Privatização dos Correios: “Bolsonaro é desinformado”, diz sindicato
“Já dei sinal verde para privatizar os Correios”, afirmou Bolsonaro. Servidores preparam atos em defesa da empresa pública
atualizado
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O aval do presidente Jair Bolsonaro (PSL) para a equipe econômica privatizar os Correios tensionou ainda mais a relação entre governo e funcionalismo. Junho promete ser turbulento com movimentos de ambos os lados. Entre 5 e 9 deste mês, servidores farão um congresso para debater a situação da empresa. Nesta quarta-feira (05/06/2019), representantes sindicais participarão de uma audiência pública para defender a organização e alinhar uma campanha contra a ideia do presidente.
Antes mesmo de o governo iniciar o processo que pode passar para a iniciativa privada a empresa estatal, o cotidiano da empresa teve sua rota alterada, com risco de demissão, alteração em cargos e até servidores mudando de cidade para preservar o emprego. O sindicato que representa a categoria acredita que, caso a empresa seja vendida, o serviço de entrega de cartas e encomendas amargará severos prejuízos.
Suzy Cristiny da Costa Amim, da Comissão de Assuntos Jurídicos da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares, virá a Brasília para acompanhar o desenrolar da situação. Os servidores planejam ações contra o governo.
“Os Correios têm duas realidades quanto à prestação de serviço. Uma no sul, sudeste e centro-oeste e também nas áreas sociais mais ricas, que temos concorrência e a empresa precisa melhorar seu atendimento e sua eficiência, isto é fato. Outra realidade é do norte e nordeste e das periferias das grandes capitais que os Correios é, na maioria das vezes, a única instituição que traz uma prestação de serviço”, explica.
O cronograma do governo define que, depois de aprovada a reforma da Previdência, os esforços serão para a reforma tributária e para as privatizações. “Já dei sinal verde para privatizar os Correios”, afirmou Bolsonaro, em entrevista à revista Veja.
Para ele, a empresa foi destruída pelas gestões petistas. “A bandalheira era tão grande que o fundo de pensão dos funcionários, que hoje está quebrado, fez investimentos em papéis da Venezuela. Com que interesse? Pelo amor de Deus! Então, temos de mostrar à opinião pública que não tem outro caminho a não ser privatizar os Correios. Será assim com outras estatais. Há muitos cabides de emprego dentro do governo”, destacou.
“Desinformação”
A sindicalista discorda. “O atual presidente peca quando fala do fundo de pensão dos Correios. Quem paga o rombo do fundo de pensão são os empregados, não é a União, apesar de terem nos dado o calote também”, rebate Suzy Cristiny.
Para ela, o governo é “desinformado” sobre a atuação da empresa. “Privatizar os Correios irá gerar um caos na integração nacional. O monopólio de cartas é que sustenta os Correios em praticamente todos os municípios. No segmento concorrencial de encomendas, tenho plena convicção que não irão instalar agências em municípios que não dão lucro. Atualmente, os nossos concorrentes postam nos correios para estes lugares que eles não querem assumir”, explica.
Um dos principais argumentos do governo para dispor da empresa é o prejuízo dos Correios que se arrasta desde 2015. À época, o resultado negativo foi de R$ 2,12 bilhões. A empresa só voltou a ter lucro em 2017. Contudo, a penúria continua, por exemplo, com o fechamento de agências em todo o país, inclusive no DF.
“Estes prejuízos já eram esperados pela empresa quando lançaram um dado contábil chamado pós emprego. Já se tinha a expectativa de a empresa levar pelo menos 5 anos pra equilibrar este déficit. Nestes 50 anos de empresa pública, os Correios sempre repassaram seu lucro pra o governo. Nunca houve investimento da União na empresa. Ela é auto sustentável”, conclui Suzy Cristiny.
O outro lado
Procurado pelo Metrópoles, os Correios disseram que a privatização é “uma posição do governo” e que portanto não cabe à empresa responder. Sobre a situação financeira os Correios informaram que após um profundo processo de reestruturação, iniciado em 2016, a empresa têm intensificando ações para reduzir gastos e otimizar recursos em toda sua estrutura organizacional, medidas estas que já estão dando resultados. “Após quatro anos de prejuízos (2013 a 2016), há dois anos a empresa tem apresentado balanço econômico-financeiro positivo. Em 2017, o lucro foi de R$ 667 milhões, e em 2018, de R$ 161 milhões”, frisa, em nota.
A reportagem entrou em contato como a Presidência da República e com o Ministério da Ciência e Tecnologia Inovações e Comunicações. Nenhum dos órgãos havia respondido até a última atualização desta matéria. O espaço continua aberto para manifestações.