Previsões indicam recuperação da Amazônia após seca histórica de 2023
As projeções para a situação da Amazônia em 2024 apontam perspectivas otimistas após a pior seca registrada na história
atualizado
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A Amazônia, reconhecida como a maior floresta tropical do mundo e vital para a regulação do clima global, enfrentou a pior seca da história em 2023. Os níveis dos rios no Estado do Amazonas atingiram mínimos alarmantes. Os impactos da mudança climática sobre os serviços ecossistêmicos ainda geram incertezas para 2024, mas com perspectivas otimistas.
No dia 13 de dezembro, Defesa Civil, Marinha, representantes do governo do Amazonas, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Universidades Federal e Estadual do Amazonas e outros órgãos se reuniram no seminário “Pré-Cheia: Análise e Prognóstico Hidrometeorológico 2024”, do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), a fim de discutir a previsão para o período.
As análises do Censipam revelam que, devido à seca severa deste ano, os níveis dos rios do Amazonas permanecem abaixo do esperado. A expectativa é que uma cheia, dentro da média, em 2024, minimize impactos imediatos, mas somente após o enfraquecimento do El Niño, previsto para o período entre abril e maio.
Analista em ciência e tecnologia do Censipam, Flávio Altieri afirmou que, “para o início de 2024, período tradicionalmente marcado por cheias, a previsão é que o nível dos rios suba muito pouco”. “Haverá um aumento, mas não atingirá níveis alarmantes”, ressaltou.
Segundo Francisco Aquino, climatologista e chefe do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mesmo com a possibilidade de o Norte do país sofrer com as consequências do El Niño até maio de 2024, período em que as precipitações ainda estarão abaixo da média e as temperaturas se manterão altas, há esperanças para o segundo semestre do ano.
O especialista prevê que, a partir de junho, o Oceano Pacifico entrará em período de neutralidade, quando não há El Niño e La Niña.
“A neutralidade permitirá que a circulação atmosférica tropical entre os ventos alísios [que sopram constantemente dos trópicos para o Equador e que, por serem muitos úmidos, provocam chuvas] e a Amazônia seja restabelecida. O prognóstico para 2024 é um retorno à normalidade da precipitação [na Amazônia]”, destacou.
Seca histórica
Recente estudo do Centro Científico da União Europeia revelou que, em 2023, os nove países da Bacia Amazônica enfrentaram os menores volumes de chuva em mais de 40 anos, de julho a setembro.
Essa condição impactou os rios e a biodiversidade, especialmente nas cabeceiras dos rios Solimões, Purus, Juruá e Madeira, desde o centro-sul do Amazonas até os países mais ao sul da floresta, como Peru e Bolívia.
No Amazonas, as chuvas ficaram de 100 a 350 milímetros abaixo do normal, representando, aproximadamente, metade do esperado para a região.
O impacto ambiental é evidente, conforme apontado pelo boletim de estiagem mais recente do governo do Amazonas. O documento também destaca que todos os 62 municípios do estado continuam em situação de emergência. Até o momento, mais de 630 mil pessoas foram afetadas pela seca.
Além da escassez de chuvas, o estudo identificou uma série de ondas de calor recordes entre agosto e novembro, elevando as temperaturas de 2°C a 5°C acima da média histórica.
Esses eventos têm causado ameaças à vida dos animais, aumento do risco de incêndios e níveis fluviais críticos, impactando a mobilidade nas comunidades ribeirinhas e o acesso a bens essenciais.
O El Niño deste ano, que moldou as condições meteorológicas do país, entrará para a história como um dos cinco mais fortes já registrados. Mesmo assim, especialistas afirmam que ele não será um “Super El Niño”, como havia sido divulgado anteriormente.
Para 2024, com o enfraquecimento do El Niño, a expectativa é que a situação entre em normalidade, com o Oceano Pacífico assumindo a categoria “neutra”, quando a água não está muito quente ou gelada.