Com redução de restrições, paulistanos voltam às aulas, aos bares e ao trânsito
Capital ensaia “retorno à normalidade” ao adotar plano que prevê o fim das restrições de horário e público a partir de 17 de agosto
atualizado
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São Paulo – Eram 19h de quarta-feira (4/8) quando três jovens dividiam a mesa de um bar numa calçada na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. Nem mesmo o frio de 13ºC evitou que os amigos bebessem cerveja e conversassem do lado de fora do empreendimento.
Por causa da Covid-19, a escolha de um ambiente externo era prerrogativa para o encontro acontecer. A engenheira civil Giulia Coli, 23 anos, disse que aquela era a primeira vez que pisava em um bar em mais de um ano de pandemia.
“Nós estávamos procurando um barzinho que fosse mais aberto e que não tivesse tanta gente. Eu estou evitando aglomeração”, diz ela, que ainda aguarda ser vacinada.
O estado vive um momento de reabertura e de direcionamento para a volta da “normalidade”. Desde 1º de agosto, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), permitiu a extensão do funcionamento do comércio até 0h e ampliou a ocupação máxima para 80%. O tucano explicou que o anúncio foi possível devido ao avanço na vacinação e à queda nos índices da Covid.
No próximo dia 17, uma nova etapa tem início. As restrições de horário e ocupação devem ser suspensas, mas ainda com a adoção de protocolos sanitários, como uso de máscaras e distanciamento social (veja a tabela abaixo).
O diretor de operações do Grupo Salve Jorge, Flavius Cinira, comemora a retomada, aos poucos, de seu segmento. Somente no cruzamento da Rua Aspicuelta com a Rua Mourato Coelho, um dos pontos mais efervescentes da Vila Madalena, a empresa possui três bares e restaurantes – Salve Jorge, Patriarca e Posto 6.
Para ele, a possibilidade de atender clientes até a meia-noite foi um acerto do governo, ainda que tardio segundo o empresário. “É muito mais fácil para a gente trabalhar, porque as pessoas têm tempo de sair do trabalho, voltar para casa, tomar banho e sair para poder se divertir sem precisar ficar só meia hora no bar”, avalia.
Frio afasta público
Para o presidente do Conselho Estadual da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel SP), Percival Maricato, a melhora definitiva do setor deve ser sentida a partir de setembro, com o fim do inverno.
A entidade prevê que bares e restaurantes que trabalham à noite puxarão uma alta de 10% no faturamento até o fim do ano em todo o estado. O desemprego e o endividamento dos brasileiros, porém, ainda preocupam.
“Essas aberturas permitem que as operações sejam superavitárias no fim do mês, mas ainda não garantem pagar dívidas acumuladas nesses últimos 15 meses. A grande missão vai ser como pagar isso. Acredito que muitos ainda não sobreviverão”, assinala.
A cidade de São Paulo tem seguido à risca as diretrizes do governo estadual. Em 18 de julho, a avenida Paulista foi aberta ao público para atividades de lazer após um ano e quatro meses.
Volta do rodízio
Segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB), a ação de bloqueio para os carros é de caráter experimental e seguirá o horário das 8h às 12h até segunda ordem. Antes da pandemia, a avenida ficava aberta das 10h às 18h.
Na segunda-feira (2/8), a volta às aulas presenciais e o retorno do horário de rodízio tradicional, das 7h às 10h e das 17h às 20h, de segunda a sexta, tornaram-se realidade na capital paulista.
Segundo boletim da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o dia 2 de agosto registrou média de 60 quilômetros de lentidão no trânsito, 11% a mais em comparação com a segunda-feira anterior (25/7).
Em 1º de novembro, o governo paulista trará mais uma etapa importante: liberar shows com público em pé, eventos esportivos com torcida e pistas de dança, desde que sigam os protocolos sanitários.
Ameaça da variante Delta
A retomada de serviços foi adotada em cidades como Nova York, que agora vê a variante Delta ganhar espaço e infectar mais pessoas. Como consequência, a administração local cancelou, por exemplo, o Salão do Automóvel, que seria realizado em 19 de agosto, e geraria mais de R$ 1,5 bilhão para a economia.
Segundo o Instituto Adolfo Lutz, os casos da variante Delta correspondem a 23% do total na Grande São Paulo. Na avaliação do infectologista Jamal Suleiman, o momento permite uma maior flexibilização, com o aceleramento da vacinação – Coronavac, AstraZeneca, Pfizer e Janssen são eficazes contra a cepa.
O estado ultrapassou nesta semana 80% da população adulta vacinada com pelo menos a primeira dose. Já a taxa de ocupação de unidades de terapia intensiva (UTI) está abaixo de 50%.
Até 16 de agosto, Doria garante aplicar a primeira dose do antígeno em toda a população adulta. Suleiman assinala que a imunização visa reduzir as taxas de transmissão e mortalidade causadas pela doença. “Se você está bem com a imunização e os dados têm apontado que você consegue bloquear a transmissibilidade, voltamos a ser um sujeito social”, encerra.