Presidente da Aprosoja envolve agro em atos contra a democracia e vira alvo da PF
Antonio Galvan foi um dos alvos da operação da Polícia Federal numa investigação sobre atos violentos contra a democracia
atualizado
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Uma das entidades mais influentes do agronegócio nacional, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) virou um dos assunto mais comentados nesta sexta-feira (20/8) nas redes sociais – e não foi por causa do grão que tem o Brasil como maior produtor mundial. O presidente da entidade, Antonio Galvan, foi um dos alvos da operação da Polícia Federal numa investigação sobre atos violentos e ameaçadores contra a democracia que estariam sendo planejados para o feriado na Independência.
Galvan almoçou na semana passada em Brasília com apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), incluindo o cantor Sérgio Reis. O artista, ex-deputado federal, depois gravou um áudio dizendo que havia se reunido com 40 plantadores de soja, “os grandes do Brasil”, que teriam pago a ida de 400 índios para Brasília: “Bancaram tudo. E eu apresentei 400 índios para o Bolsonaro”, diz o cantor no áudio, que também tem ameaças ao Senado e ao STF.
“Eu vou dizer ao presidente do Senado: se você não cumprir em 72 horas, vamos dar mais 72 horas, mas vamos parar o país. Plantadores vão colocar colheitadeiras nas estrada; só polícia e ambulância vão passar. E se em 30 dias não tirar aqueles caras [ministros do STF], nós vamos invadir, quebrar tudo e tirar os caras na marra, pronto”, diz o áudio de Sérgio Reis, que depois afirmou que não falava sério e que estava arrependido.
Sérgio Reis foi também alvo da operação, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). Reis, Galvan e outros oito investigados foram alvos de mandados de busca e apreensão de documentos, computadores, celulares e outros aparelhos eletrônicos. Eles também foram proibidos de se aproximar da Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Repercussão
A Aprosoja, que tem 240 mil filiados, não gostou de ver sua marca envolvida em questões políticas (e agora jurídicas). Antes mesmo da operação, a entidade havia divulgado nota em tons fortes, dizendo que “não financia e tampouco incentiva a invasão do Supremo Tribunal Federal (STF) ou quaisquer atos de violência contra autoridades, pessoas, órgãos públicos ou privados” e que “sempre defendeu de forma peremptória o Estado Democrático de Direito e o equilíbrio entre os Poderes da República e continuará a ter a mesma postura republicana em defesa do pleno funcionamento das instituições e o respeito aos representantes das esferas de poder no país”.
Blairo Maggi, um dos maiores produtores de soja do Brasil, reclamou em entrevista à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo,. “O Galvan fala como se o setor inteiro do agronegócio e da soja assinasse embaixo de suas posições. E isso não é verdade”, disse Maggi, que chegou a ligar para Galvan. “Eu disse a ele que bloquear estradas com caminhoneiros será uma tragédia para o próprio agronegócio. Uma semana de confusão botará o Brasil de joelhos. Todo o fluxo de insumos e mercadorias será interrompido. Como pode uma associação defender esse tipo de ruptura? É uma tragédia.”
Em resposta às críticas, Galvan disse, no início da semana: “Deixa quieto esse assunto. Em merda, quanto mais mexe, mais fede”. O presidente da Aprosoja ainda defendeu que pensa no país, enquanto outros “pensam no próprio bolso”.
Nesta sexta, o presidente da Aprosoja ainda não se pronunciou.
Perfil
Natural de Sananduva (RS), Antonio Galvan foi produtor rural no Paraná por sete anos antes de chegar a Mato Grosso, em 1986. É produtor rural no município de Vera, Região Norte do Estado, e representante sindical.