Professora aconselha aluna a alisar cabelo crespo por ser “bagunçado”
Durante a aula, professora de escola estadual de Jundiaí falou que cabelo da menina era feio e que não combinava com seus olhos verdes
atualizado
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São Paulo – Uma menina de 12 anos afirma que foi vítima de racismo em uma escola estadual de Jundiaí, no interior paulista. No dia 10 de dezembro, a jovem relata ter ouvido de sua professora de geografia, na escola Cecília Rolemberg Porto Gueli, que seu cabelo era “feio” e que ela deveria alisá-lo porque ele é muito “bagunçado”.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, a garota conta que, ao fim da aula, a professora fez críticas sobre os fios.
“Disse que meu cabelo é muito feio, que ele não combina com meu olho verde e que eu precisava fazer uma escova ou passar um creme porque ele é muito bagunçado. No momento, eu fiquei um pouco constrangida porque foi na frente de todos os meus colegas de sala”, relatou.
Karen Naves Pinheiro, a mãe da menina, contou em entrevista ao Metrópoles que ,após a situação, não teve nenhum apoio da escola e nem da Secretaria Estadual de Educação.
“Ela está melhorando, indo ao psicólogo, mas não quer voltar para a escola. Estamos fazendo um trabalho com um psicólogo para tentar que, algum dia, ela volte para a escola”, lamenta.
“Sucessão de erros”
Karen chegou em casa à noite e a menina estava com os olhos inchados após chorar muito, e contou o que havia ocorrido.
A filha relatou que a professora falava que as meninas precisam “se cuidar, ser vaidosas” para agradar os meninos, quando disse que os olhos verdes da menina não combinavam com seu cabelo crespo. A jovem teria começado a chorar logo em seguida por causa dos comentários, e aí ocorreu uma “sucessão de erros” por parte da escola, segundo a mãe.
“O professor que entrou na sequência viu que a minha filha estava chorando, os colegas relataram o que tinha acontecido, e ele levou ela até a vice-diretora, porque a diretora não estava. Mas a vice-diretora tinha um compromisso, pediu para o coordenador resolver, foi embora e deixou minha filha lá”, conta.
“Aí o coordenador falou com minha filha para não levar em consideração o que a professora dizia, que ela era uma idosa, fez a professora pedir desculpas, e falou pra ela lavar o rosto porque é feio chorar. Em outras palavras: engole o choro e volta para a aula”, relatou a mãe.
A menina foi para a casa e chorou até a meia-noite, segundo Karen. “As amigas ficaram tão chocadas quanto ela, as mães ficaram revoltadas, as mães e os pais mandaram mensagem para a gente”, lembra. Ela ligou para o coordenador, mas não conseguiu conversar com ele, e registrou um boletim de ocorrência no dia 13.
O caso foi registrado como injúria racial, e será investigado pelo 1º DP da Polícia Civil de Jundiaí.
A situação também é apurada pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc). Em nota, a pasta afirmou que “repudia qualquer tipo de preconceito e discriminação” e contou que, na última sexta (17/12), profissionais do Programa Psicólogos na Educação estiveram presentes na escola para atendimento da aluna, e seguirão prestando esse apoio.
“Com a finalização do processo de apuração, a Seduc-SP tomará as providências cabíveis, que podem resultar na extinção do contrato da profissional”, informou a secretaria.
A secretaria ainda afirmou que “trabalha veemente na formação presencial e online de toda a rede com a Trilha Antirracista, bem como atua na promoção de um ambiente solidário, colaborativo, acolhedor e seguro nas escolas, sendo um dos compromissos o combate ao racismo estrutural” e que a Diretoria de Ensino de Jundiaí está organizando reuniões com lideranças do movimento negro na região “para alinhar novas estratégias antirracistas”.