Quem é Cristiano Zanin, advogado indicado por Lula para o STF
Advogado do presidente Lula, Cristiano Zanin defendeu o petista nos processos da Operação Lava Jato. Nome precisa passar pelo Senado
atualizado
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Cristiano Zanin é o nono nome escolhido por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o Supremo Tribunal Federal (STF) nos três mandatos do petista como presidente. Foram quase dois meses de espera até que o mandatário anunciasse a decisão. Isso porque a Corte está com uma cadeira vaga desde 11 de abril, quando Ricardo Lewandowski se aposentou.
Lula tentava medir a temperatura do Congresso Nacional para aprovação de seu advogado na Operação Lava Jato como novo ministro do Supremo. Com a sinalização de que o nome não deve enfrentar resistências no Senado, o petista decidiu comunicar a escolha ao Legislativo.
Cristiano Zanin Martins nasceu em Piracicaba, interior de São Paulo, em 1975. Quase duas décadas depois, em 1994, mudou-se para a capital, onde cursou direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Após se formar, em 1999, o advogado seguiu na universidade, onde fez especialização em direito processual civil. Além disso, foi professor de direito civil e direito processual na Faculdade Autônoma de Direito (Fadisp).
Ele trabalhou em escritórios tradicionais da cidade, como o Arruda Alvim e Teixeira Martins Advogados, antes de abrir a própria empresa, em 2022, com a esposa, Valeska Martins. A mulher é filha de seu ex-sócio Roberto Teixeira, que se filiou ao PT em 1982 e trabalhou como advogado de Lula desde então. Teixeira é amigo do presidente e atuou na ação que permitiu ao petista acrescentar o apelido Lula ao sobrenome da família.
Em 2013, Zanin se tornou advogado de Lula e de sua família. Dados do acervo do STF mostram que, dos 135 processos impetrados por Zanin no tribunal, 81 são dedicados à defesa do, hoje, presidente da República e sete à família do petista.
Uma das primeiras ações que teve atuação de Zanin e ganhou repercussão na mídia foi a de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. “Meu cliente está cansado de ser vítima desse bullying eletrônico, feito com a manifesta intenção de atacar a sua honra”, disse Zanin à época, em 2013.
Lava Jato
Em 2016, Zanin passou a assumir os processos do próprio Lula, no âmbito da Operação Lava Jato. Lula foi investigado pela relação com empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras.
O MPF apurava o suposto repasse de R$ 30 milhões das construtoras para empresas de Lula, além do pagamento de despesas do ex-presidente e de parentes. Na época, Lula foi conduzido coercitivamente a prestar depoimento, o que gerou protestos e críticas de juristas. O petista sempre negou as acusações e declarou ser vítima de perseguição.
“Toda pessoa tem o direito de defender a sua honra, a sua imagem. Evidentemente, o fato de envolver uma pessoa dessas gera um interesse maior da imprensa e corremos o risco de aquilo ser deturpado na mídia. Nós temos sempre o cuidado de fazer uma avaliação minuciosa de cada providência jurídica que será adotada, pois trata-se da pessoa com maior capital político do país”, disse Zanin sobre Lula em entrevista de 2016.
O atual presidente foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex de Guarujá, em São Paulo, e ficou preso de abril de 2018 a novembro de 2019.
O advogado foi o autor, em 2021, do pedido que resultou na anulação pelo STF de todas as condenações do petista no caso. O órgão entendeu que Lula não teve seus direitos respeitados, já que as decisões não poderiam ter sido tomadas pela vara responsável pela Lava Jato, a de Curitiba, e que o caso deveria ser reiniciado no Distrito Federal. Mas a Justiça do local reconheceu a prescrição dos crimes, e Lula não responde mais por eles. Com isso, o petista concorreu e venceu as últimas eleições à Presidência, em 2022.
Lula também teve as condenações que retiravam seus direitos eleitorais anuladas em abril de 2021. No mesmo julgamento, Sergio Moro foi considerado parcial em suas decisões. O então juiz teve diálogos vazados nos quais orientava ilegalmente ações da Lava Jato.
Pós-anulação
Desde a soltura de Lula, Zanin tem focado sua atuação em processos por calúnia contra o mandatário. Durante as eleições, o escritório em que trabalha judiciou centenas de ações contra parlamentares, candidatos, partidos e pessoas físicas por publicação de notícias falsas sobre o atual presidente.
Em janeiro deste ano, Zanin foi hostilizado no Aeroporto Internacional de Brasília. As agressões ocorreram enquanto o advogado escovava os dentes em um banheiro.
O agressor, o empresário Luiz Carlos Basseto Junior, classifica Zanin como “o pior advogado que pode existir”, além de chamá-lo de “bandido”, “corrupto” e “safado”. O advogado não responde às agressões.
Nas imagens, que circularam nas redes sociais, Basseto afirma ter o desejo de agredir Zanin: “Vontade de meter a mão na orelha de um cara desses”. O empresário diz ainda que o advogado deveria “tomar um pau (sic) de todo mundo que está andando na rua”.
Em fevereiro, Zanin entrou com ação contra Basseto por ameaça e agressão verbal. Ele pede indenização por danos morais de R$ 150 mil. O caso tramita no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT).