Preso pela PF por corrupção, prefeito escondia mais R$ 400 mil no guarda-roupa
Daniel Santana Barbosa, o Daniel do Açaí, prefeito de São Mateus (ES), é acusado de esquema de fraude em licitações e desvio de dinheiro
atualizado
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Policiais Federais da Delegacia de São Mateus deflagraram, na manhã desta terça-feira (28/9), a Operação Minucius para desmantelar organização criminosa que atuava no Norte do Espírito Santo. Estão sendo cumpridos sete mandados de prisão temporária e 25 de busca e apreensão, em residências e empresas nos municípios de São Mateus, Linhares e Vila Velha. Entre os presos, estão o prefeito da cidade, Daniel Santana Barbosa (sem partido), o Daniel do Açaí, uma das controladoras do município, seu operador e quatro empresários ligados ao esquema criminoso.
Durante a ação, a PF encontrou mais de R$ 400 mil na casa do prefeito, além de joias. Ele tinha um cofre dentro do guarda-roupa.
O objetivo das ações de hoje, além do cumprimento das ordens judiciais, é obter novos elementos de provas para desmantelar a organização criminosa acusada de fraudes licitatórias, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.
Entenda o caso
As investigações tiveram início após denúncias que apontam dispensa ilegal de licitações, com a exigência de percentual de propina sobre o valor das contratações públicas. O esquema contava também com distribuição de cestas básicas como forma de apaziguar a população em relação aos atos ilícitos.
Durante as investigações, foram obtidas provas que indicam que o prefeito de São Mateus, desde o seu primeiro mandato (2017/2020), organizou um modelo criminoso estruturado dentro da administração municipal dedicado ao cometimento de vários crimes, que se perpetuaram no atual mandato (2021/2024).
Foi constatado ainda o direcionamento fraudulento de licitações nos segmentos de limpeza, poda de árvores, manutenção de estruturas e obras públicas, distribuição de cestas básicas, kits de merenda escolar, aluguel de tendas, dentre outros. Algumas dessas licitações contavam com verbas federais que deveriam ter sido aplicadas no combate à pandemia de Covid-19.
As informações iniciais também indicaram que após as empresas ligadas ao esquema “vencerem” as licitações, estabelecia-se um valor a ser pago aos agentes públicos que variava de 10% a 20% do valor do contrato. Como forma de não gerar perdas aos empresários, a entrega de bens e serviços era identicamente reduzida, na proporção das propinas pagas.
Entre o conjunto de companhias ilegalmente beneficiadas pelo esquema ilícito, há empresas do próprio prefeito, que se valia de sócios de fachada (laranjas) para ocultar sua verdadeira condição de proprietário.
O valor dos contratos celebrados pelo município com as empresas investigadas chega ao valor de R$ 43.542.007,20.
Nome da operação
O Pórtico de Minúcio era o local onde os imperadores romanos faziam distribuição de cereais na tentativa de acalmar o povo e mantê-lo fiel à ordem estabelecida, conquistando, desta forma, apoio popular. Essa ação era parte do que ficou conhecido na história antiga como a “política do pão e circo”.
O prefeito de São Mateus chegou a ser cassado por abuso do poder econômico, decorrente da distribuição de água em período anterior e por ocasião das eleições, quando o município passava por crise hídrica, mas o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reverteu a decisão em 2019.
Os investigados poderão responder pela prática dos crimes de corrupção passiva e corrupção ativa (artigos 317 e 333 do Código Penal), lavagem de dinheiro (artigo 1º da Lei nº 9.613/1998), organização criminosa (artigo 2º da Lei nº 12.850/2013) e de fraudes licitatórias (artigo 337-F da Lei nº 14.133/21).
A operação contou com a participação de aproximadamente 85 policiais federais vindos de outras unidades do país, além da presença do Procurador-Regional da República e de servidores da Controladoria-Geral da União (CGU).