Professor acusado de racismo diz ter sido “infeliz” ao vestir máscara preta
Ronald Sergio Pallotta Filho simulava uma conversa com um paciente pobre quando usou a máscara com rosto negro. Faculdade estuda afastamento
atualizado
Compartilhar notícia
O professor de medicina Ronald Sergio Pallotta Filho, acusado de racismo ao usar uma máscara preta durante uma aula virtual para simular conversa com um paciente pobre, disse que não teve a “intenção de expor qualquer conteúdo de índole racista”.
Ronald Pallotta é professor da faculdade de medicina da Santa Casa de São Paulo. Ele usou uma máscara com um rosto negro – técnica conhecida como “blackface” – durante a aula. A faculdade abriu sindicância para apurar os fatos.
Em resposta enviada ao Metrópoles, o professor pediu desculpas, disse que não conhecia, até então, o termo “blackface”, e considerou “inocente e infeliz a escolha e colocação da máscara”, que, segundo ele, “poderia ser de qualquer cor”.
“Em nenhuma hipótese tive a intenção de expor qualquer conteúdo de índole racista e sequer era familiarizado com o conceito de ‘blackface’, sobre o qual fui procurar me informar após a repercussão negativa”, escreveu o médico Ronald Pallotta.
O recurso “blackface” remete a costume do século 19 de pintar atores brancos de preto, pois não era permitido aos negros atuar no teatro e no cinema. Além disso, os negros eram ridicularizados nessas atuações para entretenimento de brancos.
Leia, a seguir, a íntegra do texto enviado pelo professor:
“Agradeço a oportunidade e a possibilidade de contraditório.
Antes de mais nada, gostaria de esclarecer todo o ocorrido, deixando claro desde já que, embora não tenha sido minha intenção, alguém interpretou minha conduta como ofensiva e por isso peço desculpas.
Sou médico formando pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa desde 1989, professor e médico de diversos hospitais, inclusive públicos.
No que diz respeito à aula por mim ministrada, a qual é objeto de questionamento, jamais tive a intenção de desrespeitar quem quer que fosse em razão da raça, nível social ou por qualquer outra característica com utilização da máscara na representação que tentei fazer.
A aula que estava sendo exposta aos alunos deveria ser presencial e prática, diretamente com pacientes; por este motivo devido às impossibilidades que nos impõe o momento atual me posicionei como ‘ator’ para melhor entendimento dos alunos, apenas tentando acrescer conteúdo pedagógico à explanação.
Em nenhuma hipótese tive a intenção de expor qualquer conteúdo de índole racista e sequer era familiarizado com o conceito de ‘blackface’, sobre o qual fui procurar me informar após a repercussão negativa. Ao compreender o que isso representa hoje, me sinto constrangido, mas ao mesmo tempo reafirmo que jamais tive a intenção de ofender. Trata-se de inocente e infeliz escolha a colocação da máscara que poderia ser de qualquer cor – utilizei a disponível.
A utilização da máscara tinha por finalidade apenas demonstrar que se tratava de uma encenação, sem qualquer referência à raça do personagem que tentei no meu amadorismo representar.
Tenho 30 anos de medicina, boa parte deles prestando atendimento aos menos favorecidos financeiramente e em situação de vulnerabilidade social em hospitais públicos, onde sempre escolhi exercer minha profissão por convicção sobre o papel do médico na vida das pessoas. Nunca medi esforços para dar o melhor atendimento que estava ao meu alcance, inclusive durante a pandemia do Covid-19. Peço que não me julguem baseados apenas neste triste episódio.”