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Após puxão de orelha de Lula, quais ministros terão que dar resultado

Presidente Lula realizou primeira reunião do ano com todos os ministros nesta segunda-feira (18/3). Encontro foi “tenso” e durou 5 horas

atualizado

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Ricardo Stuckert
Reunião ministerial
1 de 1 Reunião ministerial - Foto: Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez, nesta segunda-feira (18/3), a primeira reunião do ano com todos os ministros de Estado para avaliar os resultados do mandato. E o clima não foi nada bom: o petista cobrou, veementemente, mais ações dos seus comandados. Relatos de quem participou do encontro, que durou quase cinco horas, descreveram um ambiente “tenso”.

A reunião foi marcada por exigências – entre elas, a de que os ministros repassem ao público o que tem sido feito de melhor por cada pasta. Dessa forma, há pressão para um ajuste na comunicação de todos os titulares, não apenas em relação ao chefe da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta.

Apesar disso, o chefe do Executivo se dirigiu a Pimenta durante o encontro: “Se as pessoas não falam bem da gente, nós é que temos que falar”. A comunicação da Presidência havia se adiantado às cobranças e estreado, na última semana, a Secom Volante. No programa, Pimenta viaja com uma comitiva de ministros para explicar à população o que tem sido realizado pelo governo federal.

Na análise de cientistas políticos, outras pastas particularmente tensionadas no momento são a Fazenda, pela relevância da distribuição orçamentária e pelas medidas de impacto direto na vida da população, além de Saúde e Educação, que são alvo do Centrão por seus grandes caixas e pela importância estratégica.

Fernando Haddad é um cara que vai ser cobrado sempre, quem estiver na cadeira da Fazenda vai, e ele está indo bem”, avaliou o cientista político André Pereira César. A cobrança é justificável, pois a pasta é uma das articuladoras para a meta de reduzir os preços dos alimentos, em especial o arroz e feijão, como forma de garantir a popularidade do governo.

Pereira ainda apontou um “problema sério” na comunicação, que não encontrou formas de “traduzir” as ações implementadas. “O governo tem bons números, a economia está indo bem, mas não consegue passar para a sociedade”, disse.

E isso, no caso, como dito anteriormente, não significa apenas a comunicação direta do presidente, responsabilidade da Secom, mas sim uma situação que chega ao que as áreas do governo estão executando e não informando de forma adequada à população.

Saúde e Educação na mira do Centrão

Nísia Trindade, chefe da Saúde, chegou a se emocionar após ser chamada para explicar sobre como o ministério responde ao surto de dengue no país e ao aumento de notificações de mortes de indígenas Yanomamis, em Roraima, desde o início do novo governo.

“A gente tem também uma discussão da dengue, é uma questão que ganha atenção nas redes sociais, de uma parte talvez mais vulnerável da população, e o Ministério [da Saúde] tem que responder como tem contido o surto de dengue”, explicou Rodrigo Gallo, cientista político e coordenador de Relações Internacionais no Instituto Mauá de Tecnologia.

Já a Educação, liderada por Camilo Santana, possui algumas batalhas pela frente, como a necessidade de avançar em mudanças do Novo Ensino Médio no Congresso e melhorar a adesão ao Exame do Ensino Médio (Enem), por exemplo. Apesar disso, a pasta tem alcançado destaque positivo por causa do programa Pé de Meia, lançado este ano e que é voltado para o Ensino Médio.

As duas áreas, aliás, por sua importância central na Esplanada dos Ministérios, pela execução de programas relevantes e pelos vastos orçamentos, são alvo de interesse do Centrão desde o ano passado. A ministra Nísia Trindade, por exemplo, é considerada excelente técnica, mas tem sido cobrada pela apresentação tímida de resultados positivos até agora. Ainda que o MEC tenha começado a contabilizar alguns ganhos, a situação de Camilo Santana também não é confortável, tendo em vista toda a força do órgão que ele comanda.

Evangélicos e mulheres

A reunião com ministros aconteceu em meio à pressão para melhorar a imagem do governo diante das recentes pesquisas de opinião, divulgadas no início de março. O presidente viu a popularidade cair, sobretudo entre mulheres e evangélicos. Esse último público, impulsionado pelas declarações do petista sobre a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza.

“Os grupos de esquerda do Brasil têm dificuldades de dialogar com setores do cristianismo, os evangélicos e principalmente os pentecostais. Em parte, porque partidos de esquerda demoraram para perceber o peso do voto do evangélico”, afirmou Gallo.

Além disso, o cientista político apontou agendas de esquerda “muito malvistas” pelo setor religioso. Para isso, será necessária uma estratégia que não abandone pautas como aborto e legalização das drogas, caras aos progressistas, com o objetivo de mostrar a esse público que, “apesar das divergências, também há convergências”.

Eleições municipais

O analista reforçou a chegada das eleições municipais, em outubro deste ano. “A gente não pode desvincular do plano federal as eleições municipais, que acabam absorvendo questões do nível federal e podem indicar o que acontecerá daqui a dois anos”.

“A eleição do Lula em 2026 depende disso. É inegável que a reunião acontece em um momento em que o governo precisa dar uma reagida à queda de popularidade. Se você não contiver uma queda de popularidade agora, ela contamina a municipal”, afirmou.

Governo pede cautela

Dentro e fora da reunião, membros do governo minimizam a relevância das pesquisas de avaliação divulgadas em março. Segundo o colunista Igor Gadelha, do Metrópoles, Lula chegou a desdenhar dos resultados e os limitou a apenas uma fotografia do momento.

Parte dos ministros pede cautela e interpreta as amostragens como insuficientes, especialmente quando se trata de recortes de gênero e religião, já que o público consultado se torna ainda menor nesses casos.

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