Projeto com obras e até teleférico em cachoeiras da Chapada dos Veadeiros é alvo de críticas
Projeto Gênesis, do Governo de Goiás, prevê a construção de um grande complexo arquitetônico na região do Parque Estadual Águas do Paraíso
atualizado
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Goiânia – Moradores e ambientalistas travam uma briga contra o Governo de Goiás por causa de um projeto de construção de um grande complexo arquitetônico no Parque Estadual Águas do Paraíso, na Chapada dos Veadeiros, no nordeste de Goiás. A obra está incluída em um programa com orçamento inicial previsto de quase R$ 4 milhões.
Batizada de “Projeto Gênesis”, a proposta tem recursos oriundos de compensação ambiental. Ela ganhou mais resistência de moradores da região desde que foi apresentada, pelo governador Ronaldo Caiado (DEM), em evento fechado para autoridades e empresários, na última sexta-feira (10/9).
“É um verdadeiro show de horrores”, disse o vereador Marconey Correia (Rede), de Alto Paraíso. “Como manter prédios como esse se a cidade mal consegue suprir a necessidade atual de água, energia elétrica e saneamento?”, questionou, ressaltando que antes o governo estadual deveria ter ouvido a comunidade.
Veja imagens do projeto e da Chapada:
“Um projeto megalomaníaco e de alto impacto ambiental, que demonstra o distanciamento que o governo e os empresários envolvidos têm com a tal ‘sustentabilidade’, a preservação do Cerrado e as pautas mais urgentes”, diz um comunicado de moradores que circula nas redes sociais.
Uma das principais preocupações da comunidade e de ambientalistas é que o projeto atraia especulação imobiliária para a região. Nos grupos de guias e moradores, a proposta vem sendo chamada de “Cidade dos Couros”, por conta da série de construções e da região onde elas estão programadas: nas imediações das Cataratas dos Couros.
O nordeste goiano é onde estão as principais áreas preservadas de Cerrado do estado. Próximo ao local onde está o Projeto Gênesis, fica o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, que teve sua área aumentada recentemente, mas que tem um projeto tramitando na Câmara dos Deputados que propõe sua redução. A autoria é do deputado delegado Waldir Soares (PSL-GO).
“Desenvolvimento sustentável”
Oficialmente, o governo informa que é um projeto de “desenvolvimento sustentável”, que visa “transformar” o nordeste goiano, incluindo 20 municípios. No evento, informou contar com um grupo de 11 consultorias para execução da proposta.
Entre os investimentos do projeto, está a construção de um complexo de equipamentos e edificações: Portal Águas do Paraíso, Museu da Água, Museu do Amanhã, Domo Geodésico, Templo Ecumênico, Equilibrium – Natureza e Saúde, planetário e Centro de Referência para o Desenvolvimento Sustentável (Cerne).
Gestão compartilhada
A unidade de conservação do Parque Águas do Paraíso é administrada de forma compartilhada entre o Governo de Goiás e a Prefeitura de Alto Paraíso. Segundo o projeto de desenvolvimento do nordeste goiano, o objetivo é transformar a região por meio do turismo, inovação e desenvolvimento sustentável.
Nas redes sociais, moradores cobram investimentos básicos como infraestrutura e saneamento básico. Outros criticam a grandiosidade das construções propostas pelo governo.
“Pra que tudo isso?! Estrutura de metal e vidro fechado, em meio a um cerrado maravilhoso. Imaginem o quanto de ar-condicionado, energia elétrica que esses negócios vão consumir. Além da desconexão com a paisagem ao redor e impacto que isso causará”, escreveu uma moradora da região.
As reclamações também incluem a origem do dinheiro. “Os recursos das compensações ambientais têm que ser usados para recuperar áreas degradadas, em infraestrutura para evitar incêndios, em educação ambiental, em turismo ecológico, em necessidades reais! Nós moradores da Chapada não permitiremos”, escreveu outra moradora.
A secretária estadual do Meio Ambiente, Andrea Vulcanis, reforçou que o “programa visa desenvolver de forma integrada e sustentável o nordeste goiano”. “Temos uma dicotomia na região: a maior porção do Cerrado preservado em Goiás também é onde temos os menores índices de desenvolvimento humano. É muita pobreza, muita falta de oportunidade para as pessoas.”