Quilombola que passou em 1º para medicina ganha R$ 45 mil em vaquinha
Jovem tentava aprovação no Enem há oito anos e estudava em casa sem energia elétrica. Vaquinha custeará materiais do curso e mudança
atualizado
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O jovem Matheus de Araújo, de 26 anos, completou um novo passo em sua jornada rumo ao sonho de se tornar médico: com o apoio de 1.039 pessoas, uma vaquinha para ajudá-lo com os custos do curso arrecadou R$ 45.643,29. “Sei que enfrentarei muitos obstáculos até concluir essa nova jornada, mas insistirei e me dedicarei ao máximo”, diz Matheus.
O jovem é morador de uma comunidade quilombola em Feira de Santana (BA) e sempre sonhou em trabalhar como profissional de saúde. As condições de estudo, no entanto, estavam (muito) longe das ideais. Com cinco irmãos em sua casa pequena, Matheus não conseguia se concentrar e passou a usar a casa de uma amiga, onde não havia energia elétrica, para estudar.
Por oito anos, ele tentou a aprovação pelo Enem, e, em 2015, chegou a iniciar o curso de enfermagem. Após dois anos, no entanto, percebeu que o sonho era outro. Saiu da faculdade então, e voltou a estudar nove horas por dia, pagando pelas apostilas de estudo dando aulas de reforço na comunidade.
Em 2020, Matheus realizou o sonho. Com uma nota de 980 na redação, o jovem foi aprovado em medicina na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). “Enfrentaria tudo novamente para realizar o desejo de ser médico e poder, futuramente, transformar a vida de outras pessoas através da minha profissão”, diz.
Os desafios, no entanto, não terminaram. Inicialmente, o curso tinha aulas somente a distância, mas, este ano, irá para a modalidade presencial. Matheus, então, precisará se mudar para Santo Antônio de Jesus, cidade a quase três horas de distância de sua casa.
Com data indefinida para receber um auxílio financeiro, o jovem resolveu recorrer à internet para pedir ajuda. E, com a ajuda de 1.039 pessoas, conseguiu R$ 45.643,29, valor que utilizará para a mudança de cidade, materiais para o curso, aluguel e alimentação.
“O acesso a uma educação de qualidade deveria ser concebido a todos, independentemente de quem está ou não no poder. Infelizmente, muitos jovens têm que escolher entre os estudos ou colocar comida em casa. Isso não é algo que deve ser romantizado, mas sim, mudado”, afirma Matheus.
E seus planos não acabam na formatura. “A minha luta diária é por uma educação que seja justa para todos. Tenho o sonho de construir bibliotecas para que pessoas não passem pelo que eu passei”, finaliza.