Professores e estudantes foram espionados durante a ditadura, diz UFSC
Em relatório da Comissão da Verdade, elaborado pela instituição, pesquisadores descobrem ligação entre o fundador Victor Lima e a ditadura
atualizado
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Estão vindo à tona informações de que Universidades colaboraram com a ditadura militar no Brasil, através de espionagem de alunos e professores. Em março, a Comissão da Verdade da Universidade de São Paulo (USP), entregou um relatório com informações a respeito de um setor responsável por esse trabalho à época. Na mesma linha, a Comissão da Memória e Verdade da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) entrega nesta segunda-feira (14/5), um relatório semelhante.
O documento da UFSC traz informações de membros da administração, que na ocasião da ditadura, assumiram o “papel de espionagem, denúncia, censura, repressão e controle ideológico” de alunos e professores. De acordo com o texto, a partir de 1972, durante o governo de Garrastazu Medici, a universidade montou uma estrutura chamada de Assessoria de Segurança e Informação (AESI), que municiava o Serviço Nacional de Informações (SNI).
A USP também tinha uma AESI subordinada à reitoria, que colaborou com a perseguição política e reuniu evidências de formatações ideológicas e administrativas no período.
Além das Universidades citadas, outras cinco, pelo menos, formularam relatórios de comissões independentes a fim de investigar os efeitos da ditadura militar no funcionamento das faculdades e a contribuição dada por elas aos aparelhos de repressão do Estado: Universidade Federal da Bahia (UFBA), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Outras instituições estão fazendo a mesma pesquisa, ainda sem conclusão, como por exemplo, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
As comissões universitárias se formaram após a criação da Comissão Nacional da Verdade, em 2002, com intuito de investigar e esclarecer violações de direitos humanos praticadas pelo Estado entre 1946 e 1988.
Segundo os pesquisadores da UFSC, a universidade era considerada pelos militares referência na aplicação dessa reforma. O fundador da universidade, João David Ferreira Lima, que foi reitor de 1960 a 1972, atuou na formulação do projeto.
De acordo com Victor Cunha, um dos membros da Comissão da UFSC, a instituição passou a ser considerada pelo regime militar uma das referências na implantação da Reforma de 1968, pelo fato de Lima ser visto, além de grande autoridade em gestão universitária, aliado à implantação dos decretos presidenciais e ações de investigação e repressão da ditadura militar.