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Professor de federal vira réu por importunação sexual durante aula

Orientador de pós-graduação teria se masturbado em aula on-line enquanto doutoranda apresentava artigo. Ele também teria perseguido aluna

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1 de 1 Imagem colorida do professor Jordi - Metrópoles - Foto: Reprodução/ TJRN

O professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Jordi Julia Casas, de 53 anos, se tornou réu por importunação sexual e stalking (perseguição) contra uma aluna de doutorado da instituição.

De acordo com a Polícia Civil do estado, Jordi se masturbou durante videoconferências com uma orientanda. O professor não chegou a exibir os órgãos sexuais na câmera, mas fez movimentos repetitivos com um dos braços enquanto a estudante falava sobre um artigo científico. Ele nega as acusações.

O docente fez “movimentos repetitivos que ele fazia com o braço, trepidação, expressões faciais e aspecto ofegante, além de ter ele, logo em seguida, buscado lenços de papel e movimentado-se como se estivesse se vestindo”, escreveu o promotor Eugênio Carvalho, do Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN), ao apresentar denúncia contra o professor.

A denúncia foi aceita pela Justiça e o professor se tornou réu em processo, no qual poderá se defender.

Quando percebeu a situação, a hoje doutora em Geofísica Victória Cedraz, de 32 anos, passou a gravar as aulas com o professor, como forma de ter provas do abuso. Em seguida, ela decidiu mudar de orientador e de tema de pesquisa, sem fazer uma denúncia formal contra Jordi.

“Eu tinha desistido de denunciar por medo, por insistência dos meus familiares, por não saber quais seriam as implicações para o meu projeto de pesquisa e doutorado”, relatou Victória ao Metrópoles. Os parentes temiam a exposição da jovem e da denúncia não dar resultado.

No entanto, a situação não parou por aí e se tornou insustentável para a então doutoranda. Segundo a Polícia Civil, Jordi passou a perseguir a estudante, insistindo em encontrá-la pessoalmente e por mensagens.

“Se eu estava no laboratório, se eu estava conversando, se eu ia no ponto de ônibus, se eu sentasse no prédio em algum lugar, ele sempre estava à espreita observando. Em qualquer situação, ele estava lá. Eu fiquei muito assustada, não sabia o que fazer”, contou a doutora.

Vulnerabilidade e medo

A importunação sexual do professor contra a orientanda aconteceu durante o ano de 2020, quando as atividades acadêmicas passaram a acontecer à distância, por conta da pandemia da Covid-19.

Já o boletim de ocorrência de Victoria contra Jordi foi aberto em agosto de 2022, após as situações de stalking. Esse tipo de crime passou a existir na legislação brasileira em março de 2021.

Segundo a lei, a prática de stalking acontece quando se persegue alguém reiteradamente ou por qualquer meio, ameaçando a integridade física e psicológica da vítima.

“Várias situações que eu estava sozinha, eu percebia que ele estava me seguindo e eu sentia muito medo”, lembra Victoria. Poucos dias após a denúncia, a então estudante de doutorado conseguiu uma medida protetiva contra o professor, que passou a ficar proibido de se aproximar dela.

Mudança de rota

As situações de perseguição e a importunação sexual do próprio orientador provocaram mudanças drásticas na vida profissional e pessoal da pesquisadora de Geofísica.

Jordi é uma referência na área de anisotropia sísmica, o estudo de terremotos e da estrutura da Terra. O tema da pesquisa de Victoria era dentro desse ramo da Geofísica e ela tinha todo um planejamento acadêmico sobre o assunto, que precisou ser alterado por causa dos abusos denunciados.

“Eu tinha uma relação boa com ele e um respeito profissional muito grande. Eu vi meu plano se desfazer”, lamenta a doutora. “Eu tive uma série de crises de ansiedade, tinha dificuldade de estudar e executar meu projeto. Eu fiquei pessoalmente mais fechada, entrei em conflitos com a família. É uma situação de vulnerabilidade muito grande”.

Victoria apresentou sua tese de doutorado em 15 de maio deste ano e foi aprovada por unanimidade. O estudo comprova como determinados tipos de rocha atrapalham os sinais de radares usados para penetrar o solo. A banca examinadora, formada por cinco doutores na área, contou com o geologista sênior da Petrobras Michael Strugale.

Investigações e provas

Três investigações foram abertas contra o professor Jordi: um inquérito na Polícia Civil do Rio Grande do Norte, um na Polícia Federal (PF) e um procedimento administrativo disciplinar na UFRN.

O inquérito da Polícia Civil foi concluído e remetido ao judiciário. Em maio deste ano, o Ministério Público ofereceu denúncia contra Jordi por importunação sexual em quatro situações e por stalking por 10 vezes. O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte recebeu a denúncia e o professor se tornou réu.

Além de coletar as gravações das aulas em 2020 e mensagens de internet, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher ouviu testemunhas que confirmaram as situações de perseguição. O inquérito da PF e o processo administrativo da universidade estão em andamento.

Nos autos do processo, o advogado do professor, José Majuli Bezerra Filho, preferiu não se manifestar sobre o caso concreto e questionou a investigação da polícia judiciária estadual, defendendo que a apuração deve ser feita apenas pela Polícia Federal.

Em nota para a reportagem, Majuli escreveu que Jordi nega todas as acusações de forma veemente e afirma que vai confirmar sua inocência. “Convém negar de forma veemente que tais condutas tenham sido praticadas pelo professor, que confia na atuação imparcial da Justiça, a qual, ao final, confirmará a sua inocência no processo que ainda está em sua fase inicial”, escreveu o defensor.

Já a reitoria na Universidade Federal do Rio Grande do Norte informou que o caso está sendo apurado por meio de processo administrativo, que corre em sigilo até a sua conclusão.

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