Professor brasileiro vai ao México para dar curso, mas acaba deportado
Professor Diego de Oliveira Souza foi ao México a convite de uma universidade, mas foi acusado de tentar entrar no país com visto falso
atualizado
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Um professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) foi detido e deportado ao tentar entrar no México a convite de uma universidade local. Se dizendo “humilhado”, o pesquisador Diego de Oliveira Souza acusou as autoridades mexicanas de o impedirem de se comunicar com a família por quase 12 horas.
O professor relata que foi detido por policiais e acabou deportado sob a alegação de que usava um visto falso. Diego, porém, garante que o documento foi emitido pelo Consulado do Governo do México, no Rio de Janeiro, após passar por entrevista, em 23 de janeiro.
Junto ao pesquisador, foram mandados de volta ao Brasil a esposa, a sogra e dois filhos, um de 3 e outro de 1 ano. “Houve algum erro, mal-entendido ou um caso de preconceito”, reclama.
“Chegando no México, depois de uma viajem cansativa de 14 horas, a gente é surpreendido pela fiscal da imigração e pela polícia da imigração dizendo que o nosso visto era falso”, relata.
A partir desse momento, segundo o pesquisador, ele foi separado da família, revistado e teve todos os pertences retidos. “Eu tentava explicar dizendo que era um pesquisador a serviço do governo brasileiro, mas eles nem me ouviam e nem me explicavam nada”, diz.
O docente atua há 13 anos na universidade alagoana e estuda temas relacionados à enfermagem e ao serviço social. A ida ao México ocorria para lecionar um curso na Universidade Autônoma da Cidade do México, por um mês.
A atividade antecipava a ida ao país para realizar as pesquisas relacionadas ao pós-doutorado. Os custos que envolviam a permanência no México seriam pagos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Manifestação de apoio
Uma carta assinada por pesquisadores do Centro de Estudos sobre a Cidade, da Universidade Autônoma da Cidade do México, denuncia a situação ocorrida em 27 de fevereiro, no aeroporto Benito Juárez, e cobra a reparação dos transtornos ao pesquisador.
“A situação experimentada pelo doutor Diego de Oliveira é grave porque as autoridades migratórias mexicanas, ao deixar as pessoas incomunicáveis, as expõem a um estado de falta de defesa e esse ato pode ser caracterizado como uma desaparição forçada”, afirma.
Na carta, os docentes da instituição de ensino mexicana exigem o ressarcimento do “dano psicológico, moral e econômico sofrido pelo doutor Diego de Oliveira Souza e sua família”.
Os professores da universidade ainda criaram um abaixo assinado em que cobram a mudança nas políticas migratórias mexicanas, levando em conta o que ocorreu com o brasileiro. O documento, tinha, até a noite desta segunda-feira (30/1), mais de 1,5 mil assinaturas.
Sem condições de continuar
Tendo chegado ao Brasil nesse domingo (29/1), o pesquisador, que é de Alagoas, precisou arcar com a estadia improvisada no Rio de Janeiro, para onde foi deportado. Segundo ele, os passaportes dele e da família foram devolvidos apenas no Brasil.
Apesar da possibilidade de realizar o pós-doutorado no México ter consistido em uma realização profissional do pesquisador e de sua equipe, Diego afirma não ter mais de vontade de retornar ao país, diante do que ocorreu. “Não consigo me imaginar voltando agora”, lamenta.
Uma professora que integra a equipe e que conseguiu entrar no país sem problemas planeja retornar ao Brasil sem concluir o pós-doutorado. “Não temos condições psicológicas de continuar”, diz.
O docente relata que a UFAL afirmou ter entrado em contato com o Ministério das Relações Exteriores, mas que não teve retorno. Ao Metrópoles, o Itamaraty afirmou que teve conhecimento do caso e que está em contato com familiares do professor brasileiro, bem como com o governo mexicano.
“Embora a admissão de estrangeiros seja uma prerrogativa absoluta e soberana do governo de cada país, a Embaixada do Brasil na Cidade do México tem insistido junto às autoridades mexicanas para que a recepção e o tratamento de todos os cidadãos brasileiros, admitidos em território mexicano ou não, aconteçam com base em regras públicas e transparentes e dentro do mais restrito respeito aos direitos humanos de cada indivíduo”, afirmou em nota.
A pasta confirma o recebimento de denúncias “de maus-tratos a cidadãos brasileiros por parte de autoridades migratórias mexicanas” e diz que a Embaixada do Brasil na Cidade do México solicita esclarecimentos ao Instituto Nacional de Migración sobre a situação e os eventuais motivos que teriam levado à inadmissão.
Suporte administrativo e jurídico
Por meio de nota, a Universidade Federal de Alagoas afirmou que acompanha a situação desde o último sábado (28). Atuam sobre a situação o reitor Josealdo Tonholo, a Assessoria Internacional e a direção do Campus Arapiraca.
A insituição afirma que o reitor tem reforçado a necessidade de prestar atenção psicológica aos envolvidos e “também colocou à disposição do professor Diego suporte administrativo e jurídico assim que o docente retornar a Maceió”.