Saiba quem é o nº 3 da Abin afastado por suspeita de espionagem
A Polícia Federal apura uso indevido por servidores da Abin do sistema de geolocalização de celulares sem autorização da Justiça
atualizado
Compartilhar notícia
O secretário de planejamento, atual número 3 da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Maurício Fortunato Pinto, foi afastado de seu cargo por suspeita de integrar um esquema de espionagem irregular contra jornalistas, políticos, ministros e adversários do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A determinação partiu do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Nesta sexta-feira (20/10), a Polícia Federal deflagrou a Operação Última Milha para investigar o uso indevido do software FirstMile sem autorização da Justiça por servidores da Abin. Paulo Mauricio Fortunato Pinto teria sido o nome do alto escalão que teve apreendido em sua residência US$ 171.800 em espécie.
O número 3 da Abin é oficial de Inteligência, formado em Ciências Econômicas, especialista em contrainteligência, contraterrorismo e análise do Crime Organizado Transnacional.
Antes de ocupar o cargo de secretário de Planejamento e Gestão, foi diretor do epartamento de Contrainteligência, diretor interino do Departamento de Inteligência Estratégica, diretor do Departamento de Operações de Inteligência.
Também foi superintendente do Mato Grosso do Sul, coordenador-geral de Análise do Crime Organizado e coordenador-geral de Operações dos departamentos de Inteligência, contrainteligência e contraterrorismo. Exerceu ainda o cargo de coordenador de Ensino de Operações da Escola de Inteligência (Esint).
Segundo perfil dele, disponibilizado pela Abin, o oficial atuou como conselheiro do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e como representante no Conselho Nacional Antidrogas (Conad). No exterior, exerceu a função de adido de Inteligência na Embaixada do Brasil na Argentina no período de 2010 a 2011.
Afastamentos da Abin
Além de Fortunato, outros quatro oficiais da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foram afastados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) a pedido da Polícia Federal (PF).
Dois servidores foram presos preventivamente e a PF cumpre 25 mandados de busca e apreensão. As prisões e afastamentos foram no Distrito Federal. Já os mandados de busca também incluíram endereços em Goiás, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Entre os que foram afastados há diretores que entraram na época do governo de Jair Bolsonaro, mas que permaneceram no cargo até os dias atuais.
A coluna Na Mira, do Metrópoles, apurou que um dos presos na operação é Rodrigo Colli, profissional da área de contrainteligência cibernética da agência. O outro é o oficial de inteligência Eduardo Arthur Izycki.
Sem autorização
De acordo com as investigações, os servidores usavam de forma ilegal o sistema de geolocalização de celulares, sem autorização da Justiça.
Os investigados podem responder pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.
Em nota divulgada nesta sexta, a Abin informou que o software de espionagem investigado pela Polícia Federal deixou de ser utilizado em maio de 2021 e que desde fevereiro deste ano há uma investigação interna sobre irregularidades no uso desse programa. Informações colhidas nessa sindicância foram compartilhadas com a PF e o STF, segundo a agência de inteligência. Além disso, os afastamentos temporários de servidores determinados pela justiça foram cumpridos.
Crise de confiança
Desde o começo da atual gestão do presidente Lula há uma crise de confiança de parte do governo com a Abin. O número dois da Agência, o diretor adjunto Alessandro Moretti, é próximo do ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, Anderson Torres, que chegou a ser preso por suspeita de omissão nos ataques golpistas de 8 de janeiro. Mesmo com essa relação, ele foi nomeado para a cúpula da Agência em março.
Paulo Maurício Fortunato Pinto também provocou fragilidade na relação de parte do governo com a Abinao ser nomeado como secretário de Planejamento e Gestão da Abin.
Fortunato Pinto já foi afastado em 2008, no governo Lula, por envolvimento em escutas ilegais contra políticos e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) na Operação Satiagraha.