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Professores da rede pública relatam desafios do uso do celular em sala

O uso do celular em sala de aula é discutido em projeto de lei que visa vetar o uso do aparelho no ambiente escolar

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Chokniti Khongchum / EyeEm/ Getty Images
Celular sendo utilizado
1 de 1 Celular sendo utilizado - Foto: Chokniti Khongchum / EyeEm/ Getty Images

No auge da discussão sobre o projeto de lei (PL) nº 104/2015, que veta o uso de aparelhos eletrônicos na sala de aula, professores relatam desafios diários para manter o controle sobre o uso do celular em sala e garantir uma aprendizagem menos dispersa para os alunos.

O objetivo é ter uma lei de âmbito nacional que possa regular e proibir o uso do aparelho celular dentro da sala de aula, seja na escola pública ou privada. O uso é proibido apenas em caso de recreação, sem se estender para emergências ou para fins pedagógicos.

Ao longo dos 18 anos de sala de aula, Hakelly Cruz, professora de português do ensino fundamental da rede pública, percebeu na prática a diferença de gerações dos alunos que passaram por sua docência, acompanhando a evolução da tecnologia e a chegada dela para a sala de aula.

“Antigamente eu percebia alunos menos dispersos e ansiosos. É uma percepção que vem do dia a dia enquanto acompanho o vício que vai além do ambiente escolar. Muitos alunos chegam cansados, com olheiras e com sono por ter virado a noite na internet e sem o controle dos pais.”, relata a professora.

Como professora de português, a docente relata que o desinteresse aparece também no hábito de escrever e atrapalha em matérias essenciais, como a redação. “Durante correções de redações do CAED [Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação], um programa de avaliação contínua das aprendizagens, vemos o ‘internetês’ indo para as redações. Muitas abreviações, como se fosse uma conversa informal no WhatsApp.”

Aliados e riscos

Apesar de reconhecer os avanços tecnológicos como possíveis aliados e a possibilidade de usá-lo de forma pedagógica dentro de sala, Hakelly também alerta que dentro do ambiente da escola pública, ele pode ser um objeto de segregação dos alunos.

“Existe o outro lado da história, temos alunos que sequer tem celular. Na rede pública, lidamos com alunos de todas as classes sociais e dentre elas, tem aqueles que vão para a escola buscando acesso a alimentação e nessas condições, obviamente não possuem um celular. Nessa hora, esbarramos nas limitações e pode surgir uma forma de prejudicar uns enquanto potencializamos o privilégio de outros.”

Larine Araújo é professora de química e também atua na rede pública. Em oito anos de sala de aula, ela relata perceber uma mudança comportamental

“Os alunos estão menos focados em sala de aula e estão mais apegados ao celular e as informações de fácil acesso. Eles demonstram estar mais ‘viciados’ nas redes sociais e até mesmo em criar conteúdo dentro da escola.”

Dentro das exigências que o corpo docente tem com os alunos, a professora optou por tentar flexibilizar e encontrar acordos em algumas brechas da aula. “Enquanto não estou explicando matéria ou quando termina a atividade. É algo combinado, assim como ida ao banheiro e beber água, mas tem consequências caso insistam em descumprir o que foi acordado.”

Na questão didática, para ela a tecnologia faz parte da sua área de atuação então ela tenta ao máximo adaptar para uma questão pedagógica.

“A gente tenta viabilizar a saída da questão de testes, avaliações de papel e caneta para tentar sair da rotina e despertar um pouco mais de interesse. A gente traz a tecnologia porque já tá na palma da mão dele e para lidar com a questão de alguns não terem aparelho celular, a gente monta atividades em duplas ou trios, já que temos uma maioria com o aparelho.”

A docente também reforça que é importante os educadores e a família assumirem um papel de orientação para esses jovens e as questões que envolvem tecnologias e redes sociais.

“Os adolescentes estão sendo bombardeados de informações, então a gente precisa trabalhar para que eles consigam perceber e serem críticos em relação a usar essa ferramenta. É difícil, mas temos esse papel de orientá-los em relação à utilização desses equipamentos e esse é um trabalho em conjunto com a família.”

PL nº 104/2015

O projeto de lei, que veta o uso de aparelhos eletrônicos nas salas de aula, foi aprovado na quarta-feira (30/10) na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. O texto, agora, segue para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, depois, para votação no plenário.

O ministro da Educação, Camilo Santana, afirmou ser consenso no Ministério da Educação (MEC) o veto do uso de celular no ambiente escolar, principalmente dentro de sala de aula. Durante a coletiva realizada no G20 Educação em Fortaleza (CE),  no mesmo dia em que o PL foi aprovado na comissão, o chefe da pasta informou que a ideia é aproveitar os projetos de lei que já tramitam no Congresso, em vez de apresentar proposta própria.

“Temos a ideia de aproveitar projetos de lei já estão na Câmara. O MEC está dialogando com projeto que já está sendo discutido na Comissão de Educação, para que a gente possa aprovar um projeto que possa regular e proibir o uso do aparelho celular individual dentro da sala de aula”, afirmou Santana.

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