Racismo e pandemia do coronavírus impulsionam venda de livros no Brasil
Venda de livros com temas sociais foi impulsionada pelos principais acontecimentos do ano, como a crise na saúde e o Black Lives Matter
atualizado
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O mercado editorial sofreu um grande impacto no ano de 2020 por causa da pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Com o setor já desestabilizado antes da crise, a venda de livros se viu ainda mais sem rumo após o fechamento, mediante decreto, de livrarias, sebos e papelarias. No entanto, os assuntos mais evidentes do ano, como a crise na saúde mundial e o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, em tradução livre), impulsionaram a venda de obras sobre temas sociais e de interesse público.
Levantamento enviado ao Metrópoles pelo site Estante Virtual, maior acervo de sebos on-line do Brasil, mostra que, em 2020, as obras Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, de Carolina Maria de Jesus; Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro; e Pele Negra, Máscaras Brancas, de Frantz Fanon, elencaram os livros mais vendidos do ano.
Além disso, as edições Uma Breve História de Humanidade, de Yuval Noah Harari, e Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, de Dale Carnegie, ambas tratando de questões sociais e humanas, também estão na lista dos livros mais vendidos do ano.
O levantamento mostra que os principais assuntos do ano – a pandemia do coronavírus e a morte do ex-segurança negro George Floyd, asfixiado por um policial em Minnesota (EUA), o que iniciou o movimento mundial Vidas Negras Importam – motivaram a venda de livros no período.
“Vimos três livros que tiveram destaque ao longo dos meses: Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro; Racismo Estrutural, de Silvio de Almeida; e Pele Negra, Máscaras Brancas, de Frantz Fanon. Na nossa visão, a pandemia trouxe um momento de incerteza e reflexão sobre a humanidade, alguns livros que se destacaram nessa linha foram: Uma Breve História da Humanidade, Yuval Noah Harari; A Peste, de Albert Camus; Ideias para Adiar o Fim do Mundo, de Ailton Krenak”, explicou Erica Cardoso, gerente de comunicação e marketing da Estante Virtual, ao Metrópoles.
Tendência natural
O fato de os livros mais vendidos do ano serem sobre assuntos de cunho social, principalmente de temas em alta, é uma tendência natural. Em 2018, por exemplo, o livro A Verdade Vencerá: O Povo Sabe por que me Condenam, escrito pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entrou para a lista dos mais vendidos no mesmo dia que o petista deveria se entregar à sede da Polícia Federal, em Curitiba, por ordem do, na época, juiz Sergio Moro.
A obra lançada em março de 2018 estreou na lista da Publishnews, de 2018, com 440 cópias vendidas na semana, ocupando a 19ª posição entre os livros de não ficção.
“A discussão sobre temas raciais já vem se intensificando ao longo dos últimos anos. Mas de fato o assassinato do George Floyd e o movimento Black Lives Matter fizeram com que as pessoas tivessem mais interesse na discussão”, explica Erica. Nos anos de 2018 e 2019, livros sobre racismo também elencaram a lista dos mais vendidos pela Estante Virtual, como Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, que também faz parte da lista de 2020.
Em 2021
Erica pondera que, em 2021, livros que abordam temas sociais, assim como a pandemia, devem continuar em alta: “Estamos em um momento de debater sobre identidade, humanidade e estruturas. Os livros citados anteriormente continuam em alta e alguns lançamentos de 2020 entre ficção e não ficção seguem esse debate”, diz.
Segundo a gerente, Uma Terra Prometida, de Barack Obama; O Pequeno Príncipe Preto, de Rodrigo França; Torto Arado, de Itamar Vieira Junior; e A Vida Não É Útil, de Aílton Krenak, tiveram um aumento de vendas, mostrando a mesma tendência apresentada em 2020 com temas raciais.