Recenseadores fazem greve nesta 5ª por melhores condições de trabalho
Atos foram convocados de forma independente, em capitais como Brasília, Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, São Luís e Salvador
atualizado
Compartilhar notícia
Recenseadores de ao menos seis capitais realizam, nesta quinta-feira (1º/9), uma paralisação na coleta de dados do Censo Demográfico de 2022. Os trabalhadores pedem melhores condições de trabalho e o pagamento de salários atrasados.
Apesar de os recenseadores chamarem o movimento de greve nacional, o ato ocorre de forma independente, ou seja, não é organizado e promovido pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (ASSIBGE).
O grupo tem apoiado e prestado apoio aos recenseadores, mas a greve não passou pelo crivo da associação sindical. No Distrito Federal, o ato dos trabalhadores está previsto para as 9h, no Setor Bancário Sul.
De acordo com a ASSIBGE, também há movimentos previstos em capitais como Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e São Luís (MA). A reportagem também identificou, nas redes sociais, mobilização para um ato em Recife (PE).
Entre os pedidos dos trabalhadores, estão melhorias na segurança. Na terça-feira (30/8), durante apresentação do primeiro balanço de coleta de dados do Censo, o diretor de pesquisas do IBGE, Cimar Azaredo, citou casos de violência contra os trabalhadores.
“Temos inclusive casos de assalto, levando dispositivos. E temos recusa [da população em receber os recenseadores], claro, mas estamos chegando lá. Seguimos com algumas dificuldades”, admitiu.
Outra queixa é o pagamento pelo serviço realizado. A coleta de dados feita pelos recenseadores é dividida em setores residenciais. O salário só é depositado após uma supervisão, realizada para garantir que a coleta no setor foi concluída. No entanto, alguns trabalhadores têm afirmado que há um atraso entre a supervisão e o pagamento.
O recenseador Paulo Henrique Ferreira da Silva, do Distrito Federal, participa da mobilização desta quinta. Segundo o trabalhador, o ato busca chamar atenção das autoridades para a situação.
“A gente quer reunir o máximo de pessoas possível para ver se temos alguma visibilidade. Conheço colegas, por exemplo, que, a partir das 18h (o horário que as pessoas estão chegando do trabalho e podem nos receber), não se sentem mais seguras de bater nas casas. Até me prontifiquei para ir junto com colegas para aplicar o questionário”, relata.
Paulo também explica que os trabalhadores têm passado por dificuldades para ser recebidos na residência da população. A falta de respostas tem impactado na conclusão da coleta de dados dos setores, provocando atraso nos pagamentos, alega.
“Muita gente não consegue a porcentagem de coletas que eles pedem. Tem setores aqui que tem um certo índice de perigo, a gente não tem culpa de ir na residência e a pessoa só estar à noite ou não querer responder”, lamenta.
Resolução dos problemas
Procurado pelo Metrópoles, o IBGE afirmou que os “rumores sobre uma paralização dos recenseadores chegaram ao órgão através das redes sociais”. O instituto disse que os problemas estão sendo “equacionados e solucionados”.
“Mais de 95% dos problemas de pagamento ocorridos no início do Censo 2022 já foram solucionados. Também foram implementados novos procedimentos para agilizar o processo de supervisão dos setores censitários já completados e entregues pelos recenseadores. Com isso, na operação censitária, será reduzido o intervalo de tempo entre a conclusão da tarefa e ao recebimento da remuneração”, informou o IBGE.
O órgão disse que os casos de violência são “pontuais” entre os mais de 150 mil recenseadores. Cabe às unidades estaduais do IBGE monitorar caso a caso, informou o instituto, que garantiu apoio médico e social às vítimas, se necessário.
“Ponta do iceberg”
Os problemas relatados pelos recenseadores são a “ponta do iceberg” que envolve a realização do Censo 2022, avalia a ASSIBGE. Procurada pela reportagem, a associação informou que a falta de servidores efetivos no órgão tem causado problemas na coordenação da coleta de dados.
“A gente conta com 60% dessa mão de obra formada por servidores temporários, trabalhadores precarizados, sem direitos, com baixos salários. No Censo, a gente fica sem pessoal efetivo para tocar cargos estratégicos, de coordenação. São cargos que demandam experiência. Isso provoca o que recenseadores têm falado: todo mundo fica sem respostas para os problemas”, informou a instituição.
Além disso, a ASSIBGE ressaltou que cortes no orçamento impactaram em toda a realização do Censo: desde a contratação do pessoal, até a remuneração e a divulgação do Censo para a população.
Neste ano, o orçamento destinado para a realização do Censo foi de R$ 2,3 bilhões. O valor é o mesmo solicitado pelo órgão ao governo federal em 2019, antes da pandemia. Com a inflação dos últimos meses, a verba acabou corroída, mas não houve aumento dos recursos por parte do governo federal.
O balanço parcial do IBGE aponta que, até segunda-feira (29/8), 58,2 milhões de pessoas haviam respondido ao questionário. De acordo com o IBGE, a previsão é que sejam visitados 75 milhões de domicílios até o fim de outubro. O instituto estima que, para coletar dados suficientes sobre a condição de vida dos brasileiros, será necessário percorrer mais de 8,5 mil quilômetros quadrados pelos quatro cantos do país.