PSOL entra com representação contra desembargadora que acusou Marielle
Na última sexta-feira (16/3), a magistrada acusou a vereadora de estar “engajada com bandidos” e de ter sido “eleita pelo Comando Vermelho”
atualizado
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O PSOL entrou no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com representação contra a desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Na última sexta-feira (16/3), a magistrada acusou a vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada na última quarta-feira (14), de estar “engajada com bandidos”, ter sido “eleita pelo Comando Vermelho” e ter descumprido “‘compromissos’ assumidos com seus apoiadores”. O partido e familiares da parlamentar repudiaram as acusações. A reportagem procurou a desembargadora, que não retornou o contato
“Representamos contra a desembargadora no CNJ e esperamos que o Judiciário mostre que essa mulher é uma exceção nesse Poder, para o bem da democracia”, afirmou o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). Neste domingo (18), ele participou de ato em homenagem à vereadora no complexo de favelas da Maré, na zona norte do Rio, onde Marielle viveu.
O texto continua: “A verdade é que jamais saberemos ao certo o que determinou a morte da vereadora, mas temos certeza de que seu comportamento, ditado por seu engajamento político, foi determinante para seu trágico fim. Qualquer outra coisa diversa é mimimi da esquerda tentando agregar valor a um cadáver tão comum quanto qualquer outro”.
Freixo criticou quem tenta atingir a imagem de Marielle: “Esses imbecis, togados ou não, que tentam de alguma maneira matá-la de novo, não vão conseguir. A Marielle está sofrendo um duplo homicídio. Não basta o covarde que apertou o gatilho, ainda tem covarde de plantão que não está preparado para julgar, mas para prejulgar, dizendo que a Marielle foi casada com bandido, com traficante, que sua filha é isso… é um nível de perversidade que a gente não está disposto a aturar. A Marielle não teve a filha, a Luyara, com um traficante. Mas e se fosse? Isso condena a Marielle a quê? O pai da Luyara é um rapaz que trabalha no Luta pela Paz, dentro da favela da Maré. A Marielle foi eleita com 7 mil votos (recebidos) no Jardim Botânico. Depois foi Barra (da Tijuca), Copacabana e Laranjeiras. Como assim dizer que Marielle foi eleita por Comando tal ou Comando tal?”
Após constatar o volume de calúnias de que Marielle passou a ser vítima, um grupo de advogadas começou na última quinta-feira (15) a rastrear as postagens mentirosas contra a vereadora. Todos os casos, com seus respectivos autores, serão encaminhados à Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), da Polícia Civil, ou à Justiça para pedido de retratação pública. Até domingo (18) já haviam sido recebidas mais de 2.000 denúncias. Elas podem ser enviadas para o e-mail contato@ejsadvogadas.com.br.
Manifestação
Milhares de pessoas participaram de caminhada em homenagem a Marielle no início da tarde deste domingo (18) no complexo de favelas da Maré. Além de moradores, havia políticos como Freixo, o vereador Tarcísio Motta, o deputado estadual Flavio Serafini e o deputado federal Chico Alencar, todos do PSOL, e os deputados federais Benedita da Silva (PT), Jandira Feghali (PCdoB) e Alessandro Molon (PSB), todos eleitos pelo Rio. Também havia artistas, como Débora Bloch, Camila Pitanga, Marcelo Adnet e Bruna Linzmeyer.
“Quando a questão é ideológica, eu acho saudável haver debate. Quando uma vereadora é executada, nós temos que esclarecer, porque é um crime contra a democracia”, afirmou Adnet.
Durante a manifestação, da qual participaram vários familiares de Marielle, mulheres da comunidade discursaram: “Pensam que o lugar de gente preta e pobre é no cemitério ou na cadeia, mas não vamos deixar. Vamos continuar na política”, afirmou uma delas. Até este domingo, o Disque Denúncia já recebeu 23 denúncias envolvendo o assassinato da vereadora.
Na próxima terça-feira (20), a partir das 19h, haverá um ato ecumênico na Cinelândia (região central) em homenagem adiantada ao sétimo dia da morte de Marielle. O plano do PSOL e de entidades de direitos humanos é que o ato seja repetido nesse horário em outras cidades do País e do mundo. Antes, às 17h, manifestantes vão se reunir ao redor da igreja da Candelária, de onde partirão em passeata rumo à Cinelândia. O ato, convocado pela internet, já havia recebido a adesão virtual de mais de 40 mil pessoas até as 18h de domingo.