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“Quem não acordava tomava choque”, diz resgatado de vinícola no RS

Autoridades resgataram 208 trabalhadores em condições análogas à escravidão em vinícola de Bento Gonçalves (RS)

atualizado

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TV Globo/Reprodução
Trabalhador resgatado em vinícola mostra cicatriz - Metrópoles
1 de 1 Trabalhador resgatado em vinícola mostra cicatriz - Metrópoles - Foto: TV Globo/Reprodução

Trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão nas vinículas da Serra Gaúcha relataram que eram agredidos com choques elétricos pelos empregadores. As declarações foram dadas em entrevista ao programa Globo Rural, exibido neste domingo (5/3).

O escândalo que está afetando o setor vinícola gaúcho estourou na última quarta-feira (23/2), após algumas vítimas terem conseguido escapar do alojamento onde eram mantidas em condições desumanas e pedido socorro em um posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Após a fuga, auditores fiscais do Ministério do Trabalho e servidores do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Defensoria Pública da União (DPU) resgataram 208 trabalhadores que foram contratados na Bahia por uma empresa terceirizada pelas vinícolas para ajudar na temporada de colheita de uvas.

Os trabalhadores sofriam ameaças e eram agredidos com choques elétricos e spray de pimenta quando reclamavam das condições de trabalho e do alojamento. Eles foram contratados pela Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde LTDA., mas prestavam serviços para as vinícolas Salton, Aurora e Garibaldi.

Em entrevista ao Globo Rural, um dos trabalhadores resgatados, que já está em sua cidade natal, Salvador (BA), afirmou que os supervisores agrediam os funcionários com “choques e murros nas costelas”.

“A gente acordava às 4h da manhã à base de grito. Chamando a gente de demônio. ‘Acorda demônio, acorda para trabalhar. Baiano bom é baiano morto. Se não trabalhar vai morrer’. Os que não conseguiam acordar para trabalhar tomavam choque no pé. Ou murro na costela para ter que ir acordar para trabalhar”, relatou.

O homem contou que foi para o sul do país porque estava desempregado. Ele recebeu uma proposta de trabalho com salário de R$ 2 mil a R$ 4 mil, passagem de ida e volta, alimentação e dormitório.

“Mas chegando lá foi tudo enganoso. O que encontrei foi um alojamento, que disseram que era uma pousada, um galpão com mais de 200 pessoas dentro, um quarto em frente ao outro com nove pessoas.O café da manhã era um pão com café, meio dia a quentinha azeda, que a gente não comia. E chegava de noite não tinha comida pra gente. Comida toda azeda”, relatou.

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Banheiro do local onde trabalhadores foram resgatados no RS
Eles recebiam comidas estragadas e apanhavam de funcionários da empresa
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Trabalhadores denunciaram vinícola no RS por situação análoga à escravidão

Reprodução/Polícia Federal
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Banheiro do local onde trabalhadores foram resgatados no RS

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Eles recebiam comidas estragadas e apanhavam de funcionários da empresa

Porthus Junior/Agencia RBS

Prisão

Na última semana, o dono da Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde LTDA., Pedro Augusto Oliveira de Santana, foi preso em flagrante por manter os trabalhadores em situação análoga à escravidão. Após pagamento de fiança, o homem foi solto e vai responder em liberdade.

As vinícolas repudiaram os fatos relatados pelos trabalhadores. Elas alegam ter exterminado o contrato com a empresa Fênix Prestação de Serviços e anunciaram mudanças na fiscalização para que o evento não se repita. Além disso, dizem estar colaborando com as autoridades para que o caso seja devidamente investigado.

 

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