes com Covid-19.
“Um ser humano não vive cinco minutos sem oxigênio. Com cinco minutos sem oxigênio, você entra em um quadro de dispneia franca, independentemente da idade”, explica Haikal, que é médico. O cenário preocupa, pois ainda não demonstrou sinais de redução do impacto da pandemia. Pelo contrário: os números levam a crer que Goiás passa por um novo pico da pandemia, a exemplo do que aconteceu entre julho e agosto do ano passado.
Fornecedoras
Os hospitais particulares da região metropolitana de Goiânia mantêm contato com cinco fornecedoras, que possuem sedes ou revendedoras próximas. Quatro são multinacionais, e uma, nacional. O Metrópoles entrou em contato com duas das quatro multinacionais para entender o contexto.
A White Martins informou que tem registrado, de fato, um consumo acima da média de oxigênio medicinal, nas últimas semanas. Já em relação ao fornecimento de cilindros, a empresa diz que segue atendendo conforme o previsto em contrato e que mantém uma troca de informação constante com os clientes sobre as variações na demanda.
“A empresa solicitou que sejam comunicadas formalmente e previamente as necessidades de acréscimo no fornecimento do produto bem como a previsão da demanda. Isso porque compete às instituições de saúde, públicas e privadas, informar, formalmente e em tempo hábil, qualquer incremento real ou potencial de volume de gases às empresas fornecedoras”, aponta.
A White Martins não fornece, atualmente, para a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), mas consta entre as fornecedoras de hospitais particulares e unidades da rede pública que não pertencem ao governo estadual. E ela reforça: “A White Martins – como qualquer fornecedora deste insumo – não tem condições de fazer qualquer prognóstico acerca da evolução abrupta ou exponencial da demanda”.
A outra empresa procura foi a Messer Gases Brasil . Também por meio de nota, a fornecedora reconhece o aumento “significativo” do consumo de oxigênio medicinal e diz que o planejamento da empresa tem possibilitado o atendimento dos clientes, inclusive em situações de emergência.
Falta de insumos básicos
Além da questão dos oxigênios, os hospitais particulares de Goiás já enfrentam, também, a falta de insumos básicos, como relaxante muscular, luvas, seringas e medicamentos analgésicos e antitérmicos.
“Pelo menos 15 produtos estavam faltando ontem (segunda-feira). Alguns são intermitentes e logo voltam, mas outros demoram para ter o fornecimento retomado”, explica Haikal Elou.
Uma das questões geradas pela alta demanda, segundo ele, é a elevação abrupta dos preços dos produtos. Uma ampola de relaxante muscular, por exemplo, pela qual o hospital do qual ele é diretor técnico (Hospital Santa Mônica) costumava pagar R$ 16, já está sendo vendida no mercado a R$ 178.
“Não quer? Tem quem quer. É assim que o mercado funciona. É um problema social que virou problema dos hospitais”, afirma.