Promotora pede absolvição de 4 dos 12 militares por morte de músico e catador
O Ministério Público Militar pediu ainda a absolvição dos militares por omissão de socorro durante ação com 257 tiros, em abril de 2019
atualizado
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Rio de Janeiro – A promotora Najla Nassif Palma, do Ministério Público Militar (MPM), pediu a absolvição de quatro dos 12 militares acusados da morte do músico Evaldo Rosa dos Santos, de 51 anos, e do catador de recicláveis Luciano Macedo. O julgamento acontece nesta quarta-feira (13/10) na 1ª Auditoria da Justiça Militar, da 1ª Circunscrição Militar, na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro.
Segundo a promotora, o cabo Paulo Henrique Araújo Leite e os soldados Wilian Patrick Pinto Nascimento, Vitor Borges de Oliveira e Leonardo Delfino Costa não atiraram durante a ação. Najla também pediu a absolvição de todos os 12 acusados de omissão de socorro, porque o tenente Ítalo da Silva Nunes acionou por telefone a Polícia Militar.
A ação aconteceu em 7 de abril de 2019 e foi dividida em duas partes pelo MPM. Na primeira, os militares atuaram no assalto a um Honda City com a participação de um Ford Ka branco, que fugiu do local. O veículo foi confundido com o conduzido por Evaldo, que também era um Ford Ka branco.
Ao todo foram 257 tiros no episódio, dos quais 62 atingiram o carro de Evaldo. Com o músico, estavam outros quatro passageiros, sendo que o sogro dele, Sérgio Gonçalves Araújo, ficou ferido. E mais 20 disparos em direção ao Luciano, que estava próximo e só foi tentar socorrer a família. Escaparam ilesos, Luciana dos Santos Nogueira, de 43 anos, Davi, de 7 anos, mulher e filhos do músico e uma adolescente.
“Bate o medo da impunidade”
Para o MPM, apenas oito militares devem ser condenados pelas mortes do músico e do catador recicláveis e pela tentativa de homicídio contra Sérgio. São eles: o tenente Ítalo da Silva Nunes, o sargento Fábio Henrique Souza Braz da Silva, o cabo Leonardo Oliveira de Souza e os soldados Gabriel Christian Honorato, Matheus Sant’Anna, Marlon Conceição da Silva, João Lucas da Costa Gonçalo e Gabriel da Silva de Barros Lins.
“A versão dos militares afronta a dignidade das vítimas e como matá-los pela segunda vez”, afirmou a promotora ao referir-se a tese de que Luciano estaria armado, por ter ficha criminal, rechaçando a versão de autodefesa dos acusados.
A viúva do músico, Luciana dos Santos Nogueira, defende justiça justa pela morte do marido, que aconteceu há dois anos e meio.
“Está sendo muito difícil. Bate o medo da impunidade. Não é justo o que não fizeram, pagar pelos erros dos outros. Tem que ocorrer uma justiça digna”, disse.
Julgamento
O julgamento nesta quarta-feira começou às 9h15. A promotora teve direito a mais de duas horas para mostrar os depoimentos de testemunhas, apresentar laudos, como o cadavérico e de local, além de vídeos.
“Não é a imagem do Exército que está sendo julgada. Vivemos uma violência urbana, não guerra para justificar fuzilamento sem agressão. Se estivéssemos numa guerra, foram atingido civis e isso seria crime”, afirmou Najla.
A ação dos militares, segundo a promotoria, foi divida em dois momentos. No primeiro, por volta das 14h30, eles desceram o viaduto de Deodoro, em direção à Avenida Brasil, quando encontraram um Honda City Branco e um Ford Ka Branco, atravessado na pista, de onde teriam saltado dois criminosos armados e não identificados, e um permaneceu no banco do motorista.
Depois do confronto os bandidos fugiram, mas na verdade, o carro de Evaldo também um Ford Ka Branco foi atingido. Durante as investigações não foram encontradas marcas de disparos na viatura militar e nem no entorno do local.
O julgamento teve um intervalo de uma hora para o almoço. No retorno da sessão, o assistente de acusação falará, e em seguida a defesa. O veredito ficará a cargo da juíza Mariana Aquino mais quatro militares, que compõem o Conselho Especial de Justiça, escolhidos por sorteio. São eles: a tenente-coronel Sandra Fernandes de Oliveira Monteiro; major Rêmulo Dias de Carvalho, major José Adail da Silva Ferreira e capitão Fernando Perotti.