Quem é Ronald Roland, preso após mulher compartilhar localização
Roland já foi ligado às Farc, ao cartel mexicano e ao PCC. Segundo a polícia, nos últimos anos, ele movimentou cerca de R$ 5 bilhões
atualizado
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Preso na última semana, o narcotraficante Ronald Roland foi encontrado após a mulher dele compartilhar a localização do casal por meio das redes sociais.
Ele acabou detido em Guarujá, litoral paulista, durante a Operação Terra Fértil, deflagrada pela Polícia Federal em São Paulo e outros seis estados. Segundo a PF, ele morava em Uberlândia, Minas Gerais, mas acabou detido em sua casa de luxo, na Baixada Santista.
A ação tinha como objetivo desarticular um braço de lavagem de dinheiro ligado a Ronald. Durante a ação, foram apreendidos aviões, relógios de luxo, veículos, dólares, euros e reais, além de charutos cubanos, armas e drogas.
De acordo com as investigações, o narcotraficante era responsável pelo envio de drogas do Brasil para países da América do Sul e América Central, com o auxílio dos cartéis mexicanos.
Ligação com grupos armados e facções
Ronald Roland é suspeito de abastecer os carteis mexicanos de Sinaloa e Los Zetas. Estima-se que, ao longo de cinco anos, o grupo liderado pelo criminoso tenha movimentado mais de R$ 5 bilhões, mantendo conexões com assaltantes de banco e integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Ronald já havia sido alvo da Operação Dona Bárbara, em 2015, que desmantelou atividades de narcotraficantes brasileiros vinculados às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Originários da Colômbia e da Venezuela, os criminosos do Brasil utilizavam jatinhos e até submarinos para fornecer drogas aos cartéis de Sinaloa e Los Zetas.
Loja de biquínis
Andrezza de Lima Joel, a segunda mulher de Ronald Roland, é dona de uma loja de biquínis, no Guarujá, litoral de São Paulo. Segundo a PF, a empresa também foi usada no esquema de lavagem de dinheiro e chegou a comprar um avião de R$ 3 milhões.
O casal foi localizado em um prédio em Guarujá. Roland, a mulher e a filha dormiam quando os policiais chegaram ao local. Depois de dois anos, o cerco a Ronald chegou ao fim, mas de uma forma inusitada: Andrezza gostava de postar nas redes sociais as viagens em jatos particulares e expôs a localização da família.
De acordo com a corporação, esta foi a segunda vez que Ronald Roland foi exposto pela indiscrição de uma companheira. Era ela quem exibia os passos do marido criminoso: Paris, Dubai, Maldivas, Colômbia.
Em 2019, Ronald Roland estava na lista de difusão vermelha da Interpol e acabou preso. Àquela época, a então mulher dele também marcou em uma rede social o lugar onde eles estavam, na Zona Leste de São Paulo, e acabou entregando o paradeiro do marido. À época, Ronald tinha acabado de fazer uma cirurgia plástica e estava com marcas roxas no rosto. Ele foi liberado pela Justiça no ano seguinte, em 2020.
Vida de luxo de Ronald Roland
Ronald Roland, que sempre foi discreto, chamou a atenção da Polícia Federal quando se mudou para Uberlândia, Minas Gerais. Uma casa ampla em um condomínio de alto padrão de Uberlândia era o refúgio de um morador que gostava de ostentar.
“Uma pessoa chegando em casa com um veículo de R$ 500 mil. Uma semana depois, com um veículo de R$ 1 milhão. Outra semana, com um veículo de R$ 800 mil. Isso chamou a atenção da vizinhança. Quem é essa pessoa que mudou para cá?”, conta Ricardo Ruiz, delegado da Polícia Federal em Uberlândia.
Segundo o delegado, o foco da operação que prendeu Ronald foi o combate à lavagem de dinheiro do patrimônio amealhado com a vida criminosa que ele teve.
“Foram adquiridas casas em nome de empresas, cujos sócios eram pessoas sem a mínima capacidade econômica para a aquisição de imóveis, veículos, aeronaves. Nós constatamos sócios de empresas, por exemplo, que trabalham em um restaurante, mas que são sócios de várias empresas que movimentaram dezenas de milhões de reais”, detalha Ricardo Ruiz.
De acordo com a PF, Roland movimentava uma grande engrenagem para lavar dinheiro, com mais de 100 empresas de diversas áreas: construção civil, aviação, locação de veículos, comércios em geral e investimento em criptomoedas. Além de mais de 200 pessoas envolvidas, a maioria laranjas. Um megaesquema que movimentou em cinco anos mais de R$ 5 bilhões.
Como a quadrilha agia
Relatórios do Coaf, órgão de inteligência financeira do governo federal, apontam como a quadrilha agia.
Os criminosos chegavam com sacos de lixo com muito dinheiro vivo. Faziam depósitos fracionados em caixas eletrônicos de uma agência bancária — dezenas de vezes. Quando chamavam a atenção, iam embora. Uma ação dessas ocorreu na Zona Norte de São Paulo: R$ 60 mil fracionados em 20 envelopes.
A loja de biquínis da mulher do traficante foi uma das que recebeu dinheiro. Em um único dia, o estabelecimento registrou R$ 200 mil em depósitos fracionados, feitos em um caixa eletrônico em Foz do Iguaçu (PR). Por isso, Andrezza também foi alvo dos policiais durante a operação.
“O que nós constatamos foi a ausência de capacidade econômica e financeira também da esposa, que construiu uma loja de biquínis, que adquiriu veículos, aeronaves”, diz o delegado Ricardo Luiz.
A loja de biquínis chegou a comprar um avião de R$ 3 milhões.
Histórico criminoso
Ronald Roland, 50 anos, tem uma extensa ficha criminal. Até os anos 2000, ele era investigado pela Polícia Civil de São Paulo por crimes contra a ordem econômica:
- sonegação de impostos;
- corrupção ativa;
- associação criminosa; e
- falsidade ideológica.
A partir de 2012, já como piloto de avião, passou a ser monitorado pela Polícia Federal por envolvimento com o tráfico internacional de drogas.
“Ele é uma pessoa altamente cautelosa. Existiram inúmeras operações da PF que investigaram organizações criminosas que atuavam eminentemente no tráfico de entorpecentes por toda América do Sul, Central e México, e o Ronald foi investigado nessas operações por associação com esses grandes narcotraficantes”, destaca o delegado.
Em nota, a defesa de Ronald Roland e de Andrezza informou que não vai se manifestar, por enquanto, porque não teve acesso a todo o processo.