Prefeito de Goiânia quer que igrejas sejam essenciais na pandemia
Após considerar inconstitucional e vetar proposta de vereadores, Rogério Cruz, que é pastor, envia projeto ao Legislativo com teor parecido
atualizado
Compartilhar notícia
Goiânia – A decisão sobre liberar ou não o funcionamento de igrejas e templos religiosos em plena fase crítica da pandemia tem gerado debate na capital goiana. Após vetar, nessa terça-feira (3/3), projeto que tornava as igrejas atividades essenciais, o prefeito da cidade, Rogério Cruz (Republicanos), que é pastor da Igreja Universal, enviou nova proposta para apreciação do Legislativo. Detalhe: ela aponta no mesmo sentido, mas concentra a decisão de liberação ao Executivo.
Em fevereiro, a Câmara de Vereadores de Goiânia aprovou por unanimidade o projeto que partiu dos próprios vereadores e que dava às igrejas e templos religiosos a classificação de atividade essencial. Tudo, uma tentativa de barrar a proibição de funcionamento da atividade durante a pandemia da Covid-19.
Um mês depois, a decisão aguardada do prefeito sobre sancionar ou não a proposta saiu e, a princípio, surpreendeu muita gente. Ele vetou, com o argumento de que o Legislativo estaria passando por cima de uma atribuição que é do Executivo e que estaria cerceando o poder de polícia municipal, vinculada também ao Executivo. Ou seja, ele alegou inconstitucionalidade.
Aplausos
A decisão gerou reações positivas nas redes sociais, visto que Goiânia é uma das 235 cidades de Goiás em situação de calamidade e cujos leitos de UTI para pacientes da Covid-19 estão com ocupação próxima dos 90%.
Na sexta-feira (26/2), em reunião emergencial, ficou decidida a adoção de medidas mais restritivas, como o fechamento do comércio, para conter o avanço do coronavírus em Goiânia e cidades da região metropolitana.
Frustração
Pouco tempo depois, no entanto, veio a notícia de que ele havia enviado novo projeto à Câmara, com teor semelhante, reconhecendo a essencialidade da atividade religiosa. A única diferença é que mantém no Executivo a prerrogativa de autorizar ou não a abertura dos templos e igrejas de acordo com o quadro epidemiológico da cidade.
No texto do veto publicado no Diário Oficial do Município, já era possível notar isso. Rogério Cruz incluiu, entre os argumentos, observação sobre a importância do funcionamento das atividades religiosas.
“Como é sabido, a espiritualidade tende a ser um recurso importante para muitas famílias, podendo contribuir no enfrentamento aos desafios da vida, na adaptação e na resiliência às perdas. Portanto, a espiritualidade costuma favorecer a maneira de lidar com situações adversas, como o luto, de modo que pode ser fortalecida nesse contexto”, frisa o texto do veto.
Pressão
Além de ser religioso e pastor evangélico, o que gerou curiosidade sobre como o prefeito se comportaria diante dessa questão, houve ainda muita pressão nos bastidores. Em postagens nas redes sociais, as manifestações de figuras ligadas à igreja foram imediatas. Bastou o decreto com medidas mais restritivas ser anunciado no sábado (27/2).
Um dos que se manifestaram foi o deputado federal Francisco Júnior (PSD), que é ligado à igreja católica e postou um vídeo esta semana fazendo apelo às autoridades para que as igrejas fossem autorizadas a seguir funcionando.
“As igrejas têm um importante papel no auxílio às pessoas durante a pandemia. Tanto que deputados e vereadores já aprovaram leis reconhecendo a atividade religiosa como essencial e percebo todas as igrejas sendo muito cuidadosas com protocolos de segurança. Venho solicitar para as autoridades responsáveis que possam liberar as atividades religiosas, as missas e os cultos”, disse ele.
A atividade religiosa é essencial! Faço aqui um apelo as autoridades responsáveis pelo controle das atividades em todas as cidades do nosso Estado, que mantenham as atividades religiosas liberadas com todos os protocolos de segurança possíveis. #AtividadeReligiosaÉEssencial pic.twitter.com/yh0AznoRl6
— Francisco Jr (@franciscojr_go) February 28, 2021
O deputado recebeu muitas críticas e comentários de pessoas que reprovaram o posicionamento dele, em pleno auge da pandemia em Goiás, mas manteve o argumento.
Além dele, padres católicos também se manifestaram na internet. Um deles, foi o padre Luiz Augusto Ferreira da Silva, que faz campanha on-line, com o slogan: “Católico não vive sem missa, sem o corpo e sangue de Jesus”.
Luiz Augusto é pároco na Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, em Aparecida de Goiânia. Ele lançou até uma petição para que os religiosos assinem e se manifestem contrários à proibição das celebrações.
Em vídeo publicado no Facebook, o padre diz: “Sem eucaristia, não podemos viver. Altar é onde celebramos a vida e recebemos a vida de Jesus. Então, senhores governantes, juízo para os senhores. Somos um povo que temos direito de celebrar a eucaristia, celebrar a vida”.
O novo projeto segue para apreciação dos vereadores. O que se sabe, até o momento, é que as medidas restritivas adotadas e que serão reavaliadas a cada sete dias devem ser mantidas por pelo menos mais uma semana na capital goiana e nas cidades da região metropolitana. Ainda não se atingiu o efeito desejado.