Prisão de Temer ocorre com Lava Jato acuada e sob reveses
O revés mais recente foi a decisão do STF de transferir à Justiça Eleitoral casos de crime de corrupção associados a caixa 2
atualizado
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A prisão do ex-presidente Michel Temer no momento em que a Lava Jato está sob ataque serviu como um recado dos investigadores de que ainda há muito trabalho pela frente. Temer é o segundo ex-presidente a ser preso em menos de um ano. O petista Luiz Inácio Lula da Silva completa um ano encarcerado em abril.
Desde o início do ano, a Lava Jato sofreu vários reveses. O mais recente foi a decisão do Supremo Tribunal Federal de enviar à Justiça Eleitoral casos de crimes de corrupção quando associados a caixa 2. No mesmo dia, integrantes da força-tarefa em Curitiba, berço das investigações, se tornaram alvo de inquérito do STF por críticas à decisão.
Além de mostrar que, cinco anos depois, a operação ainda tem trabalho a fazer, o recado, segundo esses investigadores, é o de que o foco da operação ainda é a classe política. Assim que assumiu o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro estipulou como uma de suas metas para os primeiros cem dias o reforço da Polícia Federal das forças-tarefa da Lava Jato em São Paulo, Curitiba, Brasília e no Rio de Janeiro.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, o superintendente da PF no Paraná, o delegado Luciano Flores, afirmou na semana passada que a meta é ter ao menos uma operação por mês. Essas ações devem mirar, entre outros, políticos antes investigados pelo STF e que agora, sem foro, serão alvo da força-tarefa liderada pelo procurador Deltan Dallagnol.
“Quando todos imaginavam que ela [Lava Jato] estaria em fase de declínio, terminando, na verdade está com um bom planejamento para este ano, para ter pelo menos uma fase por mês. Nós temos material para isso”, disse Flores uma semana antes da prisão de Temer.
Na avaliação de interlocutores de Moro, a ação dessa quinta-feira (21/3), também servirá para dar força ao seu pacote anticorrupção apresentado no mês passado ao Congresso. O ex-juiz é o principal símbolo da operação, mas, desde que assumiu o cargo político, tem acumulado derrotas.
Pacote
A tramitação de seu projeto foi “travada” nesta semana pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que decidiu só colocá-lo em discussão após a aprovação da reforma da Previdência. Na quarta-feira, 20, após ser cobrado por Moro, Maia reagiu com críticas ao ministro, acusando-o de desrespeitar acordos e desqualificando o texto.
Com a Lava Jato novamente no centro do debate, Moro conta com apoiadores de partidários de Bolsonaro nas redes sociais para vencer o cabo de guerra com Maia. Em nota divulgada após as declarações do presidente da Câmara, o ministro enfatiza o “anseio popular” pelo endurecimento da legislação. “Talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais”, afirma a mensagem, que foi compartilhada pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).
Um dos sinais de que Moro pretende explorar essa pressão é o fato de o ministério ter divulgado nota nessa quinta-feira sobre a prisão, algo inusual. O próprio ministro já disse que não cabe ao Ministério da Justiça comentar.
Maia, porém, não fala sozinho. Muitos parlamentares enxergam o ex-juiz como responsável por “demonizar” a atividade política e vão dificultar a aprovação do pacote. Um deputado disse que a ideia é “mostrar a Moro que ele agora é só mais um dos 600 políticos que trabalham em Brasília”.