Queria ter vacinado meu filho, diz pai de criança que morreu de Covid
Gael, 7 anos, viveu trajetória de cuidados extremos devido à paralisia cerebral, mas faleceu na mesma semana em que a vacina infantil chegou
atualizado
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Goiânia – Na mesma semana em que a vacina contra a Covid-19 começou a ser aplicada em crianças no Brasil, Gael Oliveira Clímaco, de 7 anos, morreu após complicações causadas pelo coronavírus, na capital de Goiás, na quarta-feira (19/1). Ele não teve a chance de se imunizar, o que poderia trazer mais proteção para enfrentar a doença.
“Eu teria vacinado o Gael. Se o Brasil tivesse comprado vacinas no fim de 2020 e tudo fosse mais tranquilo, há um mês e meio eu teria vacinado meu filho”, disse ao Metrópoles o pai do garoto, o professor de matemática da Universidade Federal de Goiás (UFG) Humberto Assis Clímaco, 43.
Gael sofria de paralisia cerebral, o que o colocava no grupo de risco para o coronavírus. Isso fez a família redobrar os cuidados a fim de que o pequeno não fosse infectado, principalmente no início da pandemia.
“A gente ficou absolutamente isolado durante muito tempo, de um jeito que mal pôs o nariz para fora. A certa altura, flexibilizamos, mas não sabemos bem como pôde ter pegado”, contou Humberto.
Assim como outros brasileiros, a família de Gael precisou sair da quarentena para trabalhar e fazer outras atividades. A mãe de Gael, por exemplo, Cleufa Leandra Silva Oliveira, 42, voltou às escolas municipais onde dava aula.
Vida de cuidados
Gael vivia uma rotina de muitos cuidados antes mesmo do coronavírus. Pelo menos uma vez por ano, ficava internado por um período, depois de pegar alguma gripe. O que para uns não passava de um leve resfriado, para ele era algo bem mais pesado.
Em 7 de janeiro, vieram os primeiros sintomas. Os pais perceberam que ele apresentava muita secreção e a saturação de oxigênio, ou seja, a porcentagem de oxigênio que está circulando no sangue, havia baixado.
O garoto então passou a ser tratado em casa, com atendimento médico do plano de saúde e a utilização de aparelhos que ajudam na recuperação. Acontece que os profissionais começaram a suspeitar de Covid-19 e a criança acabou levada para o hospital, onde permaneceu na UTI. Logo, o exame confirmou o vírus.
Durante alguns dias, ele apresentou melhoras e pioras, mas, na noite da última quarta-feira (19/1), Gael acabou falecendo.
“Foram sete anos de cuidado intenso. Esses dois últimos anos foram particularmente bons, porque a gente ficou muito com ele e ele não adoeceu, porque a gente se isolou completamente”, lembrou Humberto.
Grupo de risco
Um dia antes e um dia depois de Gael morrer, outras duas crianças que estavam ao seu lado na UTI morreram, ambas de Covid-19. Humberto cita as crianças com problemas neurológicos, que parecem ter uma dificuldade maior em relação à doença.
O pai fez um alerta para os que temem vacinar seus filhos e frisou que os benefícios do imunizante são inegáveis.
“Do ponto de vista global, o que aconteceu na pandemia, está comprovado completamente que as vacinas salvaram milhares de vidas. Não tem porque achar que com as crianças vai ser diferente. É um erro, uma ignorância não querer vacinar crianças”, disse.
Humberto e Cleufa enterraram Gael na quinta-feira (20/1) em Goiânia. Eles têm mais uma filha, Carolina, de 4 anos.