metropoles.com

Produção de energia fica 11 vezes mais cara e conta voltará a subir em 2021

O consumo aumentou nos últimos três meses e pode sobrecarregar ainda mais o sistema elétrico, que já está estressado

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
DANIEL FERREIRA/METRÓPOLES
Conta de luz
1 de 1 Conta de luz - Foto: DANIEL FERREIRA/METRÓPOLES

O ano de 2021 promete ser difícil para o setor elétrico se duas variantes não apresentarem tendência de melhora. A mais preocupante é a falta de chuvas, que tem deixado os reservatórios das hidrelétricas — principal fonte de geração de eletricidade no país — em baixa. O outro fator é antigo: o estresse na distribuição da energia até os consumidores.

O Metrópoles cruzou dados de produção energética, de consumo e de capacidade de reservatórios — e a tendência não é boa. Com os resultados desanimadores, especialistas apontam que, em 2021, a conta de luz deve ficar mais cara para a população.

O consumo aumentou nos últimos três meses e pode sobrecarregar ainda mais o sistema elétrico, já estressado. A reabertura econômica, após o período crítico de isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, elevou a utilização de energia.

Segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a variação do consumo de energia no terceiro trimestre teve alta em relação ao mesmo período do ano passado.

Após seis meses em queda, o recorte de tempo coincide com o fechamento do comércio, das escolas e dos serviços. Por exemplo, nos últimos três meses, o consumo de eletricidade cresceu 1,9% no país.

Veja a variação do consumo de energia em relação ao mesmo período do ano passado:

  • 1º trimestre: -2,1%
  • 2º trimestre: -8,4%
  • 3º trimestre: +1,9%

Se os consumidores estão usando mais o produto, a geração precisa aumentar. Essa é a lógica de mercado. Contudo, a capacidade da principal fonte brasileira pode não corresponder.

É que a estiagem prolongada tem castigado os reservatórios das hidrelétricas. Sozinhas, elas geram 108.540 MW, o que representa 65,7% da energia consumida no país. São 7,4 mil usinas do tipo operando no Brasil, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

O pior panorama, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), aparece no Sudeste/Centro-Oeste, onde os aquíferos operam com 18,86% da capacidade, e no Sul, região em que o índice está em 18,81%.

Veja o nível dos reservatórios das hidrelétricas por região:

  • Norte – 28,86%
  • Nordeste – 55,832,54%
  • Sudeste/Centro-Oeste – 18,86%
  • Sul – 18,81%

Outras fontes

Quando as hidrelétricas funcionam com capacidade inferior à total, o sistema elétrico precisa recorrer a outras fontes geradoras, como as termelétricas, que têm custo mais elevado na produção.

Dados da CCEE revelam que, entre abril e novembro, o custo de produção de energia elétrica no país cresceu 981%. Passou de R$ 39,68, na primeira semana de abril, para R$ 428,96, na última semana. Ou seja, o preço ficou quase 11 vezes maior.

Para especialistas do setor elétrico, essa combinação de fatores pessimistas elevam a probabilidade de aumento nas contas dos brasileiros.

O especialista em economia doméstica Roberto Bocaccio Piscitelli, da Universidade de Brasília (UnB), explica que o principal fator a ser observado é a capacidade de aumentar, a curto prazo, a produção e a distribuição de energia.

Caso o país não recupere a capacidade de geração e o governo queira interferir no preço da conta, não existe alternativa: terá que subsidiar, ou seja, arcar com parte dos custos.

“Já temos um problema fiscal que existe e é sério. Seria um acréscimo ao volume de subsídios, que já é levado. Uma conta que o Tesouro teria de bancar em uma condição fiscal que é problemática em todos os aspectos”, explica Piscitelli.

Engenheiro eletricista formado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) e especialista em planejamento energético, Roberto Pereira d’Araújo explica que as intempéries do clima devem ser observadas para evitar efeitos negativos.

“Não podemos apostar que o padrão dos rios brasileiros vai permanecer. O clima tropical varia muito, e a hidrologia também. Podemos ter mudança do clima e chuva intensa. Isso engana que está tudo bem. Depois, enfrentamos uma seca histórica”, destaca o especialista.

Olhos em 2021

O ONS é responsável por monitorar o fornecimento de energia em todo o Brasil e fazer a gestão dos recursos energéticos disponíveis. O órgão está monitorando a situação com cautela.

Em 2020, por causa da pandemia de Covid-19, o governo federal suspendeu o sistema de bandeiras, que norteia a cobrança nos preços da conta de luz.

8 imagens
1 de 8

2 de 8

3 de 8

4 de 8

5 de 8

6 de 8

7 de 8

8 de 8

“Sazonalmente, de maio a novembro, entramos no período chamado de seco, ou seja, com escassez de chuva, o que acaba influenciando no nível de armazenamento da água que cai nas bacias e que efetivamente chega aos reservatórios de cada usina, podendo reduzir a geração hidrelétrica no país”, explica, em nota, o ONS.

Assim, há maior despacho de outras fontes de energia, como termelétricas. “As eólicas também têm alta produção nesse período”, continua o comunicado.

Apesar das condições ruins, o órgão descarta falhas no fornecimento. “O Brasil é um país com uma matriz elétrica bastante diversificada. Não há nenhum risco de desabastecimento no país”, destaca o texto.

Contudo, o órgão faz uma ressalva sobre o aumento nas contas. “Para os próximos meses, é preciso esperar e avaliar como o período úmido, que começa agora e vai até abril, irá se comportar para definir as estratégias de operação”, alerta.

Termelétricas elevam custos

O ONS admite que o custo de produção subiu por conta da necessidade da ativação de usinas termelétricas. Nos últimos anos, segundo o órgão, o sistema vivencia escassez que não permite a total recuperação dos níveis dos reservatórios e, em 2020, a seca atingiu, principalmente, as bacias da Região Sul do país.

“Durante esses meses, foi feito um reforço na gestão de todos os reservatórios, sempre respeitando seus limites operativos e as vazões necessárias para o atendimento aos requisitos de abastecimento de energia, ambientais e de usos múltiplos da água”, justifica o ONS.

Ainda não se sabe se o custo da operação no próximo ano vai continuar subindo. Isso dependerá de como vai se configurar o próximo período úmido, que começa agora e vai até abril.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?