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Produção e consumo de cocaína batem recorde durante pandemia, diz ONU

Estudo Cocaine Insights aponta mudanças nos padrões de tráfico de drogas e crime organizado no contexto da crise global

atualizado

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Operação contra trafico de drogas na escolas de ceilandia – PCDF – FUZIL – Policia
1 de 1 Operação contra trafico de drogas na escolas de ceilandia – PCDF – FUZIL – Policia - Foto: Michael Melo/Metrópoles

A produção global de cocaína superou o recorde de 1.982 toneladas entre 2020 e o ano passado (crescimento de 11%), período em que a pandemia de Covid-19 alterou o contexto de distribuição e intensificou o combate ao narcotráfico, especialmente, em território brasileiro. É o que aponta o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU).

Segundo o estudo Cocaine Insights, a imposição do isolamento para frear o avanço da doença permitiu que as forças de segurança brasileiras dedicassem mais recursos ao combate à circulação de entorpecentes como maconha e a cocaína, drogas mais traficadas no país.

Em contrapartida, a venda de maconha aumentou em território brasileiro, impulsionada pelos fluxos vindos do Paraguai. No caso da cocaína, embora a entrada da substância em território brasileiro tenha se elevado, o tráfego de saída para outras nações sofreu queda, por conta do fechamento de fronteiras.

O índice de apreensões internas de cannabis cresceu 107% entre 2020 e 2021, em comparação com o período 2018/2019. Contudo, o confisco de cocaína diminuiu 37% nesse intervalo, influenciado pelas interrupções no transporte internacional.

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Quantidade de cocaína aprendida durante as abordagens
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Índice de apreensões de maconha e cocaína desde início da série histórica

Reprodução/UNODC
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Quantidade de cocaína aprendida durante as abordagens

Reprodução/UNODC

O levantamento produzido pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), em parceria com o Centro de Excelência para a Redução da Oferta de Drogas Ilícitas no Brasil (CdE), analisou o impacto da pandemia na distribuição e apreensão de drogas no Brasil, e faz uma comparação entre os 12 meses anteriores ao surgimento da Covid, em 2019, e os 12 meses pós-pandemia, em 2021.

Os resultados sugerem que medidas de enfrentamento à crise sanitária afetaram a atuação das forças policiais e comprometeram as atividades de grupos do crime organizado. O contexto também impactou os fluxos de cocaína e cannabis, bem como induziu mudanças nas modalidades de tráfico, entre outros reflexos no mercado de substâncias ilícitas no Brasil.

Consumo de drogas

Segundo o Relatório Mundial sobre Drogas 2022 da Unodc, cerca de 284 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos fizeram uso de entorpecentes em todo o mundo em 2020, um aumento de 26% em relação à década anterior.

No Brasil, os atendimentos relacionados ao consumo de alucinógenos cresceram 54% entre os meses de março e junho de 2022 quando comparados ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS) disponibilizados pelo Ministério da Saúde.

Além disso, a pasta informou que o consumo excessivo de sedativos e calmantes cresceu 50% no Brasil.

De acordo com o médico psiquiatra Fábio Aurélio Leite, do grupo Santa, entre os fatores que podem explicar esse fenômeno está o agravamento das questões relacionadas à saúde mental, bem como a falta das restrições impostas pela socialização, o chamado “freio social”.

“O Brasil já era o país mais ansioso do mundo, mas observamos um aumento de quadros como estresse, depressão e ansiedade, agravados pela falta do acesso à assistência médica”, pontua o médico membro da Sociedade Brasileira de Psiquiatria.

Segundo ele, por causa do sofrimento da pandemia, as pessoas acabaram se entregando às drogas.”Tanto álcool quanto substâncias ilícitas”, frisa.

O contexto social marcado pelo recrudescimento da inflação, aumento da fome e do desemprego, bem como a elevação do número de pessoas em situação de rua também pode ter impulsionado atividades ilícitas ligadas ao consumo de entorpecentes.

Movimento a oeste

Os dados sobre as apreensões no país apontam que, após o início da pandemia, houve um crescimento do fluxo da substância nos estados do oeste brasileiro, que fazem fronteira com nações como Peru, Colômbia e Bolívia. Por outro lado, foi observada uma tendência decrescente nos estados a leste.

A entrada de cocaína no Brasil permaneceu em níveis significativos, enquanto o envio da droga por facções criminosas para outras nações teve queda, por conta do fechamento de fronteiras. Na visão do especialista Pablo Lira, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), essa “concentração” da droga se reflete no aumento dos confrontos armados.

“Os efeitos percebidos são ligados ao recrudescimento do confronto armado entre grupos criminosos. O aumento dessa entrada de substâncias psicoativas resulta em uma maior dinâmica criminal das facções”, ressalta.

Assim, segundo Lira, é observado o avanço da criminalidade e das mortes ligadas ao tráfico, “também em operações policiais inadequadas”. 

A pandemia serviu para “acelerar tendências conhecidas para o tráfico”, de acordo com especialistas. Como resultado, impôs necessidades de readaptação às instituições de segurança pública no país e dificultou atividades policiais.

“O Brasil tem um histórico muito negativo no combate ao tráfico de drogas. Falta uma política nacional sobre o tema, e não operações isoladas, como as que estão ocorrendo. É necessária uma coordenação de ações conjuntas, para reforçar, também, esse patrulhamento de fronteiras”.

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