Primeiras vacinadas são enfermeira que tomou placebo e indígena que teve Covid-19
Mônica Calazans, que tem doenças que a colocam no grupo de risco, e Vanuzia Kaimbé, indígena aldeada, foram vacinadas em São Paulo
atualizado
Compartilhar notícia
Duas mulheres foram escolhidas para simbolizarem o início da vacinação contra o coronavírus no Brasil, a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, e a indígena Vanuzia Costa Santos, 50. Elas foram vacinadas com a Coronavac em São Paulo, num evento no Hospital das Clínicas, logo após a Anvisa liberar o registro emergencial do imunizante em uma reunião em Brasília.
Num evento que provocou protestos do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, pelo que chamou de “jogada de marketing”, o governo de São Paulo selecionou mulheres com histórias representativas da luta do país contra a pandemia que já tirou mais de 209 mil vidas. A enfermeira Mônica Calazans escolheu trabalhar na linha de frente da luta contra a Covid-19 apesar de ser do grupo de risco para complicações da doença.
Ela atua no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, na capital paulista, e trabalha em turnos de 12 horas, em dias alternados, na UTI do Hospital. Mônica comemorou a imunização pelo simbolismo do momento.
“Não é apenas uma vacina. É o recomeço de uma vida que pode ser justa, sem preconceitos e com garantia de que todos nós teremos as mesmas condições de viver dignamente, com saúde e bem-estar”, disse a enfermeira, que é obesa, hipertensa e diabética.
Na entrevista após ser vacinada, Mônica falou muito da “vocação” para a enfermagem. Ela foi auxiliar de enfermagem por 26 anos antes de se formar como enfermeira, já aos 47 anos.
Mônica é viúva e mora com o filho, de 30 anos. Além de cuidar dos pacientes, é responsável também pela mãe, de 72 anos, que vive sozinha. A vacina, portanto, fará toda a diferença na vida dessa paulistana, torcedora do Corinthians e fã de Seu Jorge.
A enfermeira participou dos testes clínicos da fase 3 da Coronavac, mas soube depois do fim dos testes que recebeu o placebo, não a vacina. Como ela, todos os voluntários que não receberam a dose real estarão no grupo prioritário de vacinação.
“Eu fui criticada com piadinha, memes, me chamaram de cobaia. Eu não sou cobaia, sou participante de pesquisa e to muito orgulhosa. Meu nome tá aí no mundo todo, 54 anos, negra, brasileira e participante de vacina. Vamos nos vacinar. Não tenham medo”, encorajou Monica Calazans.
A primeira indígena vacinada no Brasil
Depois de Mônica, recebeu a imunização no Hospital das Clínicas a indígena Vanuzia Costa Santos, 50 anos (imagem em destaque), que é técnica em enfermagem e vive na aldeia multiétnica Filhos dessa Terra, em Guarulhos, na Grande SP. Os indígenas aldeados estão no grupo prioritário que receberá a vacinação.
Vanuzia está na capital paulista desde 1988 representando o povo Kaimbé, da Bahia, e milita na causa dos direitos humanos. Após ser vacinada, ela contou que sonha um dia retornar para cuidar dos moradores da aldeia de Massacará, na cidade de Euclides da Cunha, onde nasceu.
“Fiquei muito feliz de participar deste momento. Sou defensora da vida, de outras vacinas, da prevenção, saúde. Devemos valorizar a educação, a ciência, e isso pode ser conciliado mantendo uma crença, com as rezes e a medicina tradicional do meu povo”, afirmou a primeira indígena brasileira a ser vacinada contra o coronavírus.
Ela teve coronavírus em maio do ano passado e sentiu sintomas severos, como muita falta de ar, além da ausência de olfato e paladar – que persistem até hoje.
“Não fui para o hospital porque ajudava a cuidar de outras seis pessoas, precisava ter força para dar uma palavra de conforto e cuidar deles, sem me abater. Tinha um oxímetro, mas não media minha respiração para não me apavorar. Fiz o teste em 15 de junho e já estava curada”, relatou ela.
A orientação oficial das autoridades é para que mesmo quem já teve a doença, como Vanuzia, seja vacinado quando chegar sua vez.
Vacinação
Neste primeiro dia de campanha em São Paulo, profissionais de saúde de hospitais de referência no combate à pandemia e integrantes de populações indígenas começaram a ser vacinados em uma sala dedicada do Complexo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
“Hoje é o Dia V, o dia da vacina, da vitória, da verdade e da vida”, afirmou o governador João Doria.
A partir desta segunda (18/1), entra em operação o plano logístico de distribuição de doses, seringas e agulhas, com envio das grades para imunização de trabalhadores de saúde de seis hospitais de referência do estado: HCs da Capital e de Ribeirão Preto (USP), HC da Campinas (Unicamp), HC de Botucatu (Unesp), HC de Marília (Famema) e Hospital de Base de São José do Rio Preto (Funfarme).
A vacinação oficial no Brasil, segundo o ministro Eduardo Pazuello, deve começar na quarta-feira (20/1).