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Procurador Dallagnol prega mudanças na lei em igrejas e congressos

Procurador da Lava Jato, Dallagnol também se dedica a viajar o País para divulgar a campanha Dez Medidas contra a Corrupção, que alcançou 2,2 milhões de assinaturas e já tramita como projeto de lei de iniciativa popular na Câmara dos Deputados

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Assinaturas anticorrupção no MPDFT – Brasília(DF), 03/06/2016
1 de 1 Assinaturas anticorrupção no MPDFT – Brasília(DF), 03/06/2016 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

No auditório da Primeira Igreja Batista de Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol propõe a cada espectador da palestra “Liderança Corajosa” que, durante um minuto, discuta com o companheiro ao lado sobre a questão: a Operação Lava Jato transforma o País? “Outro dia, fiz a mesma proposta para um grupo de mulheres e quase não consegui retomar a palestra”, brinca Dallagnol. A plateia ri, conversa e pouco depois o procurador retoma o raciocínio. Diz que a investigação do maior esquema de desvio de recursos e pagamento de propina em estatais brasileiras “infelizmente não muda o País”, mas pode despertar uma inédita mobilização de combate à corrupção.

“Vivemos uma janela de oportunidade, o caso Lava Jato deixou a sociedade altamente sensível e esperançosa de mudanças”, diz Dallagnol.

A declaração é quase um mantra do procurador de 36 anos que chefia a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, onde a investigação começou em março de 2014. Além do trabalho na Lava Jato, Dallagnol se dedica a viajar o País para divulgar a campanha Dez Medidas contra a Corrupção, que alcançou 2,2 milhões de assinaturas e já tramita como projeto de lei de iniciativa popular na Câmara dos Deputados. Em palestra no Rio para investidores, na semana passada, o procurador disse que já fez, “sem ganhar nada por isso”, mais de 150 palestras só sobre as medidas anticorrupção e perdeu as contas das apresentações sobre outros temas ligados ao combate ao crime.

Quando Dallagnol, com um grupo de colegas, decidiu levar adiante a campanha pelo projeto de iniciativa popular, o ponto de partida foi a Igreja Batista, que frequenta desde criança. Os convites se expandiram. Hoje vão do Congresso Brasileiro de Cirurgiões à Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital, plateia do procurador na noite de 7 de julho em um hotel no Rio. “Vou decepcionar os que esperam mais um momento sobre como lucrar nos negócios. Se vocês seguirem minhas dicas, infelizmente vão falir. Tenho ações de Petrobras, do BTG Pactual e da Queiroz Galvão”, disse o procurador, citando estatal, banco e empreiteira investigados na Lava Jato, para diversão dos investidores.

Weber, Luther King
O palestrante adapta sua apresentação à plateia, mas segue um roteiro padrão que mistura pequenos filmes, tabelas, charges, mapas, citações de intelectuais como Max Weber, um dos pensadores da sociologia, e o pastor e ativista americano Martin Luther King. Vez ou outra, faz referência a alguma passagem bíblica. Rebate acusações de abusos da Lava Jato, como excesso de prisões preventivas e delações premiadas. Insistentemente defende a tese de que o combate à corrupção “é uma questão de amor ao próximo, de serviço à sociedade”.

Criador do curso “Humanismo em Nove Lições”, voltado para juízes, e um dos autores do estudo Corpo e Alma na Magistratura Brasileira, o cientista social Luiz Werneck Vianna tem observado a nova geração de profissionais de Direito no Brasil. “São filhos dessas novas correntes que aproximam o Direito da sociedade. Estávamos necrosados em uma tradição positivista que interditava uma percepção nova dos problemas sociais. É um movimento geracional que coincide com a mudança de bibliografia do Direito, em que cientistas sociais têm sido cada vez mais incorporados. É um Direito mais responsivo, mais aberto a problemas sociais, voltado para temas como o reconhecimento das minorias”, disse.

Em muitos profissionais, Werneck Vianna identificou traços comuns, como o fato de completarem os estudos em universidades americanas, vínculos com a religião e idades em torno de 40 anos “A velha tradição está sendo deslocada. A ‘common law’ (Direito baseado mais na jurisprudência e nas decisões dos tribunais do que apenas no texto da lei) passou a ser incorporada por essas novas gerações, muitos foram estudar nos Estados Unidos. Há um grupo de pessoas formadas no campo do Direito que escolheu a carreira pública e tenta assumir um protagonismo em mudanças no País. Há um movimento em que está presente a mística da salvação, da missão de salvação. Há alguma coisa de revolução dos santos, como a que ocorreu com o advento do protestantismo, nesses juízes e promotores”, disse o pesquisador.

Dallagnol em muito se encaixa nesse novo perfil. Em 2003, quando ingressou por concurso no Ministério Público Federal, tinha 23 anos e era o segundo mais novo procurador do País. Logo passou a trabalhar na investigação de remessas ilegais de dinheiro para o exterior no caso Banestado. “Hoje está perdido nos escaninhos do Judiciário rumo à prescrição”, lamenta ele em mais um trecho recorrente de suas palestras. “Minha história é de alguém que teve fracassos sucessivos no combate à corrupção”, resume. Entre 2013 e 2014, Dallagnol fez mestrado na Universidade Harvard (EUA). “Quanto voltei, estava ‘grávido’ do meu primeiro filho, pensava em ir para a academia. Mas entrei em um caso (inicialmente, uma investigação sobre lavagem de dinheiro) que hoje é a Lava Jato. Deu no que deu”, conta o procurador aos ouvintes.

O coordenador da Lava Jato desperta na plateia muita curiosidade sobre os rumos das investigações e a impunidade, mas também sobre sua vida pessoal. Conta que é casado, tem dois filhos e reconhece que sacrifica a vida familiar pela causa do combate à corrupção. Não são raras as perguntas sobre o que planeja no futuro. A uma espectadora que foi mais direta e questionou se pretende entrar para a política, o procurador não afastou a possibilidade. “Eu descartaria poucas coisas em relação a meu futuro, cogito talvez até virar pastor. Mas nós focamos no presente”, respondeu

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