Quatro homens mataram os nove trabalhadores rurais em Colniza (MT)
Segundo investigações, assassinos entraram em cada barraco executando as vítimas, cujos corpos já foram enterrados. Igreja teme mais mortes
atualizado
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A polícia já sabe que foram quatro homens os autores da chacina na gleba Taquaruçu do Norte, em Colniza (MT). Segundo os investigadores – dos serviços de inteligência das polícias Civil e Militar do estado –, os assassinos “entraram e executaram, barraco por barraco, as pessoas que estavam dentro deles”. O clima é de pânico na vila e a segurança foi reforçada. A identificação da maioria dos corpos só foi possível com apoio de prontuários civis dos Institutos de Identificação dos estados e/ou cidades de origem das vítimas.
De acordo com a perícia, as vítimas sofreram tortura. Alguns corpos estavam amarrados e um deles teve uma orelha cortada (e levada). Os trabalhadores rurais foram executados a golpes de facão e por tiros de uma arma calibre 12.
As vítimas são Fábio Rodrigues dos Santos, Izaul Brito dos Santos, Ezequias Santos de Oliveira, Samuel Antônio da Cunha, Francisco Chaves da Silva, Valmir Rangeú do Nascimento, Aldo Aparecido Carlini, Sebastião Ferreira de Souza, Edson Alves Antunes.
Conflito pode fazer mais vítimas
Representantes da Igreja Católica na região divulgaram nota na qual lamentam a chacina em Colniza e alertam para risco de novas situações violentas. Segundo o texto “as famílias de agricultores da Gleba Taquaruçu vêm sofrendo violência desde o ano de 2004”, quando a Cooperativa Agrícola Mista de Produção Roosevelt conseguiu na Justiça a reintegração de posse do lugar.
Em 2007, ao menos 10 trabalhadores foram vítimas de tortura e cárcere privado e três agricultores foram assassinados
Reconhecido internacionalmente por sua luta em defesa dos direitos humanos, principalmente na região do Araguaia (MT), o bispo emérito de São Félix do Araguaia, dom Pedro Casaldáliga, tem prestado apoio aos trabalhadores rurais. Ele lembra que o município já foi considerado o mais violento do país. A nota da igreja informa que existem outros conflitos de extrema gravidade, como o da fazenda Magali, que começou em 2000, e o conflito na Gleba Terra Roxa, iniciado em 2004.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) informou que há mais de uma década são comuns conflitos fundiários no local. Segundo a entidade religiosa, “investigações policiais feitas nos últimos anos apontaram que os gerentes das fazendas da região comandavam uma rede capangas, altamente armados que usavam o terror para expulsar os pequenos produtores da área”.
A OAB/MT informou em nota que acompanhará toda a investigação cobrando uma apuração rigorosa e correta do caso. Segundo a entidade, “há muito tempo a questão agrária e fundiária, especialmente na região Norte de Mato Grosso, deixou de ser palco de disputa de terras para se tornar um cenário de violência constante e descontrolada”. A nota encerra afirmando que é inadmissível “nos dias de hoje, que episódios brutais como esses se transformem em estatísticas. Não vivemos numa terra sem leis e não podemos admitir que se pense o contrário”.